Atualizada às 17h42
O presidente dos EUA, Donald Trump, que anunciou que testou positivo para o novo coronavírus, passou as últimas 24 horas em situação “muito preocupante” na sexta-feira (02/10), afirmou neste sábado (03/10) à agência AP o chefe de Gabinete da Casa Branca, Mark Meadows.
“Os sinais vitais do presidente nas últimas 24 horas foram muito preocupantes e as próximas 48 horas serão críticas em termos de seu tratamento. Nós ainda não estamos em um caminho claro de recuperação”, disse Meadows, antes creditado como “fonte familiarizada com a saúde do presidente”.
No jargão jornalístico, este tipo de declaração, sem citação do nome da fonte, é chamada de off, e serve para proteger a identidade de quem revelou a informação. É muito comum que os repórteres da Casa Branca recebam declarações em off, que servem para municiar a imprensa com contextos ou, mesmo, para revelar informações previamente desconhecidas.
Neste caso específico, todos os repórteres que cobrem a sede do governo receberam a mesma informação, da mesma pessoa. O repórter Jim Acosta, da CNN, chegou a publicar no Twitter o briefing (uma espécie de resumo) que os repórteres da Casa Branca receberam, pedindo para creditar a informação à “fonte familiarizada com a saúde do presidente”:
The print pool received the quote as well. It’s astounding that this quote was put on background. WH needs to clear this up ASAP. https://t.co/IDFeREkGkb pic.twitter.com/WS4PNH6Ree
— Jim Acosta (@Acosta) October 3, 2020
Oxigênio
Trump também teria recebido oxigênio ainda na sexta, dentro da Casa Branca, antes de ser internado.
A revelação pode indicar que o estado de saúde do presidente é mais grave do que previamente divulgado. O republicano está no grupo de risco: além da idade, ele está acima do peso, no limite da obesidade, mesmo tendo um estado geral de saúde considerado bom.
Para piorar, declarações do médico que cuida do presidente, Sean Conley, adicionaram mais uma camada de confusão em relação à saúde de Trump. Segundo Conley, Trump não havia recebido oxigênio “nesta manhã” e não estava “no momento”. Os repórteres perguntaram insistentemente se o mandatário havia recebido oxigênio em qualquer momento, mas Conley se limitou a repetir que isso não havia acontecido “nesta manhã”.
Tia Dufour/Casa Branca
Sinais vitais de Trump estavam em marcas muito preocupantes, disse fonte à imprensa dos EUA
Na mesma entrevista, Conley afirmou que Trump estava com coronavírus há 72 horas – mas o próprio presidente só revelou que estava infectado por volta da 1h da manhã (2h em Brasília). Isso indicaria que Trump sabia do seu diagnóstico desde quinta (01/10). A Casa Branca disse que Conley se confundiu com as datas.
Pouco depois da entrevista do médico, o presidente foi ao Twitter, como de costume, e elogiou os médicos e enfermeiros que o tratam. Ele voltou a chamar o coronavírus de “praga”.
“Médicos, enfermeiros e todos no ótimo Centro Médico Walter Reed, e outros de igualmente incríveis instituições que se juntaram a eles, são maravilhosos!!! Progressos tremendos foram feitos nos últimos seis meses na luta contra essa PRAGA. Com sua ajuda, estou me sentindo bem”, escreveu.
Doctors, Nurses and ALL at the GREAT Walter Reed Medical Center, and others from likewise incredible institutions who have joined them, are AMAZING!!!Tremendous progress has been made over the last 6 months in fighting this PLAGUE. With their help, I am feeling well!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 3, 2020
Sintomas
Trump foi hospitalizado no fim da tarde desta sexta em um hospital militar próximo a Washington. De acordo com a Casa Branca, ainda na sexta, o presidente havia sido levado ao Centro Médico Walter Reed “como medida de precaução” e deveria ficar hospitalizado “por alguns dias”. Ainda segundo o governo, Trump teria naquela oportunidade “sintomas leves”, como febre e cansaço.
“O presidente Trump está bem disposto, tem sintomas leves e tem trabalhado ao longo do dia”, disse a porta-voz Kayleigh McEnany. “Por uma abundância de precaução, e sob a recomendação de seu médico e de outros especialistas, o presidente vai trabalhar do escritório presidencial no [Centro Médico] Walter Reed nos próximos dias. O presidente agradece a abundância de apoio que ele e a primeira-dama têm recebido.”
Em um vídeo publicado no momento em que o helicóptero de Trump pousou no centro médico, o presidente disse que se sentia bem e que estava indo ao Walter Reed para se certificar de que tudo “daria certo”.
Além dele e da primeira-dama Melania Trump, tiveram resultado positivo para covid-19 sua conselheira Hope Hicks, outros sete assessores e ex-assessores, além de repórteres que cobrem a Casa Branca e funcionários da sede do governo.
Hicks viaja com frequência ao lado do presidente norte-americano a bordo do avião presidencial Air Force One. Ela o acompanhou até Ohio na terça-feira para o debate presidencial, no Estado de Minnesota, e para participar de um evento de campanha.