Em coletiva de imprensa realizada às margens da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro nesta terça-feira (19/11), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, abordou temas centrais para seu país, na ausência do presidente Vladimir Putin no evento.
Entre os tópicos discutidos, estavam a autorização dos Estados Unidos para ataques ucranianos à Rússia, e a inclusão de parágrafos sobre conflitos na declaração final dos chefes de Estado.
Ao iniciar sua fala, Lavrov destacou os resultados positivos da cúpula do G20, afirmando que “acordos significativos foram feitos, isso é muito importante”, e ressaltou a adesão da Rússia à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Escalada com mísseis no conflito entre Rússia e Ucrânia
Quando questionado sobre a autorização dos Estados Unidos para o uso de mísseis em ataques no território russo, Lavrov reconheceu a discussão sobre o tema, mas afirmou que evitaria especular. “Até [Josep] Borrell [chefe de política externa da União Europeia] disse que era oficial […] mas não vou especular sobre esse tópico.”
Na madrugada desta terça-feira, forças ucranianas realizaram um ataque inédito à região de Bryansk, utilizando mísseis ATACMS de longo alcance produzidos pelos Estados Unidos. O ataque envolveu seis mísseis, dos quais cinco foram interceptados pelos sistemas antiaéreos russos, e o sexto foi danificado.
O russo comentou, no entanto, as investidas ucranianas, sugerindo que os Estados Unidos estariam buscando uma escalada no conflito. “O fato de que ATACMS foram usados repetidamente esta manhã na região de Bryansk é, claro, um sinal de que [os Estados Unidos] querem escalar. É impossível usar esses mísseis de alta tecnologia sem os norte-americanos.”
O ministro também elogiou a decisão do chanceler alemão, Olaf Scholz, de recusar o envio de mísseis Taurus à Ucrânia, considerando-a “responsável”. “Isso o difere da posição dos britânicos e dos franceses”, acrescentou.
Por fim, Lavrov recomendou que os líderes ocidentais leiam a doutrina nuclear da Rússia antes de tomarem decisões. “E não da maneira como leem a Carta da ONU, escolhendo apenas o que lhes agrada, mas a doutrina em toda sua plenitude”, concluiu.
Inclusão do conflito ucraniano na declaração final do G20
Sobre a inclusão do conflito na Ucrânia na declaração final, Lavrov destacou o papel do Brasil e de outras nações do Sul Global em fazer com que a cúpula não se tornasse um espaço exclusivo para esta questão.
“O Ocidente, naturalmente, tentou ‘ucranizar’ toda a agenda. Ele falhou. Nenhum dos países da maioria global, o Sul Global, apoiou.”
A declaração final dos países incluiu um parágrafo sobre a Ucrânia, que Lavrov classificou como bem-vindo, pois “seu principal ponto é um apelo por uma conversa honesta e razoável sobre a paz em bases realistas.”
O ministro também reforçou que o texto “responde às necessidades atuais de construir relações internacionais baseadas no multilateralismo, no pluralismo e na eliminação de todas as formas de desigualdade.”
Lavrov comentou ainda a relutância do Ocidente em discutir a inclusão de conflitos no Oriente Médio na declaração final do G20. “Houve tentativas de colocar o parágrafo sobre Gaza logo após o da Ucrânia no documento final”, disse ele.
“É claro que o Ocidente estava relutante em discutir esse texto, mas entendeu perfeitamente bem que sem ele não poderia haver nenhuma seção sobre conflitos”.
O ministro russo também destacou que antes desses pontos, foi incluído um parágrafo sobre como os países devem agir em conflitos, com especial ênfase na intolerância a ataques à população e à infraestrutura civil.
(*) Com Sputnik.