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Coronavírus

'Vacinagate': o escândalo dos furadores de fila do Peru

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Quase 500, incluindo figuras públicas conceituadas, passaram à frente na prioridade da vacinação contra a covid-19

Oliver Pieper

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2021-02-22T22:32:00.000Z

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O ex-presidente, sua esposa, seu irmão, a ministra do Exterior, a ministra da Saúde, seu motorista, o marido de uma congressista, dois reitores de uma universidade, agroindustriais, até o embaixador do Vaticano e arcebispo: a lista dos furadores da fila da vacinação no Peru abarca 487 nomes.

Todos receberam o imunizante contra a covid-19 da empresa chinesa Sinopharm antes da hora, de forma secreta e ilegal, e um quarto deles é funcionário do Estado peruano. "Vacinagate" é o sensacionalista apelido dado pelas mídias nacionais ao escândalo.

E assim como o caso Watergate, em 1972, envolvia mais do que o assalto à sede do Partido Democrata americano, em Washington, também na república andina trata-se de muito mais do que o delito trivial de passar à frente do pessoal de saúde.

Pois se, mesmo antes da crise do coronavírus, a confiança dos peruanos em seus políticos já era muito baixa, devido a numerosos escândalos de corrupção, agora ela tende a zero. Isso, justamente em plena pandemia do século, e a menos de dois meses das eleições presidenciais e legislativas de 11 de abril.

Desculpas deslavadas

"Os peruanos estão muito decepcionados. Antes tínhamos situações mafiosas nos governos, com conexões com o narcotráfico. O povo esperava que os novos responsáveis fossem diferentes", afirma Mayte Dongo, historiadora e cientista política da Universidade Católica do Peru, em Lima. Contudo o pior talvez seja que esses "espertalhões" servem de espelho para a população: "Muitos peruanos possivelmente teriam agido exatamente assim."

Em agosto de 2020, a farmacêutica chinesa Sinopharm realizou um amplo estudo de fase 3 de seu imunizante, em 125 países, inclusive o Peru. Embora o produto já esteja em uso na Sérvia, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda está estudando a autorização.

Após o estudo no Peru, sobraram 3.200 doses da vacina. E muitos políticos se aproveitaram. "É claro que a população associa o escândalo ao novo governo", diz Dongo. Não com Francisco Sagasti, eleito chefe de Estado interino pelo Congresso Nacional, em meados de novembro. Mas sim com a ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, e a do Exterior, Elisabeth Astete. Ambas já se demitiram e estão ameaçadas de até oito anos de prisão.

Talvez os peruanos tivessem perdoado, até certo ponto, as furadoras de fila, mas não o descaramento com que elas tentaram se eximir da culpa. Astete argumentou que, "como ministra do Exterior, eu não podia me dar ao luxo de ficar doente". Porém sua colega de gabinete Mazzetti foi ainda mais longe.

"Nós, que encabeçamos as instituições, devemos dar o exemplo e esperar decentemente pelo nosso momento. Na verdade, minha vez é na semana que vem, mas o capitão é o último a abandonar o navio, certo?", alegou numa coletiva de imprensa, dez dias atrás. Só que, poucos dias depois, a responsável pela Saúde teve que admitir que fora a primeira a saltar para o bote salva-vidas, vacinando-se às escondidas.

Dongo não está especialmente surpresa com a conduta dos políticos: "Antes de a vacina chegar, os cidadãos já estavam dizendo: 'Prestem atenção com a vacina, pois tem gente que vai furar a fila'", conta a cientista política.

Ela teme consequências sérias para o próximo pleito. "Muitos políticos jogaram fora a confiança depositada neles, e possivelmente já vamos sentir isso em abril, nas eleições. Como a população está farta, ela poderá eleger um candidato sem nada a ver com o establishment. E isso é perigoso, pois o populismo pode se aproveitar."

PresPeru/ Fotos Públicas
Lista dos furadores da fila da vacinação no Peru abarca 487 nomes

Peru não é caso isolado

Cabe notar que o ocorrido no Peru também acontece diariamente pelo mundo afora. Na Alemanha e na Áustria, os prefeitos passam à frente para tomar a vacina anti-covid; na Espanha, a liderança militar e o bispo de Maiorca; na Polônia, o ex-primeiro-ministro; no Reino Unido, um parlamentar conservador.

Assim como, na encomenda dos imunizantes, os países industrializados tratam de se garantir, sem consideração pelos demais. Na vacinação são os representantes das camadas superiores que usam suas conexões para receber logo a sua dose.

Ainda assim, para o neurobiólogo Edward Málaga-Trillo o caso do Peru é ímpar. "Por um lado, a dimensão é muito maior; por outro, não só políticos, mas também cientistas e médicos estavam entre os vacinados, gente que deveria saber melhor que ninguém a fronteira ética que estava ultrapassando. Acima de tudo, porém, isso acontece num país que chegou a ter o maior número de mortos em relação à população, que sofreu com o vírus como poucos outros", pondera.

