Comprar o que for em tempos de inflação perpétua implica em um gasto econômico enorme, mas também em uma disposição mental para ser capaz de detectar com eficácia as voláteis oportunidades lançadas pelos bancos, lojas virtuais e comércios. Os telefones se abarrotam de ícones com aplicativos de desconto que vão impondo um calendário próprio e também os mapas móveis para transitar por cada bairro, e pela cidade toda.
Estes cinco relatos abaixo mostrar realidades que estão se tornando cada vez mais comuns na Argentina, mas que também podem ser observadas em diversos países do mundo.
Camiseta do Boca
Para mim, buscar benefícios ou promoções não é estressante, ao contrário, entre um paciente e outro vou olhando ofertas. A última compra que fiz foi uma máquina de refrigerante que apareceu no Instagram, com a promoção de uns 30% de desconto se a comprasse naqueles dias. Também chegam mails com descontos em locais de esportes e lojas esportivas.
Outro dia fizemos uma compra de 360 mil pesos (cerca de R$ 2 mil) com o aplicativo MODO. Dividimos em nove parcelas e obtivemos 30% de desconto. Minha namorada comprou dez peças de vestuário e devolveram a ela 40 mil (R$ 230). Eu comprei para mim calças, camisetas, meias esportivas que estava precisando e a camiseta negra do goleiro do Boca Juniors que saiu por 85 mil pesos (R$ 490). Com os descontos, me devolveram cerca de 35 mil pesos (R$ 200). Eu finjo que não me devolveram nada porque com esse pouco dinheiro comprei para mim uma camiseta comum, esportiva, da Adidas, na qual vinha escrito Messi, que custava 35 mil pesos. Espero que tudo o que compramos sirva bem.
De qualquer forma, eles dão a você uma troca grátis e se não tiver do seu tamanho dão um voucher para comprar outra coisa. Se o que vou comprar não é necessário, verifico se há promoções. É por isso que os descontos em roupas são obviamente um incentivo ao consumo, porque eu não teria comprado a camiseta do Boca se não tivesse promoção.
O mesmo se aplica aos alimentos ou coisas de casa que não necessito. Quinta passada, saí da clínica e fui direto ao Carrefour porque havia 25% de desconto com o cupom do MODO, gastei quase 50 mil pesos (R$ 290) e me devolveram 12 mil pesos (R$ 69). Além disso, também recorro às gôndolas buscando ofertas e se vejo a segunda unidade a 70% compro e aproveito para me abastecer: comprei rolos (de papel) de cozinha e papel higiênico que não precisava no momento. Sem promoções, compro somente o necessário.
Outra coisa na qual fico atento é na gasolina? Eu não compro sem desconto. Na semana passada, não pude ir na quarta-feira à Shell, que tem 20% se pago com o cupom MODO, e esperei até sábado porque na Axion também tenho 20% se pago com o cartão do Banco Francês com MODO. Saiu 30 mil pesos (R$ 180) e me devolveram 6 mil pesos (R$ 36). Também compro carne com desconto, mas é verdade que não compro tanto porque com minha namorada não cozinhamos muito. Todas as semanas comemos algum dia nos meus pais, nos pais dela ou pedimos algo.
A última vez comprei dois quilos de lombo em um açougue local e paguei com dinheiro da minha conta. Me devolveram 4,5 mil pesos (R$ 21) porque era sábado, o dia do benefício. Outro dia fizemos a conta, eu e minha namorada, usando os descontos que obtivemos, e calculamos uma economia de 60 ou 70 mil pesos por mês. É muito dinheiro, mas às vezes acabamos perdendo esse dinheiro em outros descontos. Sou sócio do Clube Bonvivir (clube de vinho) e pago 20% a menos com cartão Visa. Chegou uma caixa com quatro vinhos e me doeu porque saiu 30 mil. Pensando bem, não é tanto, porque paguei 7,5 mil (R$ 42) pesos cada garrafa, mas tenho que lembrar de cancelar esse clube.
Diego, fisioterapeuta, 37 anos, morador de Zárate, na Grande Buenos Aires.
