Formada em em 1974, originalmente pelos integrantes Alain Mion, Alain Gandolfi, Mireille Dalbray e Alain Labib – e posteriormente, contando com a entrada de Jean Grevet –, a banda francesa Cortex nasceu em um encontro no Centre Américain, em Paris. No ano seguinte, o grupo se reuniu em estúdio, dando origem ao clássico Troupeau bleu, uma grande mistura entre funk, soul, bossa-nova e rock psicodélico. O disco, hoje cultuado como cult, é aclamado por todas as gerações de fãs de jazz pela sua qualidade rítmica, os instrumentais e arranjos.
Troupeau bleu alavancou o grupo, que tem em sua carreira seis discos, e ainda que vários de seus integrantes já estivessem envolvidos com a música antes e depois do seu Magnum opus, foi o álbum de capa azul e branca que se tornou o símbolo do poder da banda. A fusão de ritmos não é o único elemento chamativo: com três integrantes com nome Alain – muito comum no norte da África –, o principal deles, Alain Mion, nasceu em Casablanca, importante centro comercial do Marrocos, que até 1956 era uma colônia francesa.
A importância de Troupeau bleu, como de grande parte dos discos de jazz lançados entre os anos 1960 e 1970 – década em que Eric Hobsbawm vai chamar de “uma experiência deprimente para o amante de jazz”[1]” – se dá não apenas pela popularidade que o estilo musical alcançou fora dos Estados Unidos – em especial no Japão, França e Reino Unido – em oposição à falta de mercado que o gênero enfrentou em seu próprio país, ocasionada principalmente pelo surgimento do rock, mas também em função de ter feito parte do resgate de discos esquecidos do jazz por rappers e produtores norte-americanos entre as décadas de 1990 e 2000.
Não é apenas o caso do Cortex: outros grandes artistas e bandas, como Arthur Verocai, Azymuth e Clyde Stubblefield viram o renascimento de suas obras graças às máquinas e baterias eletrônicas de gente como J Dilla, MFDOOM, Madlib, 9th Wonder, e uma infinidade de outros grandes produtores.
Mas não é apenas pela atmosfera cult que envolve o disco que, até 2022, Troupeau bleu foi sampleado ao menos 142 vezes. O álbum fala por si mesmo. Se na faixa de abertura chamam atenção os riffs de baixo e guitarra e o solo psicodélico de teclado de Alain Mion, na faixa Automne a cantora Mireille Dalbray, esposa de Mion, fala sobre o verão, a natureza, sobre o samba brasileiro e os “shows pop perto de Taboão da Serra”, bairro da zona sul de São Paulo, o que revela novamente o caráter cosmopolita de Cortex. O ponto alto do disco, a faixa homônima Troupeau bleu – não que o disco tenha grandes oscilações, muito pelo contrário – é uma aula sobre como a música pode sofrer mutações e aculturações que alimentam gêneros distintos. Se a bateria consegue seguir um compasso de tamborim da bossa-nova, o teclado chama novamente a atenção. O vocal de Mireille Dalbray volta a ser protagonista de uma sinfonia que mescla a França dos Condenados da Terra, o Brasil do samba que virou bossa, e a África que não se curvou ao colonialismo.
Outra importante faixa do disco é Huit Octobre 1971. Chamando a atenção de MFDOOM, Tyler the Creator, Jaylib (o duo entre J Dilla e Madlib), e mais uma dezena de produtores de rap, ela caiu no gosto dos rappers, que recortaram os vocais, bateria, solos de corda e outros elementos que compõem uma das mais belas demonstrações do poder que a improvisação do jazz tem.
Por todos esses motivos, e pelo clássico que Troupeau bleu se tornou, é que a Casa Natura, em parceria com o Jazz is Dead – que, em sua fundação, conta com nada menos que Ali Shaheed Muhammad, o eterno produtor do A Tribe Called Quest –, trazem, em novembro de 2024, a banda Cortex para tocar pela primeira vez no Brasil. O show promete ser uma celebração do bom jazz, e do clássico que, se é francês pelo solo em que foi criado, é também um pouco marroquino, e um pouco mais brasileiro.
SERVIÇO:
Show Jazz Is Dead | Cortex
21 de novembro de 2024
Abertura da Casa: 19h30
Show: 21h
Classificação: 16 anos
Casa Natura Musical
Rua Artur de Azevedo 2134
Pinheiros, São Paulo
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