Até o momento, mais de 44 mil já morreram no Peru em consequência de uma infecção com o vírus Sars-Cov-2. Isso coloca o país, com seus 33 milhões de habitantes, na oitava colocação dessa triste estatística da pandemia. O "Vacinagate" é um tapa na cara também para médicos e pesquisadores.

Danos à ciência

Para Málaga-Trillo, que atuou como pesquisador na Alemanha por mais de dez anos e esteve no front avançado durante a primeira onda da pandemia, o caso chega a ser uma "ofensa pessoal". Até o ano 2000, o neurobiólogo se dedicava à pesquisa de base sobre a doença de Alzheimer, com 3 mil peixes-zebra, em seu laboratório.

Com a eclosão da pandemia, ele mudou de foco, desenvolvendo testes moleculares rápidos de coronavírus. Para tal, assume um grande risco pessoal, juntamente com sua equipe: enquanto a maioria dos peruanos permanece em casa, em confinamento, os jovens pesquisadores vão às ruas e trabalham dia após dia com amostras do vírus.

"E aí você fica sabendo que alguns privilegiados, que não estão expostos a nenhum perigo, tomaram a vacina. Dá um sentimento de que todos os sacrifícios que se faz pelo país não são valorizados, e na verdade de nada valem."

Para Trillo, o "Vacinagate" é a quarta crise que atinge simultaneamente o Peru: à pandemia e aos apuros econômicos e políticos, junta-se agora uma crise moral. "Mesmo o Ministério da Saúde, que tem a responsabilidade pelo combate à pandemia e deveria ser um exemplo, não coloca seus interesses pessoais em segundo plano. Ou seja, as pessoas que deveria proteger a população peruana pensam primeiro em si."

As consequências são devastadoras, em especial para o centro de pesquisas do neurobiólogo: sua Universidade Peruana Cayetano Heredia era considerada instituição de elite na pesquisa da pandemia, altamente conceituada nos meios científicos. No entanto, como os testes para a Sinopharm foram realizados lá, agora ocorrem renúncias em massa, verbas de pesquisa estão retidas, possivelmente não se poderá mais realizar estudos clínicos na universidade.

"Essas pessoas também sujaram a ciência, esse é um golpe duro para o futuro do combate ao coronavírus", queixa-se Málaga-Trillo. Certo está que o "Vacinagate" serve, desde já, como uma advertência global contra os furadores de fila da vacinação. Contudo ele teme que este só seja o começo do escândalo. "A coisa ainda não acabou. Estamos todos ansiosos para saber que nomes e surpresas os próximos dias ainda vão trazer", acrescenta.

Saúde

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Política e Economia

Venezuela: Parlamento convoca Guaidó para depor sobre danos causados ao país durante mandato

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Ex-deputado, que se autoproclamou presidente, e 61 aliados são acusados de atos como formação de quadrilha e tentativa de golpe de Estado

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2021-03-05T21:21:00.000Z

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A Assembleia Nacional da Venezuela informou nesta quinta-feira (04/03) que vai convocar Juan Guaidó, ex-deputado de direita, e outros 61 aliados do autoproclamado presidente para depor sobre casos de corrupção que ocorreram na legislatura anterior, eleita em 2015. 

O presidente da Comissão Especial do Parlamento, José Brito, investiga “danos à nação” cometidos entre 2016-2021 a partir de um relatório preliminar apresentado ao plenário da Assembleia Nacional. Ele solicitou que os envolvidos compareçam para depor na próxima semana. Brito também pediu uma prorrogação de 45 dias para a continuidade da investigação.

“Essa é uma investigação muito séria e demonstra dois cenários: toda a população foi enganada repetidamente através das redes sociais. Isso também incidiu em uma parte da comunidade internacional e digo apenas uma parte porque a outra é responsável pela crise ", pontuou.

Na lista dos convocados para prestar depoimento estão 37 autoproclamados “representantes diplomáticos” de Guaidó, ex-presidente do Parlamento, durante o período em que ele se autoproclamou “presidente interino". 

Também estão convocados diversos advogados que atuaram como assessores do ex-deputado, como Enrique Sánchez Falcón e José Ignacio Hernández. Parte deles estão no exterior, como Leopoldo López, liderança da direita venezuelana e acusado de comandar tentativas de golpe de Estado no país. Esposas de dirigentes também serão convocadas.

Fotos Públicas
Ex-deputado é acusado de atos como formação de quadrilha e tentativa de golpe de Estado

Durante a apresentação do relatório, o controlador-geral da República, Elvis Amoro disse que "nunca tivemos em nossa história atos de corrupção como esses cometidos por Juan Guaidó e sua gangue. Eles se enriqueceram às custas da nação”.

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, publicou em seu Twitter um trecho do discurso de Amoroso no plenário. "Mesmo que os corruptos estejam presos, temos que encontrar uma forma de ressarcir o dano patrimonial causado", disse.

Guaidó é acusado formação de quadrilha para cometer crime, crime organizado, traição, usurpação de funções e tentativa de golpe. No início deste ano, Opera Mundi listou as principais polêmicas e acusações que envolveram Guaidó nos seus dois anos de autoproclamação. 

* Com Telesur 

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