O papa Francisco pediu, nesta quarta-feira (19/08), que as futuras vacinas contra o coronavírus não se destinem primeiro “aos mais ricos”. A declaração do sumo pontífice é feita em um momento em que a pandemia não para de aumentar as desigualdades no mundo.
Há mais de seis meses, Jorge Bergoglio, conhecido por manter um contato direto com os fieis, não passeia mais de papamóvel pela praça São Pedro, como costuma fazer. Para evitar aglomerações diante do Vaticano, ele transmitiu a audiência ao vivo de sua biblioteca privada no Vaticano. Durante o discurso, o papa tentou conscientizar o planeta sobre o impacto da pandemia, principalmente entre os mais pobres, que podem ser esquecidos na corrida pelas vacinas contra o vírus.
“Seria triste se a prioridade da vacina da covid-19 fosse dada aos mais ricos. Seria triste se isso se transformasse na prioridade de uma nação e não fosse destinado a todos”, disse o papa. “E que escândalo seria se toda a ajuda econômica, grande parte dela procedente dos cofres públicos, fosse usada para salvar as empresas que não contribuem para a inclusão”, alfinetou.
“A pandemia é uma crise e de uma crise não saímos iguais: ou saímos melhores ou saímos piores. Deveríamos sair melhores, para melhorar a injustiça social e a degradação do meio ambiente”, acrescentou. “É preciso mudar o mundo”, insistiu, destacando que a economia deve focar nas pessoas, principalmente as mais pobres.
Pontifical Council for Promoting the New Evangelization/FlickrCC
Durante o discurso, o papa tentou conscientizar o planeta sobre o impacto da pandemia
Segundo Francisco, a pandemia expôs a difícil situação dos pobres no mundo. “O vírus não tem exceções e encontrou grandes desigualdades e discriminações em seu caminho devastador e as fez crescer”, lamentou o papa.
Vírus deixou o mundo de joelhos
Para Francisco, a batalha atual deve ser travada em duas frentes: “Por um lado, é preciso encontrar um remédio para este vírus minúsculo mas terrível, que colocou o mundo de joelhos. Por outro, temos que nos curar de um vírus muito grande, o da injustiça social, da desigualdade, da marginalização e da falta de proteção para os mais fracos”.
“A opção preferencial pelos pobres está no centro do Evangelho”, lembrou o papa, acrescentando que não se deve levar em consideração nenhuma preferência política ou ideológica.
Diante da corrida para encontrar um tratamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que é preciso evitar o “nacionalismo das vacinas”. Várias experiências estão em fase de testes atualmente para imunizar as pessoas contra a covid-19, doença que já matou mais de 774.000 pessoas no mundo desde dezembro.