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Team família
Trabalhamos em equipe com meus três filhos para buscar prestações e descontos. Um dos filhos fica atento aos descontos e os manda ao grupo da família. Nos interessam, em particular, os de perfumaria que há nas farmácias e sobretudo as parcelas sem juros, no que seja. Por exemplo, faz pouco tempo que meu aquecedor quebrou e, bem, começamos a procurar a melhor opção com a maior quantidade de parcelas sem juros. Ou seja, barato e em parcelas sem juros é o ideal. Agora, se a cota tem juros, então comparamos com uma calculadora de inflação argentina, a página se chama Infleta e lá nós vemos se convém pagar à vista ou parcelado. Estamos fazendo uma obra na minha casa, então usei a Infleta para avaliar a compra de uma torneira e convinha comprar em parcelas.
Também pago com a grana da conta no Banco Provincia. Cansa um pouco ter que esperar o final de semana para comprar, mas a uso. Cansa porque se junta muita gente, aí cai o sistema, mas, bem… Nas mercearias, a conta perdeu um pouco de efetividade por causa dos juros. Carne também compramos, mas não com a conta. Aí temos outro método familiar: meu filho compra em quantidade em um frigorífico de no bairro de Mataderos a muito bons preços. Nós convém mais comprar lá do que em outros açougues, inclusive com os 35% de desconto da conta.
Não há problema com a quantidade porque a dividimos entre duas casas, a do meu filho mais velho e a nossa, onde vivo com meus outros dois filhos. E, além disso, tenho outro segredo: na minha casa tenho duas geladeiras. Assim, há muito espaço para congelar alimentos. Inclusive, chegamos a ter três! Precisa ter tudo muito bem ordenado para saber o que tem lá dentro. Também buscamos preços no Mercado Livre.
Usamos os cartões Visa Patagonia e Visa Supervielle, que possuem parcelas sem juros em certos dias. Fazemos as compras muito aleatoriamente. Conto a última? Papel higiênico e limpador de piso. Passei a buscar preços e, como me convinha porque não pagaria o envio, comprei 50 rolos de papel higiênico. Armazenamos. Da mesma forma, depois me dei conta de que tampouco foi uma grande compra, porque paguei 2,5 mil pesos (R$ 15) por cada pacote de quatro que, são 30 metros e folha dupla. É um preço normal, não foi uma grande oferta.
Acontece que antes de fazer as compras, nos organizamos. Para as coisas que não são urgentes, fazemos uma lista e eu dou aos meus filhos a tarefa de averiguar quando há parcelas, qual é a melhor forma de pagamento, e como não é urgente, posso esperar. Penso que tudo isso de saber comprar é coisa que herdei dos meus pais. É de família. Mais do que compra inteligente, eu acredito que tem a ver com a condição de imigrantes que eles tinham. Como se fosse um gene do imigrante que ficou comigo por aí, uma questão ancestral, não sei.
Meu papai tinha um irmão que era bancário, então estava o supermercado da [Associação] Bancária, exclusivo para empregados. O irmão, como familiar, dava a ele um carnê e meus pais compravam lá e armazenavam. Era muito mais barato. Eu nasci em 1963, então o que lhe conto deve ser de 1970. Quando fizemos a casa com meu marido, a maioria das coisas compramos em leilão ou em demolições. Então, como há uma história de certo manejo da nossa economia que, sim, também nos diverte.
Eu sou médica psiquiatra, me aposentei no ano passado, mas sigo trabalhando, e minha filha Tiziana, de 22 anos, é estudante de Ciência de Dados e me disse, meio como piada, que ela gostaria de fazer um programa onde você coloca o que quer comprar e aparece o melhor lugar, com a melhor oferta. Se tivesse que armar um ranking entre as três melhores ferramentas de economia seriam: Coto Digital e Comunidade Coto, Conta DNI e o frigorífico onde compramos a carne.
Ruth, médica psiquiatra, 61 anos, moradora de Buenos Aires.
