Quando Annalena Baerbock foi nomeada candidata a chanceler federal alemã pelo Partido Verde em abril, logo foi tratada como a primeira política do Partido Verde com reais chances de chegar ao posto mais alto do governo do país, embalada pela súbita e notável alta da legenda nas pesquisas de intenção de voto.
Mas foi então que ela começou a sofrer uma enxurrada de ataques pessoais, colocando-a na defensiva. As críticas minaram sua credibilidade: Baerbock, que nunca ocupou um cargo público, foi acusada de cometer pequenas imprecisões em seu currículo oficial, de atraso no pagamento de impostos sobre um considerável bônus de Natal recebido, por ter cometido plágio em trechos de seu livro. Ela reagiu rápido, pedindo desculpas pelos erros. Mesmo assim, suas taxas de aprovação seguiram despencando em meio a uma onda de ataques à candidata verde.
A poucas semanas das eleições, o Partido Verde caiu para 15% nas pesquisas – o que ainda é um aumento notável em relação aos 8,9% de apoio que obteve nas eleições gerais anteriores, em 2017.
Jovem, autoconfiante, disposta a assumir o poder: essa foi a imagem que Baerbock sempre gostou de mostrar de si mesma, desde que se tornou conhecida em todo o país. Ela foi eleita uma das líderes do partido no início de 2018, juntamente com Robert Habeck – a liderança dupla, uma mulher e um homem, foi introduzida na Alemanha justamente pelo Partido Verde, no início dos anos 90.
No início menos conhecida do que seu parceiro no comando dos verdes, ela há muito havia desenvolvido seu próprio perfil: como especialista em clima da bancada parlamentar; como especialista em política externa; como uma combatente do populismo e da xenofobia; como uma ardorosa defensora da unidade europeia.
Preferida entre os mais jovens
Em debates ao vivo na TV com seus dois concorrentes à Chancelaria Federal – o conservador Armin Laschet, da União Democrata Cristã (CDU), e Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD) –, a líder verde de 40 anos tem marcado pontos entre os eleitores mais jovens.
Ela atacou o atual governo de coalizão entre CDU e SPD, criticando sua política de proteção climática. “Estamos descumprindo nossas metas climáticas, com consequências dramáticas, e vocês dois deixaram claro que não se orientaram em torno das soluções, mas apenas colocam a culpa um no outro sobre quem esteve atrapalhando o quê”, disse.
Baerbock se diz a favor da eliminação gradual da energia movida a carvão até bem antes do prazo final atual, estipulado pelo governo para 2038. Ela também apoia um limite de velocidade de 130 quilômetros por hora nas autoestradas alemãs, as autobahns, e limites a voos de curta distância. Ela defende ainda um aumento do salário mínimo para 12 euros por hora e se opõe a um aumento nos gastos com defesa.
Flickr CC/Die Grünen
Favorita nas pesquisas meses atrás, candidata do Partido Verde à Chancelaria Federal caiu para o terceiro lugar em meio a ataques
Baerbock também se pronuncia sobre questões espinhosas de política externa, defendendo uma postura dura em relação à Rússia e à China em relação a questões de direitos humanos. Ela também alerta sobre as ameaças representadas pelo populismo de extrema direita e pela xenofobia.
Os verdes tradicionalmente têm dificuldade em obter votos no leste da Alemanha. Baerbock e sua família de quatro pessoas moram há muito tempo na cidade de Potsdam, situada numa região que pertencia à antiga Alemanha Oriental.
Inglês fluente
Nascida em 1980 na pequena cidade de Pattensen, na Baixa Saxônia, norte do país, ela foi uma atleta nata, ficando em terceiro lugar no campeonato nacional de ginástica de trampolim da Alemanha.
Ela tinha apenas 16 anos quando foi passar um ano nos Estados Unidos. Mais tarde, estudou Direito em Hannover antes de ingressar na London School of Economics, onde estudou Direito internacional. Baerbock consegue dar entrevistas em inglês fluente – algo que mesmo nos dias de hoje ainda não é comum entre políticos alemães.
Em uma entrevista à DW no início de 2021, Baerbock elogiou a decisão do presidente Joe Biden de trazer os EUA de volta ao Acordo Climático de Paris. “Nós, europeus, incluindo o governo alemão, precisamos aproveitar a situação atual para concretizar as propostas que o governo dos EUA apresentou em relação à cooperação sobre neutralidade climática. Precisamos avançar e apontar o caminho para um acordo verde europeu e transatlântico”, disse.
No seu programa eleitoral, o Partido Verde não declarou que muito provavelmente buscará uma coalizão governamental com os social-democratas, assim como já fez no passado, e se mantém aberto para todas as opções de coalizão, com exceção de parcerias com a AfD.
De acordo com as pesquisas, os verdes poderiam governar com o SPD e o Partido Liberal Democrático (FDP), talvez até com o SPD e os socialistas de A Esquerda. Mas uma coalizão com CDU, CSU e FDP, por exemplo, também seria possível.