Festivais deixaram de ser espaços criados só para que críticos e profissionais de cinema tomem contato com filmes de autor, atuando como mediadores entre eles e o público “comum”. Hoje em dia, são circuitos de exibição importantes para qualquer pessoa que procure um respiro das salas comerciais, com seus super-heróis, para fisgar um filme bacana antes que ele caia no esquecimento ou então escape de vista.
Até por isso, cada festival tem a sua personalidade, e a da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo normalmente se enquadra num perfil curioso, exigente e mais semelhante às raridades valorizadas pelos cinéfilos. Quem coincide com isso, deve aproveitar.
Para os que curtem cinema latino-americano, que nesta 37ª edição está representado no evento com 24 títulos de 10 países da região, três filmes desses raros e interessantes têm ainda sessões programadas até o fim da Mostra (dia 31 de outubro).
O primeiro é o argentino “El crítico”, de Hernán Guerschuny, uma comédia romântica metalinguística, que usa o cinema como desculpa para analisar os meandros de uma relação de casal. A história – um crítico de cinema que odeia comédias românticas e que acaba se vendo preso justamente dentro de um filme do gênero, com direito a todos os seus clichês – surgiu da experiência de Hernán há 19 anos como diretor da revista argentina Haciendo Cine.
Reprodução
Cena do filme “El Crítico”, de Hernán Guerschuny
“El crítico”, que estreou no BAFICI, festival de cinema independente de Buenos Aires e um dos mais reconhecidos da América Latina, é a estreia do diretor em longas-metragens e, segundo ele, “surgiu de uma experiência pessoal, de um certo desdobramento que ocorre quando somos mais racionais do que emocionais”.
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Depois, vale a pena assistir ao chileno “O verão dos peixes voadores”, de Marcela Said, outro debut em longa-metragem, neste caso de uma diretora que lançou antes dois elogiados documentários: “I love Pinochet” e “El mocito”. Ganhou vários prêmios internacionais e estreou na Quinzena de Realizadores durante o último Festival de Cannes, dando fôlego à boa fase recente do cinema chileno.
O filme conta a história de Marena, uma adolescente que passa o verão com sua família no sul do Chile e parece ser a única a perceber a crescente tensão que se respira no ambiente. O problema em questão tem a ver com o conflito dos indígenas mapuches, invisível, segundo Said, para a maioria dos chilenos.
Finalmente, está “Saudade”, de Juan Carlos Donoso Gomez, considerado uma das revelações do emergente cinema equatoriano. Também bastante premiado, filme faz o retrato de uma geração de jovens que cresceram em meio à crise econômica do país no fim dos anos 90 a partir de um personagem de 17 anos que não pode imaginar seu futuro. É interessante notar como o diretor constrói nele uma relação orgânica e reveladora entre aspectos públicos e privados de uma grande crise: de um lado, a recessão da economia e, de outro, a adolescência.
Vale lembrar que nenhum desses títulos tem ainda previsão de estreia comercial no Brasil. É possível que nunca sejam lançados aqui. Portanto, antes que eles viajem pra bem longe do nosso circuito de festivais, confira as sessões deles programadas na Mostra aqui e aproveite.