Atualizada às 19h
Milhões de equatorianos foram às urnas neste domingo (07/02) para decidir o próximo presidente e os 137 novos congressistas que governarão o país até 2025.
A jornada eleitoral foi marcada por longas filas nos postos de votação do país. Também foram registradas aglomerações e eleitores se manifestaram preocupados com o risco de contágio pelo novo coronavírus.
Momentos antes do fechamento das urnas, o candidato à Presidência Andrés Arauz, da coalizão de esquerda União pela Esperança (Unes), criticou os atrasos causados pelas filas e pediu ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que garanta o direito a voto a todos que estiverem esperando nos postos de votação antes do encerramento do pleito.
O CNE, por sua vez, no último boletim informativo realizado antes do fechamento, pediu desculpas pelas longas filas que se criaram nas zonas eleitorais, mas elogiou a alta participação que, até às 13h30 locais (15h30 de Brasília) era de 62%.
Nas últimas horas da votação, o órgão também decidiu flexibilizar algumas regras de biosegurança contra a covid-19 para, segundo o CNE, agilizar o processo de votação e diminuir a espera nas filas.
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Cenário da disputa
Diante de um cenário de disputas jurídicas por candidaturas, denúncias prévias de fraude e suspeitas de possíveis suspensões do pleito, as forças progressistas, reunidas na coalizão União pela Esperança (Unes), chegam favoritas na disputa.
A candidatura de Andrés Arauz, um economista de 36 anos que trabalhou no governo do ex-presidente Rafael Correa, aparece liderando a maioria das pesquisas eleitorais e promete trazer o “correísmo” de volta ao comando do país.
Isso porque a política equatoriana foi palco de um rearranjo nos posicionamentos entre esquerda e direita após Lenín Moreno, atual presidente que era vice de Correa, abandonar sua plataforma de governo depois de eleito, em 2017, e aplicar medidas neoliberais.
“A traição de Moreno” é o termo mais utilizado pelos apoiadores de Arauz para definir os movimentos do mandatário e destacar o compromisso de retomada dos projetos iniciados durante os mandatos de Correa que começaram em 2007.
Segundo pesquisas, Arauz teria cerca de 28% das intenções de voto, seguido pelo ex-banqueiro Guillermo Lasso, que chega a pontuar aproximadamente 20%. Na terceira colocação, o candidato indígena Yaku Pérez aparece com 13%.
O resultado não seria suficiente para uma vitória da esquerda em primeiro turno, fato que só acontece se Arauz tiver mais de 50% dos votos ou receber 40% e abrir mais de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado.
A esquerda ainda acusa Moreno de ter iniciado uma perseguição judicial contra quadros progressistas que se mantiveram fiéis aos projetos e propostas iniciadas durante os anos de Correa. O lawfare, termo utilizado para indicar o uso da justiça com finalidades políticas, foi denunciado pelos setores da esquerda nos casos da prisão do ex-vice-presidente Jorge Glas e nos processos contra Correa, que hoje vive na Bélgica, podendo ser preso se voltar ao Equador.
No caso do ex-presidente, os processos voltaram à tona durante a campanha eleitoral após Correa tentar se candidatar a vice na chapa de Arauz e ser impedido pela Justiça equatoriana.
Além das contendas judiciais que atravessam o jogo político do país, os candidatos chegam à disputa diante de uma crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, uma política de cortes e austeridade iniciada por Moreno e as fortes mobilizações populares contra a plataforma neoliberal, com destaque para as marchas indígenas de 2019. Com altos níveis de rejeição, o atual presidente decidiu não se candidatar à reeleição.
CNE
Jornada eleitoral foi marcada por longas filas nos postos de votação do país
O economista e o banqueiro
Apesar de muito jovem, Andrés Arauz tem uma vasta formação acadêmica e já ocupou diversos cargos no governo de Correa. Formado em economia pela Universidade de Michigan, tem mestrado com especialização em economia do desenvolvimento pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO-Equador), e também é PhD em Economia Financeira pela Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
Arauz se tornou diretor do Banco Central do Equador em 2009, quando tinha 26 anos de idade. Também serviu como ministro do Conhecimento e Talento Humano e ministro da Cultura durante o governo de Correa.
Durante a campanha, o candidato da Unes prometeu reverter as políticas neoliberais de Moreno, criar bônus para trabalhadores afetados durante a pandemia, apostar na industrialização e, no âmbito internacional, resgatar organismos como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), progressivamente abandonadas pelos governos de direita da região.
Sobre Correa, Arauz afirma que utilizaram o lawfare nos processos contra o ex-presidente e que, se sair vencedor das eleições, poderá chamar a liderança para um cargo de conselheiro de seu governo.
Em entrevista a Opera Mundi, realizada em dezembro de 2020, o presidenciável disse que “o lawfare contra Rafael Correa foi aplicado exatamente com a mesma receita que foi aplicado contra Lula e Cristina [Kirchner]” e que, sob seu governo, os processos podem ser revisados. “No Equador, será o mesmo como foi na Bolívia. Sem pressão e sem manipulação para que seja revisado o processo contra Correa. E, assim, ele poderá voltar ao país”, afirmou.
O principal rival de Arauz nessas eleições é Guillermo Lasso, um empresário de 65 anos que é acionista do Banco Guayaquil e concorre à presidência pela coalizão de direita chamada Movimiento Creando Oportunidades, ou Movimento CREO.
Disputando pela terceira vez a presidência do país, Lasso foi derrotado pelo atual presidente Moreno no pleito de 2017, mas se aproximou do governo após a guinada neoliberal do mandatário.
Lasso chegou a ser ministro da Economia do país em 1999, quando ocupou o cargo por um mês durante o episódio conhecido como Feriado Bancário, que congelou as contas de milhões de equatorianos, desvalorizou a então moeda nacional e provocou a dolarização da economia. O período foi reconhecido como uma das piores crises financeiras do país.
O candidato da direita é acusado de ter aumentado seu patrimônio em milhões de dólares por especulações financeiras durante o período. Além disso, Lasso aparece no vazamento dos Panama Papers como dono de 49 empresas offshores.
O banqueiro nega as acusações, diz não ter tido nenhuma participação no Feriado Bancário e que toda sua fortuna está no Equador. Sua principal defesa é apontar para os processos contra Correa e outros antigos membros do governo de esquerda por supostos casos de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht.