O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa o segundo dia do G20 comemorando os avanços importantes na agenda proposta pela presidência do Brasil no grupo.
A declaração final trouxe avanços significativos em todos os pontos defendidos pelo presidente brasileiro, do combate à fome à agenda ambiental, passando por uma defesa contundente das reformas das instituições globais.
O cenário já podia ser antevisto no discurso da tarde de segunda-feira (18/11), que deixava claro que a proposta de taxação dos super-ricos faria parte do documento final, apesar da resistência barulhenta do argentino Javier Milei e do desconforto de países como Estados Unidos e Alemanha.
O texto é longo, com mais de cinco páginas e 85 pontos, e bastante detalhado para um encontro de chefes de Estado. Evidentemente o Brasil cedeu, deixando de fixar uma proposta objetiva de taxação, por exemplo, e defendendo de forma talvez enfática demais a difícil posição a favor de dois Estados, Israel e Palestina.
Ainda sobre Palestina, a palavra genocídio não foi mencionada, o que tem sido a linha do Brasil nos documentos oficiais, em contraste com alguns posicionamentos mais duros de Lula. Por outro lado, a palavra Rússia também não entrou na declaração final, malgrado a presença de Joe Biden, que cometeu a violência de anunciar no Brasil a autorização para Volodymyr Zelensky usar armas de longo alcance.
A adesão envergonhada e de última hora de Milei ao texto em defesa do combate à fome mostrou, ao mesmo tempo, um posicionamento firme do Brasil e uma capacidade de articular outros países na pressão sobre os “dissidentes”.
Tudo indica que foi Emmanuel Macron quem, nesta semana, convenceu Milei de que não era boa ideia contrariar 18 dos países mais ricos do mundo e mais União Africana e União Europeia. Mas é preciso ponderar, também, que a intenção de lutar contra a fome esbarra ainda na falta de recursos materiais para isso: os US$ 25 bilhões anunciados pelo BID (Banco Mundial) são quase simbólicos diante de 733 milhões de pessoas passando fome no mundo. O problema, pelo menos sugere o andar da carruagem, não será resolvido até 2030, data prevista pelas metas de desenvolvimento sustentável definidas em 2015.
No fim da tarde e na noite de segunda, Milei soltou um comunicado no melhor estilo “fumei, mas não traguei”, criticando a proposta da Aliança contra a Fome nos termos propostos por Lula e pelo G20, mas justificando sua adesão dizendo que só com mais liberalismo se combate a miséria.
Segundo seu credo, menos Estado é a melhor forma de fazer isso, contrariando todas as evidências, especialmente as apresentadas por Lula sobre os resultados desastrosos da resposta neoliberal à crise de 2008.
Apesar do cabelo de roqueiro, Milei parece seguir mesmo o melhor estilo Chitãozinho & Xororó: como os sertanejos, prefere seguir “negando as aparências” e “disfarçando as evidências”.