A operação policial na comunidade de Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que deixou 25 mortos nesta quinta-feira (06/05), ganhou destaque na imprensa internacional. Chamando de ‘banho de sangue’, o jornal francês Le Monde afirmou que o episódio na cidade foi o “mais pesado desde 2016”.
O periódico se baseou em declarações dos moradores da comunidade que relataram terem visto “cadáveres caídos na calçada em poças de sangue”, assim como “vários corpos retirados de um veículo blindado da polícia”.
“Muitos policiais foram vistos circulando pela comunidade, enquanto moradores assustados tentavam retomar suas atividades após o fim do tiroteio”, disse o Le Monde recordando que operações desse tipo estão “proibidas” pelo Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro.
Em junho de 2020, os ministros do STF proibiram tais invasões durante a crise sanitária devido à pandemia da covid-19. Operações desse nível podem ser executadas em casos “excepcionais” e que sejam justificadas perante o Ministério Público do Rio de Janeiro.
El País
O espanhol El País, por sua vez, apontou que agentes de segurança do Rio de Janeiro que estavam na operação “entraram nas casas dos moradores” para realizar buscas, situação que só “pode ser feita com ordem judicial”. “Em uma das imagens recebidas pelo El País, três agentes carregam um corpo envolto em um lençol branco, o que dificulta qualquer trabalho forense”, disse o diário.
Segundo o jornal, a Polícia Civil carioca e o Ministério Público do Rio foram contatados pela publicação, mas que, até o momento, não obtiveram respostas pelas organizações.
“A ação policial desta quinta-feira mostra que, mesmo durante a pandemia do coronavírus, a política de segurança pública do governador Cláudio Castro (PSC) no Estado do Rio continua a ser pautada pelo enfrentamento direto aos traficantes de drogas nas favelas e bairros periféricos, ignorando uma decisão do Supremo Tribunal Federal”, afirmou o El País.
A publicação afirma que recebeu imagens de “corpos caídos no chão e pessoas ensanguentadas”. “Também estão circulando fotos de casas com marcas de balas e paredes e pisos manchados de sangue”, disse.
Página/12
O jornal argentino Página/12 afirmou que “desde as primeiras horas do dia”, Jacarezinho “se transformou em um verdadeiro campo de batalha”. “Moradores relataram que encontraram mortos em terraços e vielas e que muitos corpos foram colocados em um caminhão blindado da polícia”, disse o diário.
Reprodução/ @vozdacomunidade
‘Operação mais mortal da história’ do Rio de Janeiro, disse o jornal britânico The Guardian sobre chacina em Jacarezinho
O periódico apontou que organizações de direitos humanos foram até o local e “fiscalizaram as casas que foram invadidas durante a ação policial, algumas com vestígios de sangue e destruição”.
“A operação foi executada apesar de uma decisão do Supremo Tribunal Federal ter impedindo a polícia de invadir bairros periféricos durante a pandemia do coronavírus”, disse o Página/12.
The Guardian
“Operação mais mortal da história” do Rio de Janeiro, disse o jornal britânico The Guardian. O periódico afirmou que “policiais fortemente armados invadiram” umas das “maiores favelas” da cidade.
“Cerca de 200 membros da polícia civil do Rio lançaram sua incursão ao Jacarezinho […] enquanto um helicóptero à prova de balas circulava acima com atiradores posicionados de cada lado”, disse.
O diário aponta ainda a “celebração” de policias e “suas animadoras de torcida nos tabloides cariocas” em relação à operação que matou 25 pessoas. Porém, o Guardian afirmou que o episódio gerou “indignação” de ativistas de direitos humanos “quando a escala da carnificina se tornou clara”.
“Antes da quinta-feira, a operação policial mais mortal do Rio havia ocorrido em 2007, quando 19 pessoas perderam a vida durante uma operação na comunidade do Complexo do Alemão”, disse.
Al Jazeera
A emissora Al Jazeera afirmou que “centenas de policiais fortemente armados” invadiram o Jacarezinho para “supostamente” realizar uma operação contra o tráfico na comunidade. “Vídeos e fotos compartilhados por moradores com a Al Jazeera mostraram explosões de granadas, bem como cenas horríveis de cadáveres caídos nas ruas”, disse.
De acordo com a emissora, a “mídia brasileira aplaudiu amplamente” a operação desta quinta-feira. “Especialistas em segurança pública ficaram horrorizados e disseram que o ataque pode ter sido motivado por outros fatores”, afirmou a Al Jazeera apontando que a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu uma “investigação independente” nesta sexta-feira (07/05).
A Al Jazeera também disse que a “polícia ainda não divulgou informações” sobre as vítimas da operação, declarando que moradores afirmam que a “maioria dos assassinatos não ocorreu entre os tiroteios”. Assim como a identificação dos mortos, a emissora aponta que o STF do país “ainda não comentou se a operação mortal de quinta-feira se enquadra” na proibição de 2020.
Télam
Já a agência de notícias argentina Télam declarou que a operação desta quinta feriu “até passageiros do metrô” que passavam pela área de Jacarezinho. “Vizinhos relataram abuso de força por parte da polícia: uma noiva não pôde comparecer ao próprio casamento e uma grávida com cesárea marcada não pôde sair de casa”, disse apontando que explosões de granadas na região “assustaram moradores” da comunidade.