O número de migrantes resgatados no mar no norte da França aumentou quase 30% em 2024, totalizando 6.310 pessoas, de acordo com um relatório anual publicado nesta quinta-feira (13/02) pela prefeitura marítima do Canal da Mancha e do Mar do Norte. A travessia nesse braço de mar do oceano Atlântico que separa a ilha da Grã-Bretanha do norte da França, se unindo ao Mar do Norte, é alvo frequente de operações dos dois países, na tentativa de conter a passagem de pessoas pela via.
No ano passado, ao todo 45.203 migrantes estiveram envolvidos em operações de assistência ou resgate no mar no Estreito de Pas-de-Calais, que separa a França do Reino Unido (+26%), de acordo com este relatório.
Entre essas pessoas, na área sob responsabilidade da França, a prefeitura marítima (Prémar) contabilizou 72 mortos e três desaparecidos.
Na semana passada, o chefe do Gabinete de Luta contra o Tráfico Ilícito de Migrantes (Oltim), Xavier Delrieu, havia citado 78 mortes em 2024, um recorde desde o surgimento, em 2018, do fenômeno dos “pequenos barcos”. Essas embarcações improvisadas tentam chegar à costa inglesa em condições precárias de navegação. Há repetidos casos de embarcação improvisadas que sofrem danos no motor, botes rasgados e passageiros sem coletes salva-vidas.
Dados divulgados pelo Ministério do Interior britânico em janeiro de 2025 apontaram um total de 36.816 migrantes irregulares que cruzaram o Canal da Mancha vindos da França, em 2024. O número representava um aumento de 25% em relação a 2023.

Migrantes enfrentam situações perigosas até chegar ao Reino Unido
54 pessoas por barco
Em seu relatório anual, a Prémar ainda destaca que o número médio de migrantes a bordo dessas embarcações, “estruturalmente inadequadas” para a navegação no mar, aumentou: de 45 para 54 pessoas por barco, em um ano.
Segundo o Prémar, essa sobrecarga tem implicação no aumento do número de naufrágios. As equipes do órgão observam um aumento da mortalidade a bordo desses botes por asfixia e por esmagamento, diretamente ligada ao número excessivo de passageiros.
Além disso, “a extensão das zonas de partida para o sul” até à cidade de Dieppe, na Normandia, “aumenta o tempo de travessia, expondo os migrantes mais longamente a elementos externos, bem como às consequências ligadas à sobrecarga”, aponta o Prémar.
Hiportermia e asfixia
Contrabandistas e migrantes estão tão determinados a chegar ao Reino Unido que muitas vezes só aceitam assistência oferecida pelos serviços de resgate franceses “como último recurso” e em uma situação de “extrema emergência”, revela o Prémar.
O órgão especifica que “as etapas de embarque e/ou retorno à praia são as mais perigosas e caóticas, gerando riscos de hipotermia ou mesmo afogamento e/ou asfixia”.
Associações e ONGs que ajudam migrantes na costa francesa apontam que a vigilância policial na fronteira franco-britânica não tem conseguido dissuadir os migrantes e os traficantes de pessoas, capazes de se arriscarem cada vez mais.