Atualizado em 19/01, às 18h27
Filha de imigrantes, Kamala Harris (pronuncia-se KÂmala), 55 anos, carrega um histórico de pioneirismo em sua carreira. Quebrando estereótipos nas eleições da Procuradoria-Geral da Califórnia e do Senado dos Estados Unidos, a advogada se consagrou, agora, como a primeira mulher negra na vice-presidência do país.
Harris chegou a disputar a indicação para ser candidata dentro do partido, mas sua campanha perdeu fôlego em dezembro de 2019, quando a ex-senadora desistiu alegando não ter mais dinheiro para continuar a disputa. De uma lista com outras 11 mulheres, ela foi a escolhida para acompanhar Joe Biden na campanha presidencial democrata.
De mãe indiana e pai jamaicano, Harris cresceu no meio de templos hindus e igrejas batistas. Seus pais se conheceram em manifestações contra a Guerra do Vietnã e pelos direitos humanos nos Estados Unidos. Ambos chegaram ainda jovens no país para estudar. Os dois cursaram a Universidade de Berkely, na Califórnia.
Uma longa carreira política que chega ao ápice: quem é Joe Biden, presidente eleito dos EUA
Kamala e Maya, sua irmã mais nova, foram criadas majoritariamente pela mãe após a separação dos pais. A vice-presidente afirmou em sua autobiografia que Shyamala Gopalan, mãe das meninas, “entendia muito bem que estava criando duas filhas negras”.
“Ela estava determinada a garantir que nos tornaríamos mulheres negras confiantes e orgulhosas”, disse.
A democrata passou parte de sua vida estudantil em escolas com maioria de alunos brancos, já que, aos 12 anos, sua mãe, que era pesquisadora sobre câncer, foi convidada para ministrar aulas no Canadá, levando a família consigo.
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De fato, a criação de sua mãe fez com que Harris, no ensino superior, encontrasse outro caminho, indo estudar na Howard University, em Washington, faculdade conhecida no país por ser historicamente de maioria negra. Em 1986, se formou em ciência política e economia. Três anos depois, graduou-se em direito pela Universidade da Califórnia. Em 1990, inicia sua carreira na promotoria do condado de Alameda, também na Califórnia.
Subindo na política
Em 2003, na promotoria distrital, Harris se tornou a principal promotora de San Francisco, antes de ser eleita a primeira mulher negra no cargo de Procuradora-Geral da Califórnia, em 2010. Permaneceu no cargo até 2015, quando se lançou ao Senado norte-americano.
Ao saber da aposentadoria da senadora democrata Barbara Boxer, Harris declarou sua intenção de preencher a vaga. Na disputa, a atual vice dos EUA recebeu apoio inclusive do então presidente Barack Obama.
Conquistando a vaga nas eleições de 2016, se tornou a primeira mulher de origem asiática e segunda negra a integrar o Legislativo. Na Câmara Alta do país, Harris se destacou na defesa de pautas que iam na contramão das de Donald Trump. Na época do Senado, a agora vice-presidente votou contra duas indicações do republicano para a Suprema Corte dos Estados Unidos.
Reprodução
Kamala Harris, a vice-presidente dos EUA
Sua postura no Senado também foi de oposição a outros temas caros ao governo Trump, seja na política de imigração, seja quanto a proposta do Partido Republicano de abolir o programa de saúde Obamacare. Harris sempre se definiu como uma “procuradora-geral progressista”, mas não angariou muitos apoios nas alas mais à esquerda do Partido Democrata quando tentava a indicação para a presidência.
Com a desistência dentro do Partido Democrata e confirmação de Biden como candidato oficial, o nome de Harris foi o escolhido para acompanhar o hoje presidente no pleito de novembro de 2020.
Chapa Biden-Harris
Quando Biden anunciou nome de Harris para a vice-presidência, a ex-senadora se tornou a primeira mulher negra a disputar o cargo por um dos dois grandes partidos norte-americanos. Ao divulgar sua escolha, Biden afirmou que Harris é “uma lutadora destemida pelos mais simples, e uma das melhores servidoras públicas”.
“Na época em que Kamala era procuradora-geral, ela trabalhou de perto com Beau [Biden, filho do candidato, morto em 2015]. Eu vi enquanto eles enfrentavam grandes bancos, ajudavam pessoas trabalhadoras, e protegiam mulheres e crianças de abusos. Tinha orgulho na época, e tenho orgulho agora de tê-la como minha companheira nesta campanha”, afirmou.
Ambos já haviam se enfrentado em debates nas primárias democratas. Em um deles, Harris desferiu um ataque forte ao agora presidente norte-americano por ter trabalhado junto com políticos segregacionistas durante a década de 1970 na discussão sobre busing – a prática de matricular alunos em distritos escolares mais distantes de suas casas e transportá-los até lá por ônibus com o objetivo de promover a integração racial. Biden diz, na verdade, que não se opunha à prática, mas sim ao fato de decisões judiciais obrigarem as cidades a aplicá-la. Mesmo assim, a relação entre os dois é boa.
A ex-senadora foi escolhida por dialogar com um público mais jovem e acrescentar um ar de novidade e diversidade à chapa democrata. Na convenção democrata, quando Harris foi confirmada a candidatura, discursou contra o racismo estrutural existente na sociedade norte-americana, relembrou a morte de George Floyd, um homem negro morto por um policial branco, e disse que “não existe vacina contra o racismo”.
Com a pandemia do novo coronavírus e o Estados Unidos sendo o país com maior número de casos, a vice-presidente atacou Trump afirmando que a liderança do republicano “custou vidas humanas”. “Daqui a alguns anos, quando este momento passar, nossos filhos e netos vão olhar dentro dos nossos olhos e nos perguntar: 'Onde vocês estavam quando tanta coisa estava em jogo?'”, questionou. “E nós contaremos a eles não só o que sentimos, vamos contar a eles o que nós fizemos.”
2028 (ou 2024)
Muito se fala sobre a idade avançada de Biden, 78 anos, o presidente mais velho a ser empossado na presidência norte-americana. Em caso de um segundo mandato, o democrata assumiria com 82 anos. Nessa lógica, Biden escolheu alguém que pudesse continuar a liderança. Isso torna Harris a favorita à indicação para as eleições de 2024 caso o presidente Biden não concorra.
A vice-presidente já havia declarado que sua identidade a ajuda representar os norte-americanos marginalizados. Agora, dentro da Casa Branca, Harris tem a chance de realizar o que defendeu em diversos momentos.