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Diplomacia

"China está ofendida, mas mira relação de longo prazo com Brasil"

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Para diplomata, dificuldade em importar insumos para vacina da China tem pouco a ver com atritos com Brasil, embora "falta de maturidade política" do governo Bolsonaro não ajude; o mesmo vale para doses vindas da Índia

Larissa Linder

Deutsche Welle Deutsche Welle

2021-01-22T12:32:33.000Z

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Apesar do histórico conflituoso da gestão do presidente Jair Bolsonaro com a China, maior parceiro comercial do Brasil, e de divergências com a Índia, Fausto Godoy, que atuou como diplomata por 40 anos, com passagens por esses dois países, não acredita que esses atritos pesem nas atuais dificuldades enfrentadas pelo Brasil quanto à obtenção de doses e insumos para a produção de vacinas contra a covid-19. Embora certamente não ajudem.

"A China está desgostosa, ofendida. Mas ela credita às pessoas que estão no poder o descarrilamento do trem, e ela aposta nas relações de longo prazo", afirma o diplomata, que se aposentou como embaixador em 2015. Hoje, coordena o núcleo de estudos asiáticos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e é membro da Diretoria da Câmara de Comércio Brasil-Índia.

Godoy destaca as prioridades tanto da Índia quanto da China de vacinar suas populações de mais de 1 bilhão de pessoas e de dar preferência a exportações para países vizinhos como fatores determinantes para a importação tanto de doses da Índia quanto de insumos da China. Mas faz uma ressalva quanto a Pequim.

"Evidentemente, se a gente tivesse um relacionamento mais simpático, mais fluido, certamente a posição da China seria mais proativa. Tem uma série de fatores que criam essa situação, a começar a esses ataquezinhos (à China de autoridades brasileiras), o que é absolutamente infantil", comenta.

O Brasil se vê às voltas em tratativas para obter insumos da China para produzir vacinas no Instituto Butantan e na Fiocruz. Nesta quinta-feira (21/01), o presidente do Butantan, Dimas Covas, afirmou que a matéria-prima já está quase esgotada no Brasil. Em coletiva de imprensa, Covas pediu que o presidente e o ministro das Relações Exteriores ajudassem a "aplainar a relação com a China".

No histórico de relações diplomáticas entre o Brasil e o país asiático há uma série de atritos desde 2019. Em março de 2020, por exemplo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), declarou que a China era a culpada pela pandemia. No mês seguinte, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, insinuou que o país asiático teria ganhos com a disseminação do coronavírus Sars-Cov-2 e fez piada com o sotaque chinês.

À época, o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, manifestou repúdio e exigiu um pedido de desculpas por parte do governo brasileiro.

Em outubro, Jair Bolsonaro afirmou que não compraria a vacina chinesa - em claro embate com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) - e que a mesma não seria segura. A seguir, seu filho Eduardo acusou a China de fazer espionagem por meio de sua rede 5G. A embaixada reagiu novamente com repúdio.

Além de matéria-prima, o Brasil ainda aguarda a chegada de 2 milhões de doses de imunizante da Oxford/AstraZeneza da Índia, que finalmente tiveram a exportação autorizada nesta quinta, após o Ministério da Saúde ter anunciado que chegariam no último domingo. No final de semana, autoridades indianas afirmaram que o governo brasileiro estava se precipitando, e que ainda não exportaria vacinas. Na terça, a índia começou a exportar, mas apenas para vizinhos.

A liberação veio após o Brasil recuar, nesta semana, de um posicionamento contrário para neutro, à proposta indiana e sul-africana para quebra de patentes de produtos relacionados ao combate do Sars-Cov-2 na Organização Mundial do Comércio (OMC). Godoy, no entanto, não vê uma relação direta entre a liberação indiana com esse recuo.

Em entrevista à DW Brasil, ele fala também da amplitude das relações com os parceiros comerciais e do que considera falta de maturidade política por parte da gestão Bolsonaro.


AFP/S. Lima
Os presidentes Xi Jinping e Jair Bolsonaro em encontro do Brics em Brasília, em novembro de 2019

DW Brasil: Em que medida a política conduzida pela gestão do presidente Jair Bolsonaro em relação à China, incluindo postagens em redes sociais de aliados políticos, afetam as relações diplomáticas entre os dois países?

Fausto Godoy: Nossa percepção sobre a China é muito desfocada, e isso se reflete nas pessoas que ocupam o poder. É um país que está se tornando a maior potência do planeta e que tem 4 mil anos de história. Onde os brasileiros entram? Com ataques, com esses achincalhamentos. Revelam falta de maturidade política e de sólida envergadura política essas declarações e a maneira tosca de ver um país como a China.

Você tem nas autoridades federais e no governo pessoas que tiveram atitudes muito radicais. Você tem um deputado, presidente da Comissão de Relações Exteriores (Eduardo Bolsonaro), que criou uma briga absolutamente inútil. Eu sei que o embaixador da China, em qualquer lugar do mundo, não teria palavras ásperas se não houvesse autorização explícita do governo chinês. A manifestação dele foi excessivamente veemente para o perfil diplomático da China, então é claro que China ficou ofendida. Mas até onde vai essa ofensa?

A China sabe pesar as coisas, ela mandou as cartas (de repúdio), e está repensando momentaneamente as relações com o governo brasileiro, mas não com o Brasil. Isso quer dizer que ela vai romper? Não, porque o Brasil é muito importante para ela, porque tem a questão do agronegócio, das matérias-primas. A China tem uma parceria estratégica com o Brasil desde 1993.

