O provável candidato democrata nas eleições dos Estados Unidos, o ex-vice-presidente Joe Biden, deve indicar nos próximos dias sua companheira de chapa para a disputa contra o presidente republicano Donald Trump.
E o substantivo feminino não é à toa: Biden garantiu que indicará uma mulher para o posto. Com a onda de protestos antirracistas, que varreram os EUA nos últimos meses, a expectativa é que o candidato indique uma mulher negra para o posto – mas há mulheres brancas que também estão na disputa pela indicação.
No entanto, caso se confirme, essa não será a primeira vez em que uma mulher vai à eleição geral como candidata a vice por um dos dois grandes partidos: em 1984, a deputada nova-iorquina Geraldine Ferraro (1935-2011) foi a companheira de chapa do ex-vice-presidente Walter Mondale, na campanha derrotada pelo então presidente republicano Ronald Reagan (1911-2004). Em 2008, a então governadora do Alasca, Sarah Palin, acompanhou o senador republicano John McCain (1936-2018) na disputa frustrada contra o então presidente democrata Barack Obama.
O nome de quem vai acompanhar Biden, claro, ainda é fonte de especulação, e somente o círculo mais íntimo da campanha do democrata sabe quem é a favorita, mas a imprensa norte-americana aponta alguns nomes fortes para o posto:
Kamala Harris
Senadora
A senadora pela Califórnia Kamala Harris, 55, é uma das mais cotadas na bolsa de apostas para a vice-presidência de Biden. Nesta terça (29/07), a agência AP inclusive flagrou anotações de Biden se referindo a Harris nos seguintes termos: “não guarda rancores”; “fez campanha comigo e Jill [Biden, esposa do ex-vice]”; “talentosa”; “grande auxílio para a campanha”; “grande respeito por ela”.
Harris tentou garantir a indicação para a presidência, mas desistiu no final de 2019 alegando não ter mais dinheiro para continuar a campanha. Seu melhor momento foi justamente atacando Biden por ter trabalhado junto com políticos segregacionistas durante a década de 1970 na discussão sobre busing – matricular alunos em distritos escolares mais distantes de suas casas e transportá-los até lá por ônibus com o objetivo de promover a integração racial. Biden diz, na verdade, que não se opunha à prática, mas sim o fato de decisões judiciais obrigarem as cidades a aplicá-la. Mesmo assim, a relação entre os dois é boa.
Um ponto de Harris que poderia ser problemático para a campanha é seu histórico como procuradora-geral da cidade de São Francisco e do Estado da Califórnia, sobre o qual já teve que responder algumas vezes. Além disso, o Estado é considerado solidamente democrata, o que não faria diferença na hora do colégio eleitoral.
Harris sempre se definiu como uma “procuradora-geral progressista”, mas não angariou muitos apoios nas alas mais à esquerda do Partido Democrata quando tentava a indicação para a presidência.
Elizabeth Warren
Senadora
A senadora por Massachusetts Elizabeth Warren, 71, está, de acordo com o New York Times, sendo analisada de maneira muito próxima pela campanha de Biden. Uma eventual escolha da política poderia trazer alguns eleitores mais à esquerda para a campanha do democrata, em especial os mais ligados ao senador Bernie Sanders (Vermont), que corre em uma “raia ideológica” semelhante à de Warren. A senadora, que foi uma das mais ativas nas comissões que investigaram o uso de dinheiro público para socorrer bancos na crise de 2008, concorreu em uma plataforma que defendia a redução do poder das grandes corporações.
Assim como Harris, Warren também tentou ser candidata à presidência, mas desistiu da campanha após resultados decepcionantes na Superterça, ocorrida em 3 de março, onde não conseguiu vencer nem no próprio Estado natal.
O nome da senadora perdeu força entre as potenciais escolhas para vice com os protestos antirracistas, que levaram o círculo de Biden a considerar mais fortemente nomes de mulheres negras. A idade de Warren pode ser uma desvantagem para ela: o candidato democrata tem 77 anos e, se eleito, será o mais velho a assumir a presidência – motivo pelo qual pode preferir alguém mais novo como companhia de chapa.
Tammy Duckworth
Senadora
A senadora por Illinois Tammy Duckworth, 52, também aparece bem cotada na bolsa de apostas. Veterana da guerra do Iraque, Duckworth nasceu na Tailândia e, por ser filha de um norte-americano, poderia assumir a presidência dos EUA em caso de impedimento de Biden.
O background militar de Duckworth pode ser útil para Biden em estados mais conservadores. Pilota de helicóptero, ela teve as duas pernas amputadas e perdeu parte dos movimentos de um dos braços em um ataque de insurgentes iraquianos.
