Todo domingo, o leitor do jornal O Estado de S. Paulo recebe este caderno chamado “Cultura”. E pode, então, se ocupar com textos sobre livros, música, cinema, história, política, artes visuais, antropologia, etc.
A cada semana, ele muda um pouco – mas, na capa, vem sempre a mesma palavra: “Cultura”, em letras grandes e vermelhas.
O que é cultura, afinal?
Segundo Teoria Cultural de A a Z (Contexto), cultura não é uma palavra de fácil definição, sobretudo porque pode ter diferentes significados em diferentes contextos.
A obra, organizada por Andrew Edgar e Peter Sedgwick, procura explicar um dos sentidos do conceito “que está no centro dos estudos culturais” e que “evita a preocupação exclusiva com a ‘alta’ cultura”, procurando reconhecer “que todos os seres humanos vivem num mundo criado por eles mesmos, e onde encontram significado”.
Como obra de referência, esse dicionário procura cobrir, centralmente, os conceitos que usados nas discussões que a teoria cultural despertou e retomou.
São cerca de 300 verbetes, de “absurdo (teatro do)” a “visão de mundo”, passando por “fala”, “papel” e “ritual”, entre outros. Muitos dos conceitos que ganharam verbetes foram trabalhados por outras correntes de pensamento, mas acabaram integrando o discurso da teoria cultural.
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Cultura não é uma palavra de fácil definição, sobretudo porque pode ter diferentes significados
É o caso, por exemplo, de “tipo ideal”, ou ideal-tipo, emprestado da sociologia weberiana: “Para Weber, um ideal-tipo era um modelo abstrato, usualmente de alguma instituição ou processo social. O ideal-tipo, portanto, tenta identificar e isolar as características-chave da instituição social. Ele guiará a pesquisa empírica, chamando a atenção para o tipo de características que os cientistas sociais deveriam procurar e documentar, e pode ser modificado à luz da pesquisa empírica (…). O ideal tipo é, portanto, “ideal”, no sentido de ser uma abstração”.
Tudo poderia ser mais simples se, em vez do caderno Cultura, sua leitura de domingo fosse um gibi? Ingenuidade, defende Teoria Cultural de A a Z, no verbete “história em quadrinhos”: “Cartuns, tiras e revistas de histórias em quadrinhos talvez tenham sido relativamente negligenciadas não apenas pela estética e pela crítica ortodoxa, como era de se esperar, mas também pelos estudos culturais (especialmente em comparação com a quantidade de atenção dada a outros aspectos da cultura popular, como a televisão e a música popular)”.
O verbete ainda defende, de modo um tanto truncado na versão brasileira, que os estudos culturais não devem deixar de lado “o interesse na história em quadrinhos. (…) como um texto complexo, que desenvolve sua narrativa por meio da combinação de imagens visuais e texto literário”.
Depois do cachimbo de Magritte, um cachimbo nunca mais foi só um cachimbo.
(*) Texto originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 7 de dezembro de 2003.