Moradores do norte das Filipinas usaram pás e rodos para limpar suas casas da lama e dos escombros nesta sexta-feira (25/10), enquanto outros, bloqueados nos telhados de suas moradias, ainda aguardavam resgate. O saldo do número de mortes causadas pela tempestade tropical Trami subiu para 66 pessoas.
Milhares de filipinos continuavam desalojados após fugir de enchentes causadas por uma chuva torrencial, equivalente a dois meses de precipitação em apenas dois dias em algumas áreas.
“Muitos ainda estão presos nos telhados de suas casas e pedindo ajuda”, informou Andre Dizon, diretor da polícia para a região de Bicol, uma das mais afetadas. “Esperamos que as enchentes diminuam hoje, já que a chuva parou.”
No entanto, a acessibilidade ainda era um grande problema para os socorristas na sexta-feira, especialmente em Bicol, afirmou o presidente Ferdinand Marcos durante uma coletiva de imprensa. “Esse é o problema que estamos enfrentando em Bicol, o acesso é muito difícil”, disse ele, acrescentando que o solo encharcado causou “deslizamentos em áreas que não tinham histórico de deslizamentos”.
‘Perdemos tudo’
Em Laurel, uma cidade pitoresca próxima ao lago Taal, ao sul da capital Manila, repórteres da AFP viram estradas bloqueadas por árvores caídas, veículos submersos em lama e casas muito danificadas por inundações repentinas.
“Vimos máquinas de lavar, carros, eletrodomésticos e telhados sendo arrastados”, contou a moradora Mimie Dionela, de 56 anos. “Tivemos sorte de a chuva ter ocorrido de manhã; com certeza muitos teriam morrido se fosse à noite,” disse ela. “Foi indescritível o medo que sentimos.”
Islao Malabanan, de 63 anos, também acredita que sobreviveu porque a enchente aconteceu durante o dia, mas lamenta que sua família tenha perdido tudo, “incluindo nossas roupas”.
Jona Maulion, que abriu uma oficina mecânica em Laurel há menos de um ano, questionou se sua família conseguiria recomeçar do zero. “Pensamos que estávamos no caminho do sucesso no negócio”, disse a mulher de 47 anos. “Eu não imaginava que isso aconteceria, perdemos tudo.”
Número de mortes aumenta
Nas primeiras horas da manhã, Trami deixou as Filipinas e seguiu em direção ao oeste pelo mar da China Meridional, mas o balanço de mortos continuava a subir com novos relatos de vítimas.
Na província de Batangas, ao sul de Manila, o número de vítimas confirmadas mais que dobrou, passando para 34, informou a polícia a uma emissora de rádio local na tarde de sexta-feira. Mais cedo, o sargento da polícia Nelson Cabuso disse à AFP que seis corpos não identificados foram encontrados na vila de Sampaloc, na mesma região.
“A área foi atingida por uma enchente repentina ontem. Nossa equipe ainda está no local para verificar se há mais vítimas”, explicou.
Outras cinco pessoas morreram em uma enchente na vila costeira de Subic Ilaya, segundo o policial Alvin de Leon. Na sexta-feira, a polícia da região de Bicol relatou um total de 28 mortes, enquanto outros corpos foram encontrados nas províncias de Quezon, Zambales e Masbate.
Em uma coletiva de imprensa, o presidente Marcos destacou que as cidades de Naga e Legazpi relataram “muitas vítimas, mas ainda não conseguimos chegar lá”.
Dois meses de chuva em dois dias
Escritórios do governo e escolas na ilha principal de Luzon permaneceram fechados na sexta-feira, com alertas de tempestades ainda vigentes ao longo da costa oeste, onde ondas de até dois metros eram esperadas.
O especialista da agência meteorológica estatal, Jofren Habaluyas, informou que a província de Batangas registrou “dois meses de chuva”, ou 391,3 milímetros, acumulados entre os dias 24 e 25 de outubro.
Um relatório oficial na quinta-feira à noite registrou 193.000 pessoas removidas diante das inundações que transformaram ruas em rios e enterraram algumas cidades com sedimentos vulcânicos liberados pela tempestade. Equipes de resgate nas cidades de Naga e Nabua usaram barcos para resgatar moradores presos nos telhados, muitos dos quais pediram ajuda através de postagens no Facebook.
A busca por um pescador desaparecido, cujo barco afundou nas águas da província de Bulacan, a oeste de Manila, foi suspensa devido às fortes correntezas, informou o escritório local de desastres.
Cerca de 20 grandes tempestades e tufões atingem as Filipinas ou suas águas territoriais anualmente, danificando casas, infraestrutura e causando dezenas de mortes. Porém, um estudo recente mostrou que tempestades na região Ásia-Pacífico estão se formando cada vez mais próximas das costas, intensificando-se mais rapidamente e permanecendo por mais tempo em terra devido às mudanças climáticas.