A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi, neste domingo (17/01), a primeira pessoa vacinada no Brasil, logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial de vacinas no Brasil. Calazans, que foi imunizada com a Coronavac, desenvolvida em uma parceria com a chinesa Sinovac e com o Instituto Butantan.
Calazans trabalha no Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, e fez parte do grupo placebo de testes da Coronavac. Ela, que mora em Itaquera, zona Leste da capital paulista, faz parte do grupo de risco para a covid-19, por ser diabética e hipertensa.
Segundo a Folha de S.Paulo, o irmão da enfermeira chegou a ficar internado por 20 dias após ser infectado com o coronavírus.
O governador paulista João Doria (PSDB) aproveitou para faturar politicamente com o evento – estava ao lado de Calazans na hora da vacina e parece ter se emocionado com a imunização. Ele disputava, com o presidente Jair Bolsonaro, a “foto” da primeira vacina a ser aplicada no país.
Por sua vez, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, antecipou em uma hora uma entrevista que daria à imprensa para poder concorrer com a coletiva de Doria. O ministro sugeriu que o governo paulista pode sofrer consequências jurídicas por ter aplicado a vacina hoje.
“Por força de lei (…), as doses serão distribuídas aos Estados e entregues simultaneamente. Qualquer movimento fora dessa linha está em desacordo com a lei. Ponto. Não podemos dividir nosso povo”, disse. Segundo Pazuello, a distribuição das doses da Coronavac – já que não conseguiu trazer as doses da Índia – deve começar nesta segunda, às 7h.
Aprovação da Anvisa
A Anvisa aprovou por unanimidade neste domingo (17/01) o uso, em caráter emergencial, das vacinas Coronavac e da de Oxford (cuja pesquisa foi desenvolvida junto com a britânica AstraZeneca e com produção pela Fiocruz).
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Mônica Calazans foi a primeira pessoa contra covid a ser imunizada no Brasil
Ambos imunizantes receberam aprovação das três áreas técnicas da agência. Elas destacaram questões a serem acompanhadas tanto na Coronavac, quanto na de Oxford, tais como falta de informações dos laboratórios e as práticas de acompanhamento de eventuais eventos adversos.
Os dois desenvolvedores se comprometeram, por exemplo, com um sistema de notificação rápido no caso de problemas de saúde não esperados nas pessoas que vierem a ser imunizadas.
Com o ok das áreas técnicas, os cinco diretores da Anvisa – todos indicados pelo presidente Jair Bolsonaro – passaram à votação. O primeiro voto foi o da relatora Meiruze Freitas, que deu posição favorável à utilização, mas condicionou a autorização da Coronavac à assinatura e publicação no Diário Oficial um “termo de compromisso” por parte do Instituto Butantan. O termo já foi assinado pelo órgão.
“Quanto à vacina Coronavac, desenvolvida pelo instituto Butatan, voto pela aprovação temporária do seu uso emergencial condicionada a termo de compromisso e subsequente publicação de seu extrato no DOU. Quanto à vacina solicitada pela Fiocruz, voto pela aprovação temporária de seu uso emergencial referente a 2 milhões de doses”, disse.
O segundo voto foi do diretor Romison Mota e o terceiro, que garantiu a aprovação, foi dado pelo diretor Alex Campos. O quarto foi dado por Cristiane Rose Jourdan e o último, por Antonio Barra Torres, diretor-geral da agência.
Barra Torres já apareceu ao lado de Bolsonaro, sem máscara, em um protesto a favor do presidente, mas, hoje, parece ter mudado de opinião. “Use máscara, mantenha o distanciamento social, higienize as mãos”, afirmou, durante seu voto.