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Modo ativo
Ontem comemos um churrasco a 3,5 mil pesos (R$ 20) o quilo. Estava congelado desde abril. Percebe que, como diziam as avós, quem guarda sempre tem? Compramos numa A promoção de carne congelada do supermercado Vea, que um amigo viu e nos enviou em um grupo do WhatsApp só para compartilhar ofertas. Como as peças eram a partir de quatro quilos, trouxemos duas cada um.
Neste grupo somos dois casais e vamos compartilhando as ofertas e as promoções dos supermercados. O nome do grupo vai mudando na base de anedotas pessoais e o mais ativo no chat é o meu amigo, que trabalha em casa e é como um encarregado de ir atrás da oferta. Tem um circuito armado entre os supermercados Vea, Coto e Día. Ele está muito atento às ofertas, vai procurando e sempre manda algo diferente.
De vez em quando eu verifico o celular e me deparo com notificações do grupo. Aqui tenho as últimas fotos que ele nos passou: em Vea há uma oferta de três litros de azeite gourmet com 70% de desconto, por 1,9 mil pesos (R$ 11). Estas ofertas estão disponíveis durante uma semana, por isso é importante estar atento. Meu amigo está atento aos supermercados e nós ao grupo do WhatsApp.
Além disso, ele quase sempre acaba comprando da gente, ou nos dá uma mão indo buscar a mercadoria. A rede se estende porque vamos enviando a outros amigos o que aparece. O que mais aproveitamos são as ofertas de carne dos supermercados, e depois os descontos do banco para o carro. O valor da gasolina é altíssimo e os tetos dos descontos são baixos, mas usamos os descontos do Banco Ciudad, porque aos domingos tenho 15%.
Outro dia, meu amigo mandou ao grupo 16 artigos que estavam em oferta no Coto. Havia de tudo, desde ovos com 20% de desconto até lula por 5 mil pesos (R$ 29) o quilo. No final, compramos um quilo de vacío com 30% de desconto, a 5,5 mil pesos (R$ 32). Neste caso, a oferta durava três dias, por isso insisto na importância de estar atento. Em algum momento poderíamos comer lombo ou bife de chorizo, mas já não compramos mais. E é assim com um monte de coisas.
Também usamos a conta corrente. Faz pouco tempo, meu amigo nos passou a informação de que num açougue do bairro de Boedo havia preços muito bons e ainda por cima tinha descontos com a conta do meu banco. Esperamos sábado e fomos comprar. Nosso consumo habitual, há cerca de dois anos, consiste em ir ao supermercado e encher o carrinho, para nos abastecer por pelo menos uns 15 dias. Depois, se precisamos de reforço vamos na mercearia do bairro, mas hoje não fazemos mais isso. Dependemos do WhatsApp e vamos ao supermercado quando aparece uma oferta, e se é a última semana do mês, pagamos com cartão de crédito porque chegamos sem dinheiro vivo.
Ah! Conto a você a última do grupo de WhatsApp? Uma oferta de 2×1 em cuecas Lacoste. São de segunda linha, mas você leva 6 por 18 mil pesos (R$ 104). Por isso digo que no grupo há de tudo. Fazemos saídas culturais, mas se não tivermos descontos no cinema não vamos. Com o Banco Ciudad tenho todos os dias 2×1 no Cine Atlas e, se pago com o aplicativo MODO aos sábados tenho 50% de reembolso ou desconto em qualquer cinema. E se não, bem, vamos ao Cine Gaumont, que é a melhor opção.
No geral, paramos para pensar um monte de vezes antes de fazer uma compra. Isso não significa que antes comprávamos de qualquer maneira. Agora procuramos o que está mais acessível a nosso orçamento: não sei se estamos dispostos a pagar 10 mil pesos (R$ 58) por um quilo de bife de chorizo.
Emanuel, docente de ensino médio, 41 anos, morador de Buenos Aires.
