Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (02/09) pela emissora pública alemã ARD mostra que a União (CDU/CSU), grupo conservador ao qual a chanceler Angela Merkel é filiada, aparece com o pior desempenho dos últimos anos a apenas três semanas das eleições parlamentares no país, marcadas para o dia 26 de setembro. Se confirmado, o resultado seria o pior para os conservadores desde 1949.
Ao mesmo tempo, os social-democratas do SPD tiveram um crescimento de sete pontos percentuais em relação ao último levantamento da infratest/dimap, divulgado em agosto. Assim, assumiram a liderança, com 25% das intenções de voto, contra 20% da União, 16% dos Verdes (ambientalistas), 13% do FDP (liberais-democratas), 12% da AfD (extrema-direita) e 6% de Die Linke (esquerda).
Caso este resultado se confirme no dia 26, o SPD obteria mais cadeiras no Bundestag (o Parlamento alemão) e o candidato do partido, o atual vice-chanceler Olaf Scholz, teria preferência para tentar formar uma coalizão e assumir a chefia do Governo. Merkel não concorre à reeleição neste ano e encerra uma era de 16 anos no poder.
Os números apontam para a necessidade de coalizão para formar governo – ou seja, nenhum partido conseguirá obter maioria no Parlamento sozinho. A dispersão dos votos em vários partidos, com nenhum passando dos 25%, também mostra que qualquer coalizão vai precisar, no mínimo, de três partidos, independentemente de qual deles for ocupar a chancelaria.
Atualmente, a Alemanha é liderada por Merkel em uma coalizão União-SPD. Na última eleição, em 2017, a União obteve 32,9% dos votos, contra 20,5% dos social-democratas. No cenário atual, por conta da dispersão dos eleitores, essa mesma coalizão não seria suficiente para formar governo.
O levantamento da infratest/dimap também questionou qual partido que o eleitor gostaria que liderasse o próximo governo. O SPD aparece na frente, com 35% (crescimento de cinco pontos), contra 24% da União (queda de seis pontos) e 13% dos Verdes (queda de dois).
A mesma pesquisa mostra que Scholz, hoje, é o segundo político mais popular da Alemanha – só atrás, justamente, da chanceler Merkel. Por outro lado, a popularidade do candidato da União, o governador da Renânia do Norte-Vestfália Armin Laschet, ajuda a entender o buraco onde os conservadores se meteram: enquanto o social-democrata tem 56% de aprovação (e Merkel, 64%), Laschet aparece em 10º lugar em uma lista com 12 nomes, com apenas 20%. Em último lugar, está Alice Weidel, da extremista AfD, com 12%.
Como é o sistema eleitoral na Alemanha
O sistema eleitoral alemão é diferente do brasileiro e cada eleitor tem direito a dois votos: um, chamado de mandato direto, escolhe um candidato do distrito onde esse eleitor mora. O outro voto é dado a um partido, que apresenta uma lista de candidatos. Metade do Bundestag (que deve chegar a 775 cadeiras neste ano) é escolhido pelo mandato direto; a outra, pelos votos nas listas.
Isso quer dizer que o chanceler não é escolhido pelo voto direto, mas a partir do número de total de cadeiras que o partido obteve na eleição. A pesquisa, no entanto, questionou em quem os alemães votariam se pudessem escolher diretamente um candidato. Scholz aparece disparado na frente, com 43% (crescimento de dois pontos em relação a agosto), seguido por Laschet, com 16%, e por Annalena Baerbock, dos Verdes, com 12%.
Desempenho da esquerda na Alemanha
Die Linke (que significa ‘A Esquerda’) repete nesta pesquisa ARD-DeutschlandTrend os 6% do levantamento da Forsa, divulgada pela emissora RTL na semana passada. Se confirmado, o resultado seria inferior ao obtido em 2017 (9,2%) e ficaria muito próximo da cláusula de barreira de 5%.
A cláusula, no entanto, só conta para o segundo voto. O partido precisa ou conquistar 5% desses votos, ou obter ao menos três mandatos diretos no primeiro voto para entrar no Bundestag.
Por isso, é improvável que A Esquerda (partido herdeiro do SED, que governou a Alemanha Oriental até 1989) fique de fora do Parlamento, já que ela ainda retém força em algumas áreas do leste do país (em especial em Berlim) e tem boas chances de conseguir mandatos diretos. Em 2017, a agremiação obteve cinco.