Durante a reunião extraordinária de ministros dos Estados Ibero-Americanos, realizada na última segunda-feira (30/11),de maneira virtual, o ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo do governo Bolsonaro utilizou toda sua intervenção para acusar a Venezuela de ser uma ditadura e rechaçar a presença de representantes do governo de Nicolás Maduro no espaço. Em resposta, o ministro venezuelano Jorge Arreza sugeriu que o ministro brasileiro tomasse um chá para acalmar-se.
“Queria recomendar ao chanceler do Brasil uma receita. O comandante Fidel Castro estudou muito a moringa, uma planta extraordinária, com propriedades curativas e também tranquilizante”, disse. “Eu quero recomendar um chá de moringa, com um pouco de valeriana. Já vai ver como se abre o espaço para a tolerância ideológica, para que possamos inclusive debater”, disse. “Podemos inclusive debater eu e o senhor, sozinhos. Eu desafio. Moringa, nos sentamos, falamos de democracia, direitos humanos, da Amazônia, de mudanças climáticas, de geopolítica”, afirmou o ministro venezuelano.
A Conferência Ibero-Americana reúne os 22 países da América Latina e da Península Ibérica. O evento, que declarou a necessidade de criação de um fundo emergencial contra a covid-19, é uma atividade prévia à cúpula anual, que será realizada em abril de 2021, em Andorra.
Em seu discurso, Ernesto Araújo insistiu que a Venezuela vive uma “tragédia múltipla”, expressa em uma crise econômica, política, social, humanitária e de valores. Lamentou a ausência de representantes do autoproclamado presidente Juan Guaidó e ainda sugeriu que o governo brasileiro poderia romper com a organização.
“A presença do regime madurista nesta sala corrói os pilares fundamentais dessa comunidade, o sentimento de pertencimento e a vontade de estar juntos”, declarou Araújo.
Assim como em outras ocasiões, o chanceler brasileiro acusou, sem provas, o governo de Nicolás de Maduro de ser cúmplice de estruturas internacionais de narcotráfico e crime organizado.
Como únicas propostas para a Conferência Ibero-Americana indicou a criação de estruturas de combate ao tráfico de drogas e outros tipos de delitos internacionais, a criação de mecanismos de aferição do nível de liberdade e democracia dos países, assim como a emissão de sanções contra países que rompam com o Estado democrático de direito.
José Cruz/Agência Brasil
Araújo virou motivo de piada em fórum internacional ao atacar Venezuela
“Há uma forte expectativa do Brasil de que os demais países dessa conferência possam trabalhar conosco pela restauração democracia da Venezuela”, conclui o ministro brasileiro.
Discursando depois de Araújo, ainda em tom jocoso, no final da sua declaração, o chanceler Arreaza enviou uma mensagem ao corpo diplomático brasileiro. “Sei que vocês estão em resistência, que tem vergonha das posições de seu chanceler. Mas fiquem tranquilos. Isso é temporário e, no final, nenhum governo, nenhum chanceler pode derrotar a excelência do que representa o Itamaraty. No final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais”, declarou.
As declarações do chanceler Ernesto Araújo vão ao encontro do que analistas já apontavam como possíveis estratégias da oposição venezuelana e seus aliados internacionais para atacar o governo bolivariano.
As supostas denúncias de crise humanitária generalizada, aliadas à reprodução do discurso de “narcoterrorismo” difundido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seriam as justificativas para ativar o mecanismo Responsabilidade para Proteger (R2P) contra a Venezuela.
O compromisso R2P tem três pilares: 1) Responsabilidade de cada Estado de proteger suas populações; 2) Responsabilidade da comunidade internacional de ajudar os Estados a proteger sua nação; 3) Responsabilidade da comunidade internacional em proteger uma população das ações de um Estado. O último pilar seria utilizado como justificativa para intervir na Venezuela.
No próximo domingo, mais de 20,7 milhões de venezuelanos estão convocados a eleger 277 deputados que irão conformar a nova Assembleia Nacional. Juan Guaidó declarou que não irá participar do processo e convocou uma consulta nacional para o dia 12 de dezembro, a fim de questionar se os venezuelanos querem uma mudança de governo.
Apesar de a figura jurídica do referendo revogatório estar prevista na Constituição Venezuelana, a oposição guaidosista se apoia num mecanismo sem qualquer previsão legal.