Namorada vidente
Vivemos eu e a minha namorada no mesmo edifício, então fazemos as compras juntos. Nos organizamos para fazer uma compra grande por mês, de mais ou menos 100 mil pesos (R$ 580), no Coto Digital, porque tenho desconto com meu banco, o ICBC. Esta promoção acontece às segundas-feiras, por isso, na primeira segunda-feira de cada mês, fazemos nossa compra. Se você vai fisicamente a promoção é igual, 30% de desconto de um teto de 10 mil, mas nos dias que há desconto, segundas e quintas-feiras da primeira e terceira semana do mês, há muita fila.
É um saco, tem que se armar de um calendar [calendário do Google] para não se perder. Tratamos de aproveitar todas as promoções, mas a que melhor faz compras é minha namorada. Às vezes programa o que vamos comer dentro de uma semana e então sabe o que falta e pode visualizar o futuro. Eu me perco comprando muitas coisas, mas ela calcula se convém ofertas com a segunda unidade a 50% ou a 60% ou 2×1. Às vezes são coisas que não precisamos, mas que servem para armazenar.
Esses descontos nas segundas unidades nós também aproveitamos, porque, além de tudo, sou da Comunidade Coto; é só se registrar para conseguir, e também dá a você 15% em alguns produtos, exceto, por exemplo, carne, linha Coca-Cola ou marcas de ponta. No mês passado, compramos 160 mil pesos (R$ 930) e entre os 10 mil (R$ 58) do meu banco e os descontos da Comunidade Coto, nos deram 40 mil pesos (R$ 232) de desconto. Parece muito desconto mas não é, e na verdade dá raiva por alguns preços. Eu noto que, inclusive tendo bons salários, estamos comprando um monte de coisa de segunda linha, por exemplo, leite: eu não sairia de La Sereníssima nem a pau e agora sim. Não porque não possamos, mas porque não te dão margem de desconto se compra marcas de ponta.
Hoje me parece um luxo comprar um iogurte com cereais. Por isso, outra coisa que fizemos para economizar foi investir numa iogurteira e numa máquina de pão. Os ingredientes são baratos e se usam em pouca quantidade assim que fazemos pão, que sabemos que é muito mais seguro porque não tem nenhum tipo de conservante e é muito mais saboroso porque o fazemos integral e com sementes. O mesmo com a iogurteira. Foi um investimento não tão caro. O outro desconto importante que usamos o crédito do banco para comprar para carne. Tratamos de fazer duas compras por mês; como estou em casa o dia todo, faço todas as refeições aqui.
Minha namorada somente vem jantar porque trabalha e depois vai à faculdade. Eu desde que me formei como atuário, sempre trabalhei remotamente, então há dias em que posso comer um quilo de milanesas, entre o almoço e a janta. Este é o ticket da última compra: milanesas de frango, carne moída, entranhas, churrasco e peito de frango, e gastamos 26 mil pesos (R$ 151). Como nós dois pagamos com o desconto do banco, ao fim do mês temos uma economia de 18 mil pesos (R$ 104).
Obviamente, compramos em quantidade e congelamos. Com as quitandas fica complicado usar o desconto do banco, mas isso deve acontecer com todos porque em abril o desconto diminuiu e além disso poucas quitandas possuem esse sistema de pagamento. O que convém é comprar em feiras, porque possuem verduras e frutas mais baratas. Ainda assim, não vamos muito na feira que está perto da Faculdade de Direito.
Recentemente, compramos um monte de coisas, porque estava muito barato, mas claro, acabou apodrecendo tudo. Aí aprendemos que não convém comprar tanta quantidade, mesmo que esteja barato. Sei que muitos imaginam que uso o conhecimento como atuário para economizar, para investir, mas a verdade é que não me interessa tanto. Não vou me poupar com a quantidade de investimentos que eu posso fazer e me dá preguiça o esforço implicado nisso. No máximo, entro num fundo de investimentos comum e com resgate diário.
Então, faço a conta com meus gastos fixos, cartão, aulas de tênis, inglês e coloco a grana no fundo. Quando chega o momento de pagar, saco dali. Sem fazer nada, com o que ganho, pago o inglês e uma aula de tênis. Ah, também estou atento aos descontos de certos aplicativos: baixei o Personal Pay que dá 2×1 no Cine Hoyts e no Cinemark.