Mesmo tendo trabalhado como secretária-assistente para Veteranos no governo Obama, a pouca experiência de Duckworth em economia pode ser um ponto que contaria contra ela em uma eventual escolha. O Estado que ela representa, Illinois, também já vota tradicionalmente nos democratas.
Reprodução
Biden e as sete candidatas principais a vice: decisão no começo de agosto
Val Demings
Deputada
A deputada Val Demings, da Flórida, é outro nome que está na lista de Biden. No cargo desde 2017, Demings, 63, era policial e chefiou o Departamento de Polícia de Orlando entre 2007 e 2011, local onde trabalhou por 27 anos.
Em janeiro, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, indicou Demings para acompanhar o processo de impeachment contra o presidente Donald Trump no Senado, onde ele acabou absolvido. Isso trouxe projeção para a deputada.
O fato de ter sido policial pode, no entanto, contar contra Demings, em um contexto de protestos contra a violência de forças de segurança. Por outro lado, a deputada representa um Estado-chave na eleição e que costuma definir o vencedor do pleito presidencial. Em 2000, por exemplo, o republicano George W. Bush venceu no Estado por apenas 537 votos e levou a presidência.
Susan Rice
Ex-conselheira de Segurança Nacional de Barack Obama e ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas
Segundo o jornal The New York Times, Susan Rice, 55, conhece Biden desde a década de 1990, na época em que o candidato era senador pelo Estado de Delaware. Os dois também trabalharam juntos durante o governo Obama.
Rice despontou como uma das principais candidatas a companheira de chapa de Biden logo após a confirmação de que ele seria o postulante democrata. A experiência internacional conta muito a favor – ajudou a costurar, por exemplo, o acordo nuclear com o Irã –, mas, apesar de já ter flertado com candidaturas ao Legislativo, a falta de experiência em política interna pode ser vista como desvantagem.
Karen Bass
Deputada
O nome da deputada pela Califórnia Karen Bass, 66, ganhou bastante força nas últimas semanas. Líder negra proeminente no Congresso, tem a seu favor a condução do debate sobre violência policial entre os deputados – justamente um dos pontos dos protestos antirracistas do primeiro semestre.
Além disso, ela recebeu um prêmio pelo trabalho durante seu período como presidente da Assembleia Legislativa da Califórnia durante a crise econômica de 2008. Hoje, Bass lidera a bancada negra na Câmara dos Representantes e foca seu trabalho em questões de política externa para a África e de direitos humanos. Pesa contra Bass, no entanto, a pouca projeção nacional.
Bass participou, nos anos 1970, da Brigada Venceremos, um movimento de solidariedade a Cuba que levava jovens norte-americanos de esquerda ao país. Bass viajou diversas vezes à ilha e chegou a ver discursos do líder Fidel Castro, mas nunca o conheceu. Ela afirma ter participado, junto com a brigada, na construção de casas populares em Cuba. Estando na lista de Biden, a deputada se coloca hoje como “defensora da diplomacia”, e, à Tablet Magazine, lembrou que faz parte do comitê executivo da Fundação Nacional para a Democracia, criada pelo ex-presidente (de direita) Ronald Reagan.
Keisha Lance Bottoms
Prefeita de Atlanta
A prefeita Keisha Lance Bottoms, 50, governa a cidade de Atlanta desde 2018 e se tornou um nome conhecido nos EUA nos protestos antirracistas do primeiro semestre. Defendeu a demissão de um policial que assassinou um homem negro na cidade e impulsionou um projeto de reforma na polícia local. Ideologicamente, está mais próxima de Biden do que de Warren, por exemplo.
Ela também precisou lidar com a pandemia de coronavírus na cidade, que foi bastante atingida. A própria Bottoms foi infectada pelo vírus.
Contra a prefeita, pesa a pouca experiência – antes de ser eleita, era vereadora na cidade e atuava como advogada. Ao mesmo tempo, Bottoms pode ajudar a virar um Estado (Geórgia) que tem votado em republicanos nas últimas eleições, mas que, cada vez mais, se torna pêndulo: nas eleições para governador, a democrata Stacey Abrams (ela também, uma mulher negra) perdeu a eleição para o republicano Jack Kemp por apenas 50 mil votos.
Outras candidatas que correm por fora:
Gretchen Whitmer, 48, governadora de Michigan
Tammy Baldwin, 58, senadora por Wisconsin
Michelle Lujam Grisham, 60, governadora do Novo México
Stacey Abrams, 46, candidata derrotada ao governo da Geórgia
Gina Raimondo, 49, governadora de Rhode Island