Sexta-feira, 11 de julho de 2025
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Era de se esperar a ausência do presidente da Rússia, Vladimir Putin, na cúpula do BRICS sediada pelo Brasil neste ano, levando em consideração o mandado de Tribunal Penal Internacional (TPI) do qual é alvo, e o governo Lula enquanto signatário do Estatuto de Roma. Contudo, “havia uma expectativa” para a presença do chefe de Estado chinês, Xi Jinping, que, pela primeira vez, confirmou sua desistência a este evento por “conflitos de agenda” e, consequentemente, anunciou o envio de seu primeiro-ministro Li Qiang para representá-lo.

A avaliação é de Rita Coitinho, que integra o Conselho Civil do BRICS. A Opera Mundi, a socióloga destacou que do país asiático “vem o número 2, que não é pouca coisa”, mas reconheceu que a falta do chefe de Estado deixa “uma sensação de pouco prestígio da cúpula”. 

“Acho que havia uma expectativa pela sua presença – embora ela já tenha vindo ao Brasil recentemente. Os chineses estão muito engajados no BRICS. Há encontros montados por eles de empresários, pesquisadores, etc. acontecendo paralelamente ou antes da cúpula no Rio”, pontuou. 

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A 17ª edição da cúpula do grupo de países de economias “em desenvolvimento” ocorre entre domingo (06/07) e segunda-feira (07/07) na capital do Rio de Janeiro. Embora as siglas “R” e “C” façam referência respectivamente à Rússia e China, importantes atores no cenário geopolítico e essenciais na busca por uma nova ordem mundial, ambas as nações confirmaram que seus chefes de Estado não participarão do evento.

Sobre como a relação sino-russa influencia as decisões do BRICS, especialmente em temas-chave como o comércio em moedas alternativas ao dólar, Coitinho classificou Moscou e Pequim como sendo “os motores” do bloco econômico. 

“A presidência da Rússia foi um acontecimento. Repleta de debates, muitos recursos investidos, propostas ousadas na área de pagamentos intrabloco. Os chineses também apostam muito, especialmente nos temas que afetam a área de energia renovável e infraestrutura. Os demais países parece que vão mais devagar e isso inclui o Brasil”, explicou a socióloga.

Presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping, durante a cerimônia de assinatura de Atos, no Palácio do Povo
Ricardo Stuckert/PR

Tensões geopolíticas

O BRICS deste ano ocorre em um cenário de crescentes tensões geopolíticas, envolvendo guerras tarifárias em âmbito mundial, além de bélicas, em especial, concentradas no Oriente Médio. Nos bastidores, muito se questionou se a recente guerra entre Irã e Israel, respaldada pelos Estados Unidos e atualmente interrompida com a consolidação de um cessar-fogo, implicaria na realização da cúpula.  

“Acredito que deve sair alguma declaração, por exemplo, na defesa do livre comércio e na condenação das tarifas unilaterais e guerras tarifárias”, indicou Coitinho. “No tema da paz, a questão é mais espinhosa no que se refere ao Irã (e mesmo à Ucrânia) pela presença da Índia, Emirados Árabes e Arábia Saudita, que têm posições meio dúbias devido às suas relações com os EUA”.

O que esperar desta edição?

De acordo com a avaliação de Coitinho, o BRICS obteve uma resposta “muito positiva” envolvendo o conjunto de países do chamado “Sul Global”, antagônico ao Ocidente. O bloco econômico surgiu visando a discussão de um sistema financeiro internacional e se tornou “um espaço de diálogo sobre múltiplas temáticas”, visando atender às necessidades dos países fora do eixo dos ditos desenvolvidos como os europeus, ou os EUA, Canadá e Japão – embora tenha tido um resultado “muito aquém” do esperado, conforme a socióloga.

“Nessa cúpula, até pelas prioridades elencadas pela presidência brasileira – Cooperação em Saúde Global; Comércio, Investimentos e Finanças; Mudança do Clima; Governança da Inteligência Artificial; Arquitetura Multilateral de Paz e Segurança; e Desenvolvimento Institucional do BRICS – a tendência é que tenhamos uma declaração que abarque esses múltiplos aspectos, numa certa continuidade do que já veio da cúpula passada, em Kazan, mas com ênfase no tema do Clima”, analisou Coitinho.

A socióloga recordou que o Brasil também sedia a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), em Belém do Pará, neste ano. Desta forma, o assunto do clima “tem nuances quando se fala de BRICS”.

“De um lado temos o Brasil e a Indonésia, países megadiversos, com grandes florestas, e muito interesse em fundos relacionados à preservação (comércio de carbono, etc.). De outro, temos países com grande presença no mercado de petróleo e derivados. E ainda a China, que tem investimentos vultosos em energias renováveis”, explicou, acrescentando que a expectativa é de que saia uma formulação que corresponda “à média desses interesses” nesta cúpula. “Algo como investimentos em tecnologias renováveis”.