Em Sydney
Existe um componente surpreendente na vida australiana, que é um certo flerte cotidiano com os anos 80. Sabe quando você sonha e mistura fatos da sua infância com acontecimentos contemporâneos? É por aí.
Não é uma reclamação, é curiosidade. Começa na maneira como as pessoas se vestem: homens usando bermudas e meias até os joelhos, o que uma vez convencionei chamar de estilo “aposentado do Banco do Brasil”. O plus-a-mais (sic) são as camisas-pólo com a gola pra cima, para o sol não queimar o cangote. Adolescentes cultivam cabelão de fã clube do Angra, e essa semana vi um guri de uns 13 anos com mullets tão oitentistas que por um momento jurei tê-lo encontrado na fila da merenda no EEPG Antonino Messina em 1989.
Todo mundo usa calça pra cima do umbigo. Jeans feminino é de cintura alta. O verão já chegou e mulheres de todas as idades ostentam suas VISEIRAS enquanto fazem cooper na praia.
As casas têm carpetes e eu odeio carpetes — isso, sim, é uma crítica. Alugar um apartamento sem carpete é improvável. Não existe defesa possível do chão acarpetado em um lugar onde o verão bate 40 graus. Eles culpam o frio do inverno, mas qualquer aquecedor fajuto resolve, e todo mundo tem um. No Brasil, os anos 90 vieram para exterminar a moda dos carpetes, pelo qual sou muito grato.
Três das cinco rádios musicais mais ouvidas de Nova Gales do Sul só tocam “embalos quentes” dos anos 70, 80 e 90, com ênfase nos 80. Um desavisado musical que ligue o rádio por aqui vai pensar que “Bad”, do Michael Jackson, ou “Gipsy”, do Fleetwood Mac, são os hits do verão. Ouço rádio uns 30 minutos por dia ao dirigir e rigorosamente todos os dias ouço Abba ou Roxette. De tanto ouvir, “Karma Chameleon” (Culture Club) é a música predileta do Leonel no momento.
Dia desses estava no supermercado quando a rádio, completamente desprovida de senso estético, mandou uma do New Kids on the Block, que eu não ouvia há pelo menos 25 anos. A revolta durou menos de dois minutos: surpreendi-me simpatizando com o que ouvia. Mas vou parar por aqui pois tenho uma reputação a zelar.
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Adolescentes cultivam cabelão de fã clube do Angra, e essa semana vi um guri de uns 13 anos com mullets