Clima, multilateralismo e IA: as prioridades do Brasil na cúpula do BRICS
Brasília defende reformas nas instituições e influência do Sul Global; porém encontro pode ter 'baixos impactos', analisa Rose Martins
O Brasil sedia, no Rio de Janeiro, a 17ª Cúpula do BRICS neste final de semana, reunindo chefes de Estado e ministros de 11 países que compõem o bloco e seus parceiros. O encontro ocorre sob o lema “Fortalecer a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável”, um reflexo do desejo de reposicionar o agrupamento como força coletiva diante dos desafios do sistema multilateral.
Atualmente, Brasil, Arábia Saudita, África do Sul, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Indonésia, Irã e Rússia fazem parte do bloco. Além desses, também participam os países parceiros: Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia, Nigéria, Vietnã e Uzbequistão.
O governo brasileiro tem defendido reformas nas instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU, além de pautas como inclusão financeira, transição energética sustentável e a ampliação do comércio em moedas locais. A proposta do Brasil é reforçar a influência do Sul Global em instâncias decisórias internacionais, promovendo uma ordem mais multipolar e menos centrada em padrões ocidentais.
Na presidência do bloco, o Brasil tem tentado posicionar essas entre as prioridades elencadas pela gestão: Cooperação em Saúde Global; Comércio, Investimentos e Finanças; Mudança do Clima; Governança da Inteligência Artificial; Arquitetura Multilateral de Paz e Segurança; e Desenvolvimento Institucional do BRICS.
Porém, apesar da projeção internacional do evento e da importância para a diplomacia do Sul Global, impactos diretos sobre o Brasil tendem a ser limitados. Na avaliação da especialista em relações internacionais Rose Martins, há um consenso entre os analistas sobre os “baixos impactos” da cúpula, apesar dos debates e resoluções relevantes que o cenário internacional demanda.
Em entrevista a Opera Mundi, a acadêmica frisou que isso se deve principalmente ao formato peculiar de uma presidência brasileira “mais curta e uma cúpula antecipada”, o que reduziu o tempo de articulação e definição de prioridades.
A política externa brasileira, no entanto, tem adotado uma postura que Martins descreve como “estratégia pendular”, o que pode ter comprometido sua inserção estratégica no grupo e na prática ter afastado o Brasil dos objetivos dos BRICS.
Outro ponto central da atual agenda diplomática do governo é a 30ª Conferência do Clima da ONU (COP 30), que será realizada em Belém do Pará, em novembro de 2025. “A minha leitura é que a prioridade do Brasil é centrar esforços para a realização da COP. Lembrando que a defesa do clima, desde o início do governo, foi a grande bandeira da política externa do Brasil”, explicou a especialista.

17º cúpula do bloco será neste final de semana no Rio de Janeiro, com presença de Lula
Ricardo Stuckert/PR
Dilma no NDB
Apesar das expectativas moderadas em relação à cúpula em si, um dos pontos de destaque do evento será a atuação da ex-presidente Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), criado pelos BRICS para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável.
Rose Martins vê na liderança da ex-mandatária brasileira um elemento de prestígio para o Brasil no bloco: “a presidente Dilma tem feito um bom trabalho, por isso mesmo a Rússia cedeu a presidência rotativa do banco e estendeu seu mandato”.
De acordo com a especialista, o gesto russo representa mais do que conveniência institucional, já que Moscou poderia ter indicado um outro nome de um outro país.
Entretanto, os desafios do NDB são significativos — sobretudo diante do debate sobre a desdolarização. “O processo não será simples e nem rápido, e há mesmo muitas dúvidas sobre se ele pode ser efetivamente alcançado sem um processo de transição hegemônica e, portanto, algum tipo de conflito”, ponderou Martins.
Ainda assim, ela reconhece avanços práticos: “o que tem crescido são os financiamentos de projetos em infraestrutura e o comércio entre moedas locais. Pelo menos por parte da Rússia e China, nota-se que a presidente Dilma goza de prestígio pelo seu trabalho”.