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Direitos Humanos

"O que é importado não é o racismo, mas discursos de racistas"

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Para jurista e filósofo, negacionismo em relação ao racismo é antigo e contribui para a manutenção do problema no Brasil

Edison Veiga

Deutsche Welle Deutsche Welle

2020-12-04T19:35:13.000Z

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Nesta semana, o jurista e filósofo Silvio Almeida foi classificado como um "detrator". Seu nome apareceu numa lista elaboradora por uma empresa contratada pelo governo federal, a pedido do Ministério da Economia, como um influenciador crítico à gestão do presidente Jair Bolsonaro.

Sua resposta veio de forma irônica, pelo Twitter – onde ele é seguido por mais de 250 mil usuários. "Acabo de saber que meu nome foi incluído em um relatório produzido a mando do Ministério da Economia. Minha grande preocupação agora é: em qual lugar do currículo Lattes devo colocar esta honraria?", escreveu, fazendo referência à plataforma acadêmica que serve como repositório de currículos de pesquisadores brasileiros.

Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Fundação Getúlio Vargas, ambas em São Paulo, e pesquisador visitante da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Almeida é uma importante voz contemporânea nas discussões antirracistas no Brasil. Ele preside o Instituto Luiz Gama, organização não governamental que luta pela defesa dos direitos e garantias de negros e minorias, e é autor do livro Racismo Estrutural, publicado no ano passado.

Ele conta que, ao ver as notícias sobre o espancamento até a morte de João Alberto Freitas num supermercado Carrefour de Porto Alegre no último dia 19, ficou "absolutamente sem reação".

Em meio às repercussões após o crime, Almeida incomodou-se com a maneira como Bolsonaro, e o vice, Hamilton Mourão, buscaram negar a existência de racismo no Brasil, classificando a questão como uma causa "importada”.

"O que está sendo importado, na verdade, não é o racismo, mas os discursos feitos pelos racistas em outros lugares e que, agora, são tropicalizados a partir da experiência brasileira e das autoridades brasileiras", afirma o pesquisador em entrevista à DW Brasil. "Se está havendo importação, essa importação está sendo feita por aqueles que não se importam com o racismo no país."

DW Brasil: Na última terça-feira (01/12), se tornou pública uma "lista de detratores", produzida a mando do Ministério da Economia, com jornalistas, professores e influenciadores que seriam contrários ao atual governo. Seu nome constava nela. Como o senhor se sente em relação a isso?

Silvio Almeida: Um sentimento misto. Por um lado, me faz pensar que estou do lado certo da história, da vida, da democracia. Do lado do povo brasileiro, do lado daqueles que lutam por igualdade, dando orgulho aos nossos ancestrais e aos meus companheiros e companheiras.

Ao mesmo tempo, vejo isso com muita apreensão, porque sou um homem negro neste país. Então, fica um temor pela segurança da minha pessoa, da minha família, dos meus amigos. E também, por conta do meu país, um temor por saber que estou vivendo sob um governo de pessoas que são autoritárias, pessoas que não têm nenhum apreço pela democracia. Isso é algo assustador.

A partir deste mês, a Fundação Palmares, entidade do governo federal, oficialmente atualizou a lista dos homenageados pela instituição. Quase 30 nomes deixaram de ser considerados "personalidades negras", entre eles Gilberto Gil, Martinho da Vila e Madame Satã. Entram outros, como Mussum e o policial do Bope Rostan Honorato da Silva. Como o senhor avalia essa mudança?

Há certas ocasiões na vida em que atos aparentemente de afronta, atos que querem nos diminuir acabam nos engrandecendo. Esse é um ato de engrandecimento, porque tem lugares em que é melhor não estar, diante de certas circunstâncias. Acredito que, daqui a um tempo, a história vai reservar um lugar bastante apropriado para todos os atores dessa circunstância, esta peça que está sendo desenvolvida. Só isso que tenho a dizer. Quero expressar meu respeito, minha admiração ainda maior por todas as pessoas que foram retiradas dessa lista.

Silvio Almeida/Arquivo pessoal
"Protestos antirracistas tendem a aumentar à medida que não houver respostas eficazes", diz Silvio Almeida

Como o senhor soube do assassinato de João Alberto Freitas, um homem negro, num Carrefour de Porto Alegre? Qual foi a sua reação?

Soube do caso pela televisão […] quando vi mais uma vez um ato de violência e, mais uma vez, um caso de violência racista. Vi tudo aquilo com muito choque. Não houve primeira reação. Fiquei absolutamente sem reação. Foi muito brutal, muito chocante.

Qual sua leitura sobre os protestos que surgiram em consequência ao assassinato?

São absolutamente fundamentais. Dão índice de que não perdemos a capacidade de indignação. Os protestos tendem a aumentar à medida que não houver respostas eficazes que possam interromper esse ciclo de violência institucional, que é estrutural no nosso país. Precisamos caminhar para a construção de respostas eficientes ao problema da violência, e os protestos, eles vão se intensificar à medida que essas respostas não forem dadas.

A sociedade brasileira está conseguindo compreender que há, sim, racismo no Brasil?

