Medicamentos desenvolvidos no Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba (CIGB) vêm mostrando resultados positivos no tratamento de pacientes com a covid-19 e ganharam destaque no combate à pandemia.
O antiviral Interferón alfa 2B recombinante (IFNrec), comumente utilizado para tratar casos de hepatite tipos B e C, teve um papel importante tanto na prevenção, quanto no tratamento de pacientes contagiados pela covid-19, tendo sidoutilizado tanto em Cuba como na China, por meio de uma parceria entre os dois países.
Em entrevista a Opera Mundi, Gerardo Guillen, diretor de pesquisas biomédicas do CIGB, afirmou que todos os médicos que participam das brigadas cubanas no combate à pandemia em outros países receberam doses de Interferón e nenhum deles foi infectado.
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“Começamos a utilizar o Interferón em Cuba por via nasal, que é a que tem menos efeitos colaterais, para proteger todas as brigadas médicas cubanas que foram ao estrangeiro para apoiar no combate a epidemia. A informação que temos até agora é que nenhum profissional médico cubano em contato com os pacientes que essas brigadas atendem foi infectado”, disse o especialista.
Descoberto em um laboratório na Finlândia em 1972, o Interferón começou a ser produzido em Cuba em 1981, por incentivo do então presidente Fidel Castro para buscar medicamentos contra o câncer. O medicamento é utilizado na China contra a covid-19 desde o dia 25 de janeiro e produzido por uma planta mista na cidade chinesa de Changchun.
Já nos pacientes em Cuba, o Interferón foi introduzido “desde as primeiras etapas da pandemia, em março, em pacientes suspeitos, que são os que apresentam sintomas e tiveram contato com possíveis pacientes positivos. Em todos esses pacientes se começou a utilizar o Interferón por via subcutânea três vezes por semana”, afirmou Guillen. Hoje, o medicamento é utilizado em todos os pacientes com a covid-19.
‘Cloroquina, sozinha, não tem nenhuma vantagem’
O especialista ainda afirmou que, em comparação com o uso somente da cloroquina, medicamento elogiado por Trump e Bolsonaro mesmo sem comprovação científica de eficácia, o Inerferón se mostrou mais eficiente, embora sejam utilizados de forma combinada para pacientes positivos.
“Nós temos dados em Cuba e dados internacionais onde foi comparado o uso do Interferón combinado com a cloroquina em relação ao uso somente da cloroquina, e ficou demonstrado que a cloroquina sozinha não tem nenhuma vantagem”, afirmou.
“Confirmamos que, no sétimo dia, após receber três doses de Interferón diárias, entre 70% e 80% dos pacientes negativam para covid-19, e 40% deles negativam no quarto dia”, disse o médico cubano.
Na área de prevenção, o especialista afirmou que o CIGB concluiu um estudo de uma vacina que serve para estimular a imunidade inata e diminuir os riscos de contágio.
CIGB
Medicamentos contra covid-19 são desenvolvidos no Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba
“Começamos o estudo em pessoas maiores de 60 anos que haviam sido classificadas como suspeitas por contato [com contagiados] e, nesses pacientes, foi administrado uma vacina chamada CIGB-2020 por via nasal e sublingual que já demonstramos que estimula diferentes marcadores de ativação de imunidade inata, tanto a nível de muscosa nasofaríngea, quanto a nível sistêmico”, disse.
Sobre uma vacina efetiva contra a covid-19, Guillen afirmou que os estudos de várias alternativas continuam a longo prazo, em diversos níveis.
“Uma vacina, um produto totalmente novo, deve passar por todas as etapas de desenvolvimento de um produto e não se pode saltar etapas. Portanto, é um projeto que vai levar mais tempo. Temos várias estratégias de vacina em desenvolvimento e vários grupos de pesquisa trabalhando nessa vacina”, disse.
Jusvinza
Um peptídeo criado a partir de uma proteína celular, chamado Jusvinza, também vem ganhando destaque no protocolo cubano de combate ao coronavírus.
Com o objetivo de aumentar a resposta imunológica do paciente com covid-19, a droga é administrada de forma intravenosa a cada 12h em pacientes com respiradores mecânicos, e a cada 24h em pacientes fora dos ventiladores.
Segundo María del Carmen Domínguez Horta, chefe do projeto de imunidade do CIGB e uma das responsáveis pelo Jusvinza, o medicamento entrega resultados positivos nos pacientes nos quais foi administrado.
“Até essa data, foram tratados 54 pacientes em Cuba com o Jusvinza, 23 deles em estado crítico, que respiram com auxílio de ventiladores. A taxa de sobrevida desses foi de 78%, resultados muito alentadores, enquanto os que não tomaram o medicamento possuem uma taxa entre 20% e 30%”, disse.
Heberferón
Outro medicamento utilizado em pacientes positivos para coronavírus em Cuba foi o HeberFERON, fármaco também desenvolvido no CIGB e utilizado no combate ao câncer de pele.
Segundo Iraldo Bello, especialista que comanda o projeto, o HeberFERON consiste em uma combinação entre o o Interferón alfa 2B com o Interferón Gama e demonstrou resultados positivos em negativar os casos de covid-19 no país.
“O resultado foi realmente impressionante pela rapidez com que esse produto pôde negativar o vírus. Em 48h, o HeberFERON negativou 40% dos pacientes, e em 96h tivemos aproximadamente uma negativação de 80%”, disse o especialista.
O número é ainda maior se contabilizados apenas os pacientes sintomáticos, uma vez que o HeberFERON é utilizado tanto em pacientes, com sintomas quanto em assintomáticos. “O resultado é de ceca de 90% de negativação do vírus em pacientes sintomáticos, um resultado realmente impressionante”, disse Bello.
De acordo com o diretor do CIGB, Eulogio Pimentel Vázquez, o objetivo em combinar dois tipos de Interferón que compõem o Heberferon é atuar na velocidade de estímulo da imunidade, a fim de agir no organismo para combater infecções virais como o novo coronavírus.
“Já havíamos falado do papel antiviral do Interferón alfa 2b. O Interferón Gama também faz parte dessa resposta de imunização inata, que é o primeiro mecanismo de defesa ante uma enfermidade viral. Ao se combinar esses dois tipos de Interferón, faz-se com que haja mais resposta imediata e, por sua vez, o Interferón Gama prepara o sistema imunológico para que os mecanismos que estimulem a criação de anticorpos aceitem esse estímulo mais rápido”, disse Vázquez.