O presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista à TV Record na noite desta segunda-feira (01/04), que, apesar de ter prometido durante a campanha que iria mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, viu que fazê-lo “não é tão simples”. Neste domingo (31/03), o governo brasileiro anunciou que abriria um escritório de negócios na cidade.
“Eu fiz uma promessa de campanha e, obviamente, eu vi depois as dificuldades, que não era uma coisa tão simples assim. (…) Quando a gente cria aqui uma representação para atender negócios em Jerusalém, nós demos mais um passo para essa questão. Essa casa vai estar voltada para tratar de ciência, tecnologia. Agora, isso é um simbolismo apenas”, afirmou.
O presidente afirmou que “deu um passo muito grande” ao votar contra a Palestina na ONU. “Quando começamos a votar de forma independente as questões junto à ONU, que trata de direitos humanos, fui muito criticado pela mídia brasileira, porque estávamos votando contra a Palestina. Mas, votar contra a Palestina é votar contra Cuba, Coreia do Norte, contra a Venezuela, disse.
A abertura do escritório comercial abalou as relações brasileiras com o mundo árabe, grande consumidor de carne vindo do país sul-americano. Diante da repercussão negativa, o governo disse que Bolsonaro irá fazer, no segundo semestre, uma viagem a “algum país” do Oriente Médio.
“O Benjamin Netanyahu [premiê de Israel] obviamente gostaria que eu transferisse, mas nós temos conversado com o mundo árabe, porque o Brasil é um país de todos, tem todo mundo lá dentro, e nós buscamos conversar com essas pessoas, conversar com embaixadores”, disse.
“Vamos fazer uma viagem para a região do Oriente Médio no segundo semestre… e essa questão será colocada na mesa, para chegar num diálogo, num entendimento, para não termos problema de parte a parte”, afirmou o presidente.
Reações
Após o anúncio da criação do escritório comercial, a Autoridade Palestina chamou de volta para consultas o embaixador no Brasil, Ibrahim Alzeben. A medida, de acordo com a chancelaria palestina, foi adotada “a fim de tomar as decisões apropriadas para enfrentar tal situação”, a qual condenou “nos termos mais fortes”.
A OLP (Organização pela Libertação da Palestina) disse, ainda durante o final de semana, que a visita de Bolsonaro a Jerusalém Oriental era “totalmente inaceitável”. O presidente brasileiro e o premiê israelense foram juntos na segunda ao Muro das Lamentações, que fica em uma área da cidade ocupada por Israel em 1967.
O grupo palestino Hamas também condenou a visita de Bolsonaro ao Muro. Em comunicado oficial, o grupo palestino disse que a visita é um movimento que “não só contradiz a atitude histórica do povo brasileiro que apoia a luta do povo palestino por liberdade e contra a ocupação, como também viola leis e normas internacionais”.
O Hamas ainda rechaçou o fato de Bolsonaro ter visitado o monumento acompanhado de Netanyahu, e o anúncio do presidente do Brasil de abrir um escritório comercial na cidade.
“O Hamas pede ao Brasil para reverter essa política imediatamente que é contrária às leis internacionais e a posição de apoio do povo brasileiro e dos povos da América Latina”, diz o comunicado.
Alan Santos/PR
Mudar embaixada ‘não era uma coisa tão simples assim’, disse Bolsonaro