O debate ganhou força e está sendo travado de uma forma sofisticada. Estamos conseguindo discutir o racismo para além das questões individuais, para além de discutir relações interpessoais. Estamos discutindo mais o racismo do que o racista. É importante entender que é o racismo que forma o racista, que permite dar espaço para o ódio. O racismo é um processo social, político, histórico.

Pensar em racismo estrutural necessariamente é estabelecer um pensamento crítico, que nos leva a pensar não apenas nos contornos analíticos do problema, mas também pensar em formas de ação. Acho que este é o próximo passo. Está havendo também muitas vezes uma distorção do conceito de racismo estrutural para dar guarida à irresponsabilidade de certos indivíduos. Entendemos que o racismo é algo que nos atravessa independentemente da consciência, ele nos constitui, nos molda. Mas à medida que sabemos disso, temos responsabilidade inclusive por nossos atos individuais. Precisamos ficar mais atentos. A responsabilidade aumenta, não diminui.

De que forma discursos como o do vice-presidente Mourão, que disse que não existe racismo no Brasil, que "é uma coisa que querem importar", fortalecem comportamentos racistas da sociedade?

[Pronunciamentos assim] são fundamentais para o fortalecimento do racismo, porque é uma postura negacionista de uma violência que é cotidiana. É como se houvesse um beneplácito do Estado brasileiro, por meio de suas autoridades, para que essa violência continue, permaneça.

Acho que um dos componentes para a manutenção do racismo no Brasil é o negacionismo. Esse discurso de importação é um discurso antigo, velho, que não quer reconhecer que os seus problemas são seus, ou seja, que o Brasil é um país onde todos os índices e dados estatísticos mostram que população negra é, sim, discriminada, não lhe é dada condição de exercer os direitos garantidos. Mas o governo atual não gosta muito de ciência, não gosta muito de nada que lembre dados e realidade. Isso de dizer que é um problema importado é uma forma de blindar os racistas e o racismo.

No Dia da Consciência Negra, o presidente Bolsonaro também negou a existência de racismo no Brasil e disse ser "daltônico", como forma de ressaltar que não vê diferença entre as etnias…

Em inglês daltonismo é color blindness [cegueira à cor]. Há uma grande discussão hoje das teorias acerca das relações raciais sobre como o discurso racista vai ganhando novas formas, e uma das formas é justamente o discurso do color blindness. Porque isso permite que situações de desigualdade e discriminação sejam vistas apenas como atos isolados, e não como resultado de uma clivagem racial.

O que está sendo importado, na verdade, não é o racismo, mas os discursos feitos pelos racistas em outros lugares e que, agora, são tropicalizados a partir da experiência brasileira e das autoridades brasileiras. Se está havendo importação, essa importação está sendo feita por aqueles que não se importam com o racismo no país.

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Transição nos EUA

Nosso movimento está apenas começando, diz Trump em mensagem de despedida

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Na véspera de encerrar seu mandato, presidente dos EUA disse que 'cumpriu promessas' e desejou 'sorte' a Joe Biden

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2021-01-19T22:42:00.000Z

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O presidente dos EUA, Donald Trump, que terá seu mandato encerrado amanhã, divulgou nesta terça-feira (19/01) uma mensagem de despedida e afirmou que o movimento iniciado por ele "está apenas começando".

"Enquanto nos preparamos para passar o poder para um novo governo ao meio-dia de quarta-feira, quero que vocês saibam que o movimento que nós iniciamos está apenas começando. Nunca houve nada igual", disse.

As declarações vem em meio a um processo de impeachment contra o republicano por ele ter incitado seus apoiadores durante uma manifestação que culminou na invasão do Congresso no dia da certificação da vitória de Joe Biden.

Trump condenou a invasão e disse que "todos os americanos ficaram horrorizados com a agressão ao nosso Capitólio". "Violência política é um ataque a tudo que prezamos como americanos. Isso nunca pode ser tolerado", afirmou.

Sorte, outsider e 'vírus chinês'

O republicano disse que cumpriu todas as promessas de campanha e chegou a desejar sorte ao próximo presidente, mas não mencionou o nome de Biden.

"Ao término do meu mandato como 43º presidente, estou orgulhoso de tudo o que conquistamos juntos. Nós fizemos o que viemos fazer e muito mais. Nesta semana, começamos um novo governo e rezamos por seu sucesso e pela manutenção de um país próspero e seguro. Desejamos que tenham sorte", disse.

White House
Na véspera de encerrar seu mandato, presidente dos EUA disse que 'cumpriu promessas' e desejou 'sorte' a Joe Biden

Segundo o Trump, ele concorreu à presidência porque "sabia que havia novos e altíssimos cumes nos EUA esperando para serem escalados".

"Quatro anos atrás, eu cheguei a Washington como o único outsider a vencer a presidência. Eu não me via como político, mas abri possibilidades infinitas", afirmou.

Sobre a pandemia da covid-19, Trump voltou a atacar a China chamando o novo coronavírus de "vírus chinês" e comemorou o que chamou de "rápido desenvolvimento" de uma vacina nos EUA contra a doença.

O republicano ainda celebrou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, a pressão imposta a outros países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e disse ter cumprido metas de "reforçar a segurança" na fronteira com o México.

*Com Ansa

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