Projeto de expulsão de migrantes para Ruanda deve ser abandonado, anuncia novo premiê britânico
Chefe do Partido Trabalhista já havia evocado vontade de colocar um fim polêmico programa dos conservadores, oficialmente lançado em 2022, mas que nunca começou a ser executado
O novo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ratificou neste sábado (06/07) sua vontade de abandonar o controverso projeto do governo conservador anterior que previa expulsar migrantes ilegais para Ruanda. “Não estou disposto a continuar com medidas enganosas”, afirmou o premiê em coletiva de imprensa organizada após o primeiro conselho de ministros do novo governo britânico.
Para Starmer, o projeto do governo de Rishi Sunak “estava morto e enterrado antes mesmo de começar”. O chefe do Partido Trabalhista já havia evocado sua vontade de colocar um fim ao polêmico programa dos conservadores, oficialmente lançado em 2022, mas que nunca começou a ser executado.
A questão da imigração foi um dos principais temas da campanha eleitoral no Reino Unido. As eleições legislativas realizadas na última quinta-feira (04/07) deram uma vitória histórica ao Partido Trabalhista, de centro-esquerda, que obteve 33,8% dos votos e ficou com 412 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns, muito acima das 326 necessárias para obter a maioria absoluta.

Os conservadores do agora ex-primeiro ministro Rishi Sunak obtiveram 121 cadeiras (23,7%) frente às 365 de cinco anos atrás com Boris Johnson. Esse é o número mais baixo desde a fundação do partido, em 1834.
Longa batalha legislativa
No final de abril, o Parlamento britânico aprovou um projeto de lei que previa expulsar para Ruanda, no centro-leste da África, requerentes de asilo que entraram de forma ilegal no Reino Unido. A medida recebeu sinal verde após meses de uma batalha legislativa entre a Câmara dos Lordes, órgão consultivo opositor ao projeto, e os deputados conservadores, que tinham maioria na Câmara Baixa.
A aprovação foi extremamente criticada pela ONU e ONGs de defesa dos direitos humanos, que fizeram apelos para que Sunak revogasse o projeto de lei. No entanto, o programa seguiu adiante porque compunha a base da política de combate à imigração ilegal do ex-premiê. O objetivo era começar a expulsar os imigrantes neste segundo semestre de 2024.

Chefe do Partido Trabalhista já havia evocado sua vontade de colocar um fim ao polêmico programa dos conservadores
Desde maio, pessoas passíveis de ser enviadas a Ruanda passaram a ser detidas no Reino Unido. Mas diante das incertezas que suscitaram a campanha para as eleições legislativas britânicas, a Justiça ordenou a libertação de dezenas de migrantes.
Combate à imigração ilegal
Durante a campanha, Starmer prometeu lutar contra a imigração ilegal, em particular contra a chegada de migrantes ao Reino Unido através do Canal da Mancha. O novo governo também prevê adotar medidas inspiradas na luta contra o terrorismo para combater o tráfico de seres humanos e reforçar o tratamento dos pedidos de asilo no país. Além disso, quer reforçar a cooperação com a França, de onde viajam ilegalmente muitos estrangeiros para chegar ao território britânico.
Para Starmer, um elemento-chave na política para impedir a chegada de pessoas através do Canal da Mancha seria a criação de um novo comando de segurança fronteiriça de elite. O mecanismo seria composto por especialistas em imigração, com a ajuda do serviço nacional de inteligência MI5.
Mais de 13 mil pessoas chegaram ao Reino Unido desde o início do ano apenas nesta perigosa travessia realizada em pequenas embarcações, um aumento de 18% em comparação ao mesmo período do ano passado, informou o Ministério do Interior do Reino Unido em junho.
O partido de extrema direita Reform UK, do líder populista britânico Nigel Farage, arquiteto do Brexit, fez da imigração sua bandeira de campanha. Ele conquistou 14,3% dos votos, tornando-se a terceira força política mais votada, conseguindo cinco assentos no Parlamento britânico.