A Armênia tem atualmente cerca de 15% da população totalmente vacinada contra a covid-19 e é o país com as taxas mais baixas de imunização da região do Cáucaso. O motivo para esse baixo índice, segundo a médica Gayane Sahakyan, que administra o programa nacional de imunização do país, é a desinformação e o uso político das vacinas, o que gera desconfiança entre os armênios.
“O ceticismo com vacinas tem uma história na Armênia”, declarou Sahakyan em entrevista à emissora Al Jazeera. De acordo com a especialista, partidos de oposição tentam capturar temas relacionados à imunização para se posicionar de forma contrária ao governo, mesmo antes da pandemia.
O partido Aliança Armênia, maior grupo de oposição no Parlamento do país, chegou a emitir um comunicado em setembro se opondo a protocolos para o combate da pandemia, inclusive entrando com pedido de suspensão do regulamento governamental no Tribunal Constitucional do país.
“A principal preocupação das pessoas é a segurança e a eficácia, pois são vacinas novas. Alguns pensam que são muito novas, outros que são uma ferramenta global para controlar a população”, disse a médica. Efeito disso é que a média de mortos por dia no país gira em torno de 30 pessoas – número considerado grande para uma população de três milhões de pessoas.
Sahakyan explica ainda que, médicos e profissionais da área têm sido fundamentais na divulgação de desinformação sobre a segurança e o papel das vacinas contra a covid-19. “Na Armênia, a única coisa nova [com a covid] é que os partidos políticos agora usam médicos para transmitir esta mensagem [de desconfiança]”, afirmou.
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Yerevan é capital do país com as menores taxas de vacinação do Cáucaso
Uma dessas pessoas é o patologista Samvel Grigoryan, que tentou dar peso a uma teoria da conspiração que tem circulado amplamente durante a pandemia, afirmando falsamente que as vacinas foram criadas com tecnologia usada pela engenharia genética e podem colocar em risco a saúde reprodutiva.
No início de outubro, o país estabeleceu restrições para estimular a imunização contra o coronavírus, já que naquele momento apenas 5% da população havia se vacinado. A realização de testes PCR passou a ser obrigatória para funcionários do setor público e privado duas vezes ao mês, sendo que os próprios trabalhadores devem pagar pelo exame – que custa em torno de US$ 20.
Em seguida, uma atualização da regra estabeleceu que os PCRs devem ser realizados de forma semanal, o que resulta em custos de US$ 80, ou seja, em média 20% do salário médio dos armênios, que é US$400.
Outro fator que prejudica a campanha de vacinação da Armênia são as consequências da guerra do ano anterior com o Azerbaijão por causa do enclave de Nagorno-Karabakh. Tropas locais da região apoiadas pela Armênia queriam autonomia frente à postura intervencionista do governo azeri. O estresse e sentimentos de insegurança deixaram os moradores próximos à área apáticos em relação à pandemia.
Nagorno-Karabakh, território autônomo com população de maioria armênia, se declarou independente em 1991 da República Socialista Soviética do Azerbaijão. Tal episódio levou a confrontos militares que duraram até 1994, quando ambos os lados concordaram em começar conversações para atingir a paz, mediadas pelo Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Nagorno-Karabakh permaneceu sendo uma república não reconhecida, e as relações entre Baku e Erevan têm permanecido tensas.