ONU: quatro milhões de refugiados do Sudão podem ficar sem ajuda alimentar
Sem recursos adicionais, programa de assistência pode ser interrompido em seis meses, deixando especialmente crianças vulneráveis à fome e desnutrição
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) alertou nesta segunda-feira (30/06) que quatro milhões de refugiados sudaneses em países vizinhos correm “o risco de mergulhar ainda mais na fome e na desnutrição”. A falta de recursos para assistência alimentar ameaça interromper o programa de ajuda humanitária.
A agência das Nações Unidas informou que desde o início do conflito, em abril de 2023, famílias sudanesas fugiram para a República Centro-Africana (RCA), Chade, Egito, Etiópia, Líbia, Sudão do Sul e Uganda “em busca de comida, abrigo e segurança”. “Muitas vezes chegando traumatizadas, desnutridas e com pouco mais do que as roupas do corpo”, acrescentou a nota do PMA.
“O PMA mobilizou-se rapidamente para fornecer assistência emergencial aos refugiados que fugiam para sete países vizinhos e às comunidades anfitriãs que generosamente acolheram refugiados, apesar de muitas vezes enfrentarem suas próprias necessidades de insegurança alimentar”, declarou.
“No entanto, a assistência alimentar contínua está rapidamente excedendo o financiamento disponível. O apoio do PMA aos refugiados sudaneses na RCA, Egito, Etiópia e Líbia pode ser interrompido nos próximos meses, à medida que os recursos se esgotam”, alertou o comunicado.
Em detalhe, o programa de ajuda afirmou que os refugiados sudaneses na Uganda “sobrevivem com menos de 500 calorias por dia – menos de um quarto das necessidades nutricionais diárias”. Já no Chade, que abriga quase um quarto dos quatro milhões de refugiados que fugiram do Sudão, “as rações alimentares serão reduzidas nos próximos meses, a menos que novas contribuições sejam recebidas em breve”.

PMA auxiliou um milhão dos 1,16 milhão de recém-chegados ao Sudão do Sul desde o início do conflito
Programa Alimentar Mundial
Segundo o PMA, as crianças refugiadas são “particularmente vulneráveis a períodos prolongados de insegurança alimentar” e que as taxas de desnutrição infantil nos centros de acolhimento “já ultrapassaram os limites de emergência visto que os refugiados estão gravemente desnutridos antes mesmo de chegarem aos países vizinhos para receber assistência emergencial”.
O Coordenador de Emergência do PMA para a Crise Regional do Sudão, Shaun Hughes, afirmou que esta é uma “crise regional generalizada que se manifesta em países que já apresentam níveis extremos de insegurança alimentar e altos níveis de conflito”.
Segundo a autoridade, a situação é tão crítica que os refugiados “que fogem para salvar suas vidas enfrentam mais fome, desespero e recursos limitados do outro lado da fronteira”.
Diante da urgência, o PMA pediu à comunidade internacional que mobilize recursos adicionais. “O PMA precisa de pouco mais de US$ 200 milhões (cerca de R$1,1 bilhão) para sustentar sua resposta emergencial aos refugiados sudaneses em países vizinhos pelos próximos 6 meses. Outros US$ 575 milhões (cerca de R$3,162 bilhões) são necessários para operações de salvamento dos mais vulneráveis no Sudão”, apelou.
Por fim, Hughes ressaltou que a ajuda humanitária “por si só não acabará com os conflitos e os deslocamentos forçados”, mas que “a ação política e diplomática global é urgentemente necessária para pôr fim aos combates” no Sudão.