Em que medida a atual dificuldade de obtenção de insumos para vacinas vindos da China é resultado da política externa brasileira conduzida desde 2019?

A China está desgostosa, ofendida. Mas ela credita às pessoas que estão no poder o descarrilamento do trem, e ela aposta nas relações de longo prazo. Ela está prejudicando o Brasil com a [questão dos insumos para a] vacina? Não. Não se esqueça de que a China também tem 1,3 bilhão de pessoas para vacinar. Outra coisa: a China tem compromissos com vários outros países, com o continente africano, importante para ela. Ela vai atender o Brasil? Vai, mas no ritmo dela.

Agora, evidentemente, se a gente tivesse um relacionamento mais simpático, mais fluido, certamente a posição dela seria mais proativa, e não simplesmente uma posição profissional. Tem uma série de fatores que criam essa situação, a começar por esses ataquezinhos, o que é absolutamente infantil.

No caso da negociação com a Índia, a afirmativa de que o país exportaria ao país veio apenas na quinta-feira, após o Brasil recuar de sua posição na OMC na questão das patentes. É possível correlacionar esses dois fatos?

A prioridade da Índia é a Índia, e ela tem 1,3 bilhão de habitantes para vacinar. Ela é a maior produtora de vacinas do mundo, mas você imagina o que é vacinar com urgência toda essa população. Outra coisa é a vizinhança e a presença da Índia na região. Qual é a prioridade da Índia no mundo? A região próxima. E ela priorizou Ilhas Seychelles, Bangladesh, Myanmar, etc.

Nós é que fomos afoitos em, antes de fechar isso de maneira consolidada, sair alardeando aos quatro ventos. Isso é imaturidade das autoridades, principalmente um assunto de tamanha importância. Resultado: isso criou uma pressão sobre o primeiro-ministro, Narendra Modi, que teve que aceitar essa situação. A Índia tem muito empenho conosco porque o Brasil é um mercado crescentemente importante para eles. Mas antes de atender a importância do Brasil, ela tem que atender suas necessidades internas. Nós é que fomos afoitos dizendo que estava líquido e certo.

Então não há relação direta com a postura do Brasil na OMC?

Que país pode tomar uma atitude baseada nisso ou naquilo? Talvez tenha influenciado em algo, mas isso define uma atitude de política externa? Uma coisa é pensar, eles devem ter ficado de uma certa maneira pensando sobre, mas eu acompanho os jornais indianos e não tenho lido nada disso, não vi nada disso sobre a OMC e o Brasil. Eles têm as prioridades deles.

De maneira geral, pode-se afirmar que, nesses casos específicos, a condução da política externa brasileira não foi definidora para gerar as dificuldades, mas também não ajudou?

Sim, nesses casos específicos é isso. As relações internacionais não são preto ou branco, são vários tons de cinza. Não é nem sim nem não, depende. O que move os países não é amizade, é interesse. Se você tem interesses que coincidem, então eles são amigos.

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Sociedade

Número de vítimas de pedofilia dentro da Igreja pode chegar a 10 mil na França

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Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país

Redação

RFI RFI

Paris (França)
2021-03-02T22:41:00.000Z

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Desde 1950, 10.000 crianças e adolescentes podem ter sido vítimas de violências sexuais cometidas por membros da Igreja Católica na França. Essa é a estimativa do presidente da comissão independente que investiga a pedofilia dentro da maior instituição religiosa no país. 

A comissão foi criada em 2018 pelo episcopado francês e institutos religiosos após diversos escândalos no país. Em parceria com o Ministério da Justiça, uma linha telefônica foi colocada à disposição em 2019 para receber testemunhos de vítimas de todo o país. A estimativa foi feita a partir dos relatos recolhidos.

O número de crianças e adolescentes sexualmente abusados, no entanto, ainda pode mudar. “Nossa campanha está pedindo testemunhos, certamente não reuniu a totalidade [de vítimas]”, afirmou o presidente da comissão Jean-Marc Sauvé nesta terça-feira (02/03). “A grande pergunta neste momento é qual o percentual de vítimas que atingimos. 25%? 10%? 5%?”, completou.

O presidente da comissão não informou quantos são os possíveis agressores envolvidos. Segundo ele, no entanto, "em várias instituições católicas ou comunidades religiosas, tem havido um verdadeiro sistema de abuso, mas esta situação representa uma minoria muito pequena dos casos de que ouvimos falar".

Pxhere
Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia cometida por membros da Igreja Católica na França foram identificadas desde 1950

O relatório final com recomendações de práticas de combate à pedofilia na Igreja deve ser divulgado em setembro. 

Responsabilidade pelo passado

Em fevereiro, a Conferência de Bispos da França reuniu 120 representantes ao longo de três dias para discutir a responsabilidade nos casos de pedofilia do passado. A discussão terminou sem nenhuma decisão prática.

"Nós concordamos todos que, no passado, houve falhas na gestão das coisas, sem falar dos crimes cometidos", afirmou o Monsenhor Luc Ravel. "Mas ainda estamos divididos sobre a noção de responsabilidade coletiva em relação ao passado. Alguns acreditam que é preciso solidariedade em relação às gerações precedentes", disse na ocasião da conferência.

Os 120 bispos devem se encontrar novamente no final deste mês para votar um dispositivo de reconhecimento do sofrimento vivido pelas vítimas que, se aprovado, pode prever medidas financeiras, criação de monumentos e políticas de prevenção à pedofilia.

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