Documentário retrata a história e o legado do primeiro DJ do Brasil
Documentário “Veraneio: uma antologia negra” retrata a história de seu Osvaldo, fundador da Orquestra Invisível e o primeiro DJ do Brasil
A história de seu Osvaldo, o primeiro DJ brasileiro, é contada no documentário Veraneio: uma antologia negra, disponível gratuitamente na plataforma Spcine Play até dia 29 de junho. O filme integra a programação do 17º InEdit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que acontece até o final desta semana em diversos espaços em São Paulo e em algumas plataformas gratuitas online. Além de filmes, a programação conta também com atividades paralelas, como pocket shows, cursos e palestras.
Veraneio: uma antologia negra é uma celebração do legado de seu Osvaldo, que ensinou o ofício a toda a família: seus irmãos, sobrinhos, filhos e neto seguiram seu caminho e são hoje difusores de seu trabalho e memória. No filme, é o encontro das três gerações de discotecários que guia uma rememoração afetiva da história do patriarca em paralelo à história da música brasileira, misturando passado, presente e futuro.

Da esquerda para a direita: o filho, Dinho Pereira, o neto, Jean Pereira, e seu Osvaldo.
(Foto: Reprodução / Veraneio)
Seu Osvaldo, hoje com 91 anos, é considerado o criador do primeiro baile mecânico, sem músicos tocando ao vivo, mas com com toca-discos e vinis. Batizado de Orquestra Invisível Let’s Dance, o baile é retratado também no curta-metragem homônimo, dirigido por Alice Riff (2017). Nos final dos anos 1950, em um cenário de bailes orquestrais caros e elitizados, o Orquestra Invisível se tornou um espaço importante de sociabilidade e entretenimento para pessoas negras e trabalhadoras em São Paulo, fortalecendo a autoestima, proporcionando o reconhecimento e difundindo e valorizando a cultura negra nas músicas, nas danças, nas roupas e nos cortes de cabelo.
Seu Osvaldo é um precursor dos bailes black que se popularizaram nos anos 1970 e 1980, exaltando a negritude em um contexto de extrema repressão em meio à ditadura civil-militar. Inspirados no movimento que se ampliava nos Estados Unidos, os bailes blacks no Brasil se tornaram espaços de resistência e afirmação da identidade negra, e vêm sendo bastante retratados no cinema nos últimos anos.

Seu Osvaldo em ‘Veraneio’, documentário que retrata sua vida como DJ.
(Foto: Reprodução / Veraneio)
Dentre as produções recentes sobre o tema, o filme Chic Show (2023 – disponível na plataforma GloboPlay), de Emílio Domingos e Felipe Giuntini, teve uma estreia histórica no InEdit de 2023, com mais de 1500 pessoas na sessão que foi seguida da realização do célebre baile Chic Show. Enquanto este longa lança um olhar para a cena paulista, o mesmo cineasta, Emílio Domingos, lançou também Black Rio! Black Power! (2023 – disponível na plataforma Prime Video) sobre os bailes cariocas. Com olhar muito atento à memória da música brasileira e das culturas negras e periféricas, Emílio Domingos é, aliás, um cineasta com extensa produção documental e é diretor de três longa-metragens exibidos na programação do festival InEdit deste ano. Outros filmes sobre os bailes blacks podem ser assistidos até domingo na programação do festival: Baile Soul (2024), de Cavi Borges, e Alma Negra, do Quilombo ao Baile (2024), de Flavio Frederico.
Foi no Edifício Martinelli, no centro de São Paulo, que seu Osvaldo começou a tocar nas “domingueiras”. Quase 60 anos depois, é neste espaço que seu neto, Jean Pereira, o convida para tocar em sua última discotecagem, realizada em abril de 2024 e retratada no filme. Entre gravações recentes da família discotecando, entrevistas com seu Osvaldo, seus filhos e seu neto, e preciosas imagens de arquivo, o filme mistura as temporalidades e reforça as contribuições do passado pioneiro para o presente multifacetado. É um necessário registro da memória dos mais velhos e uma homenagem em vida a uma figura que marcou a história do entretenimento musical brasileiro.