Sábado, 12 de julho de 2025
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O prêmio Nobel de Literatura de 2022 foi atribuído nesta quinta-feira (06/10) à escritora francesa Annie Ernaux. No anúncio, a Academia sueca elogiou “a coragem e a acuidade clínica através da qual ela revela raízes, privações e restrições coletivas de sua memória pessoal”.

Após o anúncio da recompensa, em entrevista ao canal sueco SVT, Ernaux afirmou que receber o prêmio é “uma grande honra”, mas também “uma “grande responsabilidade”. A escritora de 82 anos classifica seu trabalho como “um testemunho de uma forma de justeza e de justiça, em relação ao mundo”.

Professora de Literatura na universidade de Cergy-Pontoise, na região parisiense, Annie Ernaux é autora de uma vasta e aclamada obra de cunho intimista e autobiográfico em que disseca o peso da dominação de classes e as relações amorosas, dois temas que marcam seu itinerário de mulher castigada por suas origens populares.

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Ela estreia em 1974 com “Les Armoires Vides” (Os Armários Vazios), em que conta sua experiência pessoal ao se submeter a um aborto clandestino. No premiado “Les Années” (Os Anos), publicado em 2008 e considerado seu chef-d'oeuvre, a autora resgata suas memórias do pós-guerra, através de fotos e recordações que marcaram sua existência. 

No entanto, é com L'Événement (O Acontecimento), publicado em 2000, que Annie Ernaux ganha notoriedade fora da França. Na obra, ela volta a tratar sobre o aborto, contando o drama de uma estudante que realiza a interrupção de uma gestação na França na época em que a prática ainda não era um direito. A história foi adaptada para o cinema, sob a direção da franco-libanesa Audrey Diwane, e recebeu o Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza em 2021.

No anúncio, a Academia sueca elogiou 'a coragem e a acuidade clínica através da qual ela revela raízes, privações e restrições coletivas de sua memória pessoal'

Divulgação/Prêmio Nobel

Escritora de 82 anos classifica seu trabalho como ‘um testemunho de uma forma de justeza e de justiça, em relação ao mundo’

Uma grande surpresa

Com seu estilo clínico, nu de qualquer espécie de lirismo, Ernaux sempre recusou o rótulo de escritora de ficção e se autodefine como “uma etnóloga” dela mesma. A autora fazia parte da lista dos possíveis agraciados pelo prêmio Nobel há muitos anos, mas afirma que a recompensa foi “uma grande surpresa”. 

Na apresentação do trabalho dela, Anders Olsson, integrande da Academia sueca, destacou sua linguagem “simples e limpa”. Segundo ele, ao abordar “as contradições da experiência social, descrevendo a vergonha, a humilhação, a inveja ou a incapacidade de vermos quem somos, Ernaux cumpre algo admirável que se inscreve no tempo”.

Annie Ernaux é a 16a terceira representante da França a vencer um Nobel de Literatura, desde que começou a ser atribuído, em 1901. Além dela, nos últimos 20 anos, a Academia sueca recompensou outros dois representantes da França: Jean-Marie Gustave Le Clézio, em 2008, e Patrick Modiano, em 2014. Em 121 anos, a francesa é a 17a mulher a receber esse que é o considerado o maior prêmio da Literatura.