Agustín, atuário, 26 anos, morador de Buenos Aires.
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A desgraçada
A última que descobri? Um aplicativo que se chama Yoy e se você carregar o SUBE (cartão do transporte público em Buenos Aires) dá a você 2 mil pesos (R$ 12). Carreguei o cartão e ganhei o crédito extra. Eu sou uma desgraçada, por como compro. O mais barato é o Mercado Central e para lá vou um sábado por mês. Vamos de carro, eu e meu marido, ele dirige seu próprio Cabify. Buscamos os locais com desconto do banco. Eu e minha filha cuidamos das verduras e frutas. Minha filha vive a uma quadra da nossa casa, no bairro de Villa Crespo, então compramos três quilos de tomate, três quilos de cebola, e depois chegamos em casa e separamos metade para cada uma, assim não nos prejudicamos.
Os abacates são muito baratos no Mercado Central, então compro seis a 2,5 mil pesos (R$ 15). A alface compro a 800 o quilo e agorinha na quitanda perto da minha casa estava 2,5 mil. Tive que ir ao Mercado e entrei um instantinho e comprei um pouquinho de cebola, um pouquinho de aipo e umas abóboras para fazer um creme.
Da mesma forma, paguei com um descontou que me devolve 20%. E meu marido cuida das carnes: do Mercado Central levamos churrasco, frango, quase sempre sobrecoxa, e meu corte favorito, bife de chorizo. Aprendi sobre cortes quando treinei as caixas do açougue RES. Se preciso comprar carnes antes de voltar ao Mercado Central, compro nessa rede onde trabalhei, mas somente uma quantidade ajustada. A não ser que local tenha algum desconto, aí pode ser que eu compre um pouco mais.
Eu sou Yadira, a que faz mil coisas. Agora sou assistente docente em duas escolas e, além disso, faço faxina em duas casas. Fiz de tudo nessa vida. Mas trabalhei mais aqui na Argentina do que na Venezuela. Com tanto trabalho, não me sobra tempo livre e, por exemplo, não acompanhamos o cinema, apesar de que, na semana que vem, eu queria ver Divertida-mente 2. Vamos usar a promoção 2×1 da Shell. Meu marido abastece lá.
Há coisas sem desconto que eu não pagaria nunca. O café está caríssimo. Eu compro no Havana porque tenho 40% com o aplicativo MODO, ou com o aplicativo do Starbucks, que tem 25% de desconto. Ninguém passa os descontos para mim, aparecem pelo algoritmo no Instagram. Deve ser de tanto buscar descontos que já ficou assim. Eu, todas as noites depois de trabalhar, busco descontos no celular ou entro no Instagram e já sei que entre os stories vão aparecer promoções ou descontos.
Às vezes me dou ao luxo de pedir delivery, nos finais de semana, posto que, não sei, tenho aulas aos sábados, faço muitas coisas pela manhã e me dá muita preguiça de cozinhar, então peço algo. Durante a semana eu sempre cozinho demais na janta para almoçar entre escola e escola, mas aos sábados, quando o Mercado Pago dá desconto de envio grátis, peço coisas que estão aqui por perto, como Burger King ou uns bolos que gosto e que tem desconto, aqui se chama Jocinerías.
Hoje, fiz uma compra no Día: iogurte natural para fazer mais iogurte, leite e queijo no saquinho. Paguei com QR do Mercado Pago e economizei quase 2 mil pesos (R$ 12), uns 20%. Tudo isto dos descontos é algo que aprendi aqui, talvez porque na Venezuela não há tanta vida fora das casas. O fato é que comprando com desconto eu posso mandar algo para a Venezuela. Quando recebo meu salário, pago o que tenho que pagar e o que me resta eu troco por dólares. Mando 100 dólares (R$ 563) para a minha mãe na Venezuela todos os meses.
Yadira, assistente de docência, 48 anos, moradora de Buenos Aires.
(*) Reportagem publicada originalmente em Revista Crisis.
(*) Tradução de Raquel Foresti.