Duas semanas depois das eleições parlamentares na Alemanha, social-democratas, verdes e liberais voltam a se reunir nesta segunda-feira (11/10) visando a formação de uma nova coalizão de governo. Enquanto isso, os conservadores da ainda chanceler Angela Merkel tentam reorganizar o partido após a derrota nas urnas.
A segunda reunião entre os três partidos ocorre nesta segunda-feira, quatro dias depois de um primeiro encontro. Esta fase está sendo chamada de “sondagem aprofundada”. Essa etapa ainda não trata diretamente da coalizão de governo, mas tenta aparar as arestas, reduzir as diferenças entre os diversos lados, para se saber se existe a possibilidade de uma cooperação.
Um acordo não é uma tarefa fácil quando existem três partes negociando, como acontece agora, em vez de duas, como sempre foi mais comum nas discussões para a formação de uma coalizão para o governo alemão. Por isso, tudo segue ainda em aberto.
A reunião dessa segunda foi agendada para demorar 10 horas. Na terça-feira (12/10), está previsto mais um encontro de mais quatro horas. Outra reunião já está agendada na sexta-feira (15/10). No final dessa semana, os três partidos pretendem fazer um balanço para saber se continuam as conversas. Só então decidirão provavelmente se serão abertas negociações formais para uma coalizão de governo – no caso, sob a liderança do social-democrata Olaf Scholz.
Questão fiscal é entrave
Até agora a questão fiscal parece ser maior obstáculo a ser enfrentado para um acordo. Os liberais do Partido Democrático Liberal (FDP) defendem a ortodoxia orçamentária, são completamente contra a modificação da regra constitucional de freio do endividamento, que impede o Estado de tomar emprestado mais de 0,35% do PIB a cada ano.
Já os verdes e o Partido Social-Democrata (SPD) estão dispostos a uma maior flexibilidade para possibilitar mais investimentos. No caso dos verdes, o ponto forte deverá ser investir mais em políticas climáticas.
Os verdes consideram necessário um aumento da carga tributária, principalmente sobre os mais ricos, assim como os social-democratas. Eles querem uma reintrodução do imposto sobre a propriedade e novos encargos sobre rendimentos mais elevados. Já os liberais descartam qualquer aumento de impostos.
OSCE Parliamentary Assembly/Flickr CC
Se firmada, coalizão de governo terá liderança do social-democrata Olaf Scholz
Caos entre conservadores
O partido União Democrata Cristã (CDU), de Merkel e Armin Laschet, não está oficialmente fora do páreo, ainda que verdes e liberais tenham dado prioridade aos social-democratas, pelo fato de eles terem vencido as eleições. Caso as negociações fracassem com o SPD, pode chegar a vez dos conservadores liderarem as conversas.
A formação de uma coalizão entre social-democratas e conservadores também é uma alternativa, ainda que menos desejada, tendo sido descartada por ambos os partidos. Nesse caso, provavelmente os papéis se inverteriam, e o SPD lideraria a aliança, ao contrário do que acontece atualmente, no governo Merkel.
Mas se a chance do CDU liderar uma possível coalizão de governo já não era grande, agora, com o caos interno da legenda, ela parece ainda menor.
Apelos por renovação
Depois que o candidato de Merkel, Armin Laschet, sinalizou que deve deixar a chefia de seu partido, vem crescendo o nervosismo entre os membros do CDU.
Após a catástrofe nas urnas, que deu aos conservadores o pior resultado desde 1949, crescem os pedidos dentro da sigla por uma mudança de geração na liderança da legenda.
E essa mudança até já começou. O atual ministro da Economia, Peter Altmaier, e a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, dois dos aliados políticos mais próximos da chanceler Angela Merkel anunciaram nesse sábado (9) que renunciam a suas cadeiras no parlamento alemão para abrir caminho para parlamentares mais jovens. Eles ressaltaram, porém, que continuam no cargo como ministros de Estado até o novo governo ser formado.
É nesse clima que Laschet se reúne também nesta segunda-feira com seus correligionários para apresentar seus planos para o que chamou de um processo de renovação do partido. Mas o que se teme é que comece agora uma nova briga interna pelo comando dos conservadores. E isso pode resultar num enfraquecimento ainda maior deles no panorama político alemão.