O presidente do México, Enrique Peña Nieto, declarou nesta quarta-feira (29/08) que mantém a versão dada pela Procuradoria Geral da República (PGR) sobre o caso dos 43 jovens de Ayotzinapa desaparecidos em 2014, no estado de Guerrero, a qual afasta qualquer possibilidade de forças policiais estarem envolvidas no caso.
Em um vídeo, no qual fez um balanço de seu mandato – que termina no começo de dezembro -, o mandatário afirmou que a PGR forneceu evidências “claras e contundentes” de que o grupo foi incinerado por um grupo de criminosos que atuavam no estado e ainda lamentou que os pais das vítimas não aceitem a decisão.
“A investigação está aí, evidentemente diante da negação e rechaço dos pais de família em aceitar os alcances da investigação realizada pela PGR, onde havia evidência claras e contundentes de que, lamentavelmente, os 43 jovens foram incinerados por um grupo de criminosos que operava no estado de Guerrero”, afirmou Peña Nieto.
O presidente mexicano ainda disse que está “convicto de que, lamentavelmente, aconteceu exatamente o que a investigação apurou”.
Após as afirmações do mandatário, o Centro de Direitos Humanos Miguel Augustín Pro Juárez (Centro Prodh) declarou que não é a versão da PGR que os pais não aceitam, mas a falta de provas definitivas sobre o ocorrido.
“Não é a resistência dos pais e mães a aceitar a dita versão principal do caso, senão a ausência de um esclarecimento obtido por provas científicas definitivas”, afirmou a organização.
El caso Ayotzinapa y lo que aún le debemos a los mexicanos. pic.twitter.com/ayFmtbYL3c
— Enrique Peña Nieto (@EPN) 29 de agosto de 2018
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Presidente mexicano disse que está "convicto de que aconteceu exatamente o que a investigação apurou" (Reprodução)
O Centro Prodh também declarou que a versão da PGR foi rechaçada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pelo Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU), e pelo Tribunal Colegiado do Poder Judicial do México que ordenou a criação de uma comissão da verdade para apurar o desaparecimento.
Entenda o caso
Os 43 jovens desaparecidos na noite de 26 de setembro de 2014 eram estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa. Na data, os normalistas (como são chamados alunos de 1º grau) estavam indo até a cidade de Iguala, no estado de Guerrero, para um protesto contra o governo.
O ônibus em que o grupo viajava foi interceptado pela polícia no caminho até Iguala e, a partir daí, as versões são contraditórias.
Segundo a investigação oficial realizada pela PGR, os estudantes teriam sido presos a mando do prefeito de cidade, José Luis Abarca, a fim de evitar o protesto.
Da prisão, a investigação oficial conclui que o grupo foi sequestrado pela própria polícia municipal e entregue às lideranças do cartel Guerreros Unidos, sob a acusação de pertencerem a um grupo de narcotraficantes rival, o Los Rojos.
A PGR conclui que os estudantes foram executados com tiros na cabeça e seus corpos incinerados e despejados em um rio.
O prefeito da cidade foi afastado do cargo e, após um mês foragido, foi preso sob a acusação de integrar o grupo de narcotraficantes Guerreros Unidos.
Entretanto, para os demais alunos da escola de Ayotzinapa e pais das vítimas, as conclusões divulgadas após a investigação conduzida pela PGR não se sustentam por falta de provas definitivas.
Para eles, a versão oficial visa acobertar outros envolvidos no crime. Documentos fornecidos pelo estado de Guerrero indicariam a presença da polícia federal e do exército na operação.
Até mesmo um relatório do órgão mexicano que reúne exército e polícias do país teria registrado os horários da chegada das tropas federais ao local.
Outra evidência que contradiz a conclusão da PGR é um vídeo divulgado na internet, gravado por uma das vítimas, em que se ouve a voz de um estudante dizendo “os policiais já estão indo. Vão ficar só os federais e vão querer nos atacar”.
Para os alunos da escola e pais das vítimas, o caso se trata de um desaparecimento político, um ataque contra a própria escola que, com seu histórico de luta social, representa um inconveniente para os poderes locais como governos corruptos e grupos de narcotraficantes.