A reportagem especial Terrorismo na Itália, ditadura no Brasil: documentos ligam extinta Varig com loja maçônica neofascista, assinada por Janaina Cesar e Eduardo Reina, conquistou o terceiro lugar na categoria de reportagem da 41ª edição do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, organizado pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), em parceria com Ordem dos Advogados do Brasil – RS (OAB-RS).
A matéria, publicada em Opera Mundi, revela as conexões entre a Varig e a loja maçônica Propaganda Due (P2), uma organização secreta italiana envolvida com terrorismo de extrema direita, e seu papel no apoio a terroristas europeus que buscavam refúgio no Brasil durante os anos 1980.
Tal pesquisa, que começou em 2020, levou os repórteres a investigar como a companhia aérea brasileira serviu como ponto de apoio para extremistas de direita, como o banqueiro Umberto Ortolani, ligado à falência do Banco Ambrosiano e à morte de seu presidente, Roberto Calvi.
A fuga de Ortolani para o Brasil teria sido facilitada por uma rede de contatos que incluía membros da Varig, especialmente através de sua filial em Roma.
“Desde 2015, me dedico à pesquisa de arquivos históricos aqui na Itália. Nesse período, descobri inúmeros fatos relevantes sobre a história brasileira — e sei que ainda há muito mais a ser revelado. Foi em meio a essas investigações que nasceu essa reportagem”, disse Janaina Cesar, explicando o início de sua curiosidade sobre os vínculos da P2 com o Brasil.
“Minha curiosidade sobre a P2 foi crescendo com o tempo, especialmente à medida que descobria os vínculos dessa organização italiana com o Brasil. Em 2020, convidei o Reina para se juntar a mim nessa investigação”, completou.
Para Eduardo Reina, a premiação representa o reconhecimento de um trabalho árduo. “Recebemos este prêmio com muito orgulho. É fruto de uma longa caminhada que começou em 2020, com pesquisas sobre a participação de brasileiros na P2” A investigação evoluiu até chegar no banqueiro Umberto Ortolani, que deixou a Itália com destino ao Brasil.
Ele também ressaltou os desafios enfrentados durante o processo: “houve um período em que nós, repórteres, fomos desacreditados por várias fontes. Até que conseguimos comprovar tudo. Foram dezenas de entrevistas, muita sola de sapato gasta na Itália e no Brasil atrás de fontes, documentos, informações.”
A reportagem expõe ainda como a Varig facilitou a fuga de extremistas de direita como Paolo Bellini, envolvido no atentado de Bolonha, em 1980. A pesquisa de Janaina e Eduardo revela também a conexão entre a loja P2 e o regime militar brasileiro, além das implicações políticas e militares que influenciaram os anos de ditadura no Brasil (1964-1985).
Janaina e Reina reconhecem o papel essencial do jornalismo investigativo, que revisita fatos históricos que por diversas vezes seguiriam encobertos. “Este prêmio é um reconhecimento importante do valor do jornalismo que se dedica a resgatar fatos históricos e trazer à tona verdades que, de outra forma, permaneceriam esquecidas”, afirmou Janaina, destacando o compromisso de Opera Mundi com pautas relevantes e urgentes.
“É o jornalismo ‘raiz’, que gasta sola de sapato, sai da redação, conversa com pessoas e investiga a fundo. Esse jornalismo não morreu; está mais vivo do que nunca, e precisamos continuar acreditando nele”, completou.
O trabalho dos jornalistas também expõe a importância de resgatar a memória histórica, especialmente sobre a ditadura militar brasileira e as relações com o regime fascista italiano, revelando como esses vínculos ainda influenciam o cenário político atual.
A cerimônia de premiação ocorrerá no próximo dia 10 de dezembro, em Porto Alegre.