O governo do Chade anunciou, na última quinta-feira (28/11), o fim do acordo de cooperação em defesa com a França, uma medida que colocou um ponto final na presença militar francesa na região do Sahel.
A decisão ocorre após a retirada das tropas francesas de outros países da região, como Mali, Burkina Faso e Níger, em um movimento que tem refletido a mudança nas relações entre a França e seus antigos aliados no continente africano.
De acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Chade, a decisão foi comunicada à comunidade nacional e internacional – o governo do país africano afirmou que, apesar da rescisão do acordo de defesa, as relações históricas e os laços de amizade entre o Chade e a França permanecem intactos.
O texto destaca, ainda, que o Chade segue disposto a manter um diálogo construtivo com Paris, buscando novas formas de cooperação em áreas de interesse mútuo.
A rescisão do acordo de defesa com a França é a mais recente medida em uma série de mudanças nas dinâmicas de poder e cooperação entre a França e seus antigos aliados no Sahel, que nos últimos meses passaram a distanciar-se da influência francesa na região.
Com a retirada das forças francesas, o Chade, até então o último país do Sahel a manter uma presença militar do país europeu, se viu mais uma vez no centro das discussões sobre a segurança regional e o papel da França nas antigas colônias africanas.
Além disso, a decisão também foi tomada em um momento de crescente preocupação com a segurança regional: o Chade, assim como outros países do Sahel, continua com presença forte de grupos extremistas, como o Boko Haram, que atuam em países como o Chade, Niger, Nigéria e Camarões.
Cooperação em outras áreas, e com outros países
Em sua declaração, o governo chadiano sublinhou que a decisão não questiona a cooperação entre os dois países em outras áreas, como o desenvolvimento e a economia, e reafirmou a disposição de manter um diálogo construtivo com a França.
O governo também se comprometeu a continuar com os acordos de cooperação em outras frentes e se mostrou aberto a explorar novas formas de parceria com o país europeu.
Por outro lado, a retirada das forças francesas do Sahel também leva a uma crescente articulação de novos blocos de segurança entre os países da região. O país, que já é membro da Força Conjunta do Sahel, que reúne o Mali, o Níger e Burkina Faso, agora se vê em uma posição estratégica para fortalecer essas alianças.
A adesão à Aliança dos Estados do Sahel (AES), criada por esses países para combater o terrorismo e fortalecer a segurança regional, é vista como uma alternativa interessante para o Chade, como afirmou o especialista em segurança Youssouf Adam Abdallah, que considera que a integração do Chade a esta força seria benéfica para enfrentar as ameaças terroristas que assolam a região.
A decisão do governo do Chade também ocorre em um momento de redefinição das relações entre a França e seus aliados africanos, que têm questionado as antigas formas de cooperação e a presença militar no continente. A medida do Chade é um reflexo das tensões políticas e da busca por uma maior autonomia na definição das questões de segurança e defesa no Sahel.
Ainda que o país continue a manter laços com a França em outros setores, como comércio e desenvolvimento, o enfraquecimento da influência francesa na região está cada vez mais evidente, e o Chade se prepara para enfrentar novos desafios e fortalecer suas alianças regionais.
(*) Com Sputnik e Telesur.