Hoje recebi a foto de um grande amigo, irmão de trincheira, Ubiratan de Paula Santos. Um sobrevivente.
Médico, pneumologista, está se recuperando da covid-19. Caiu doente há quase trinta dias, foi internado há quinze no Hospital das Clínicas de São Paulo. Uma semana na UTI, alguns dias entubado.
Houve um momento no qual ficamos todos – familiares, amigos e companheiros – sem ar, com o coração na boca. O Bira, como quase todos o chamam, caía no precipício dessa doença cruel.
Sempre sarcástico, pouco antes de ir para a UTI me escreveu que estava caindo do 20º andar, que tinha passado pelo 15º e, por enquanto, estava tudo sob controle.
Salvou-se por um triz, lá pelo terceiro andar. Graças à sua histórica fortaleza pessoal, mesmo aos 68 anos, e à competência dos médicos que dele estão cuidando.
“Fui tomar um drinque no inferno e voltei”, me narrou no primeiro áudio depois de ser extubado.
Somente ao ver seu retrato, mesmo magro e fraco, tive certeza que estava fora de perigo.
O Bira provou ser, outra vez mais, um guerreiro, de quem me orgulho ser companheiro há quase quarenta anos.
Dirigente comunista nos anos 70 e 80, braço-direito do nosso inesquecível David Capistrano da Costa Filho no comitê estadual do PCB em São Paulo, foi um dos que comandou nossa entrada no PT, em 1986. Além de médico genial e generoso, é um gestor público dos mais qualificados e um quadro político dos mais raros.
Assim que estiver razoavelmente recuperado, certamente voltará à linha de frente contra o coronavírus, onde adoeceu, e ao seu lugar de combate pelas grandes causas da classe trabalhadora.
Andar por andar, o Bira está subindo as escadarias.
Esse é um valente. Não dobra, nem quebra.