Durante uma conferência no Palácio Nacional nesta terça-feira (30/07), o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), repudiou a atitude intervencionista da Organização dos Estados Americanos (OEA) nos assuntos internos da Venezuela, ao denunciar que as eleições venezuelanas que reelegeram o presidente Nicolás Maduro, no último domingo (28/07), sofreram uma “manipulação extraordinária”.
A mandatário questionou “no que a OEA tem que se meter?” ao afirmar que “é por isso que a OEA não tem credibilidade”.
“Os governos, outros países pequenos, médios ou grandes, não têm coisas para fazer? Eles deveriam estar se intrometendo nos assuntos de outros países? Por que a interferência?”, criticou AMLO, questionando a atitude de governos e organizações que assumem o direito de determinar “quem é bom e quem é mau”: “cada país é independente, soberano, livre”.
“Com base em que a OEA sustenta que o outro candidato venceu? Onde está a evidência?”, acrescentou, pedindo que a autodeterminação dos povos seja respeitada como forma de impedir manifestações violentas, como as que foram registradas na noite anterior, em várias regiões da Venezuela.
OEA não reconhece vitória de Maduro
O gabinete do secretário-geral da OEA, Luis Almargo, emitiu um comunicado nesta terça-feira acusando o governo do presidente Nicolás Maduro, proclamado vencedor do pleito venezuelano com 51,20% dos votos, de ter aplicado “um esquema repressivo, acompanhado de ações para distorcer completamente o resultado eleitoral”.
Comunicado de la Oficina del Secretario General sobre el Proceso Electoral en Venezuela e Informe de la Secretaría para el Fortalecimiento de la Democracia/Departamento de Cooperación y Observación Electoralhttps://t.co/MkcxBe2hKe
Lee el informe completo aquí:… pic.twitter.com/BW4UMa4Xlb— Luis Almagro (@Almagro_OEA2015) July 30, 2024
A nota afirma que a campanha da oposição “já apresentou as atas pelas quais teria vencido as eleições”, embora não as detalhe, enquanto acusa o “Madurismo, incluindo o CNE” de não terem apresentado as atas até o momento.
Dessa forma, a OEA exige que o presidente venezuelano aceite a “derrota” eleitoral. Caso não, ameaça para a realização de novas eleições sob a supervisão das Missões de Observação Eleitoral (MOE) da União Europeia e da própria OEA, além de um novo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Intervenção da OEA não é inédita
Uma situação parecida ocorreu em 2019, nas eleições presidenciais da Bolívia que reelegeram Evo Morales (MAS). Na época, a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou, sem apresentar evidências, que havia indícios de fraude no pleito.
Liderada pelo secretário-geral Luis Almagro, a OEA havia realizado uma missão de observação no país andino com o suposto objetivo de fiscalizar o processo eleitoral. Horas depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) boliviano confirmou a reeleição de Morales, a entidade divulgou um relatório apontando uma fraude eleitoral que posteriormente foi descartada por estudos independentes.
Naquele momento, a possibilidade de uma fraude inflamou opositores e levou à renúncia do presidente reeleito.
De acordo com o Grupo de Puebla, uma organização formada por 30 líderes progressistas de 12 países da América Latina, a acusação da organização teve consequências graves, levando “à radicalização da oposição política boliviana, tendo como consequência um golpe de Estado” contra Morales.
Pressão à OEA
O Conselho Permanente da OEA convocou uma reunião extraordinária para esta quarta-feira (31/07) com o intuito de “abordar os resultados do processo eleitoral”. A decisão foi tomada após nove países latino-americanos pressionarem a organização, na segunda-feira (29/07), para uma discussão de caráter “emergencial” sobre o assunto.
Foram os governos de Paraguai, Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, que pediram uma “revisão completa dos resultados com a presença de observadores eleitorais independentes”.
Logo em seguida, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela se pronunciou, por meio de nota, denunciando a insistência da extrema direita na intervenção do processo eleitoral nacional.
“A Venezuela expressa a sua mais firme rejeição às ações e declarações interferentes de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington e abertamente comprometidos com os mais sórdidos postulados ideológicos do fascismo internacional, tentando reavivar o fracassado e derrotado Grupo Lima, que pretendem ignorar os resultados eleitorais das Eleições Presidenciais realizadas neste domingo, 28 de julho de 2024”, afirmou o comunicado da chancelaria venezuelana.
#Comunicado 📢 Venezuela expresa su más firme rechazo ante las injerencistas acciones y declaraciones de un grupo de gobiernos de derecha, subordinados a Washington y comprometidos abiertamente con los más sórdidos postulados ideológicos del fascismo internacional, tratando… pic.twitter.com/l0dAaNSnEA
— Yvan Gil (@yvangil) July 29, 2024
A chancelaria venezuelana chegou a anunciar a retirada do seu pessoal diplomático em sete países latino-americanos, descrevendo como “ações e declarações de intromissão” por parte desses governos. O comunicado listou o fechamento das missões diplomáticas na Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Tentativa de golpe
O presidente reeleito Nicolás Maduro denunciou que os ataques coordenados pela oposição venezuelana registrados em algumas regiões do país na noite de segunda-feira (29/07) fazem parte de uma tentativa de golpe de Estado.
O mandatário afirmou conhecer o “modus operandi” da extrema direita, recordando o golpe ocorrido em 2002 contra o então presidente Hugo Chávez e em outros episódios em que a oposição buscou insurreições golpistas após perder eleições.
Segundo ele, a oposição fez o “possível para que as eleições fossem suspensas“, afirmando que, na véspera do pleito, grupos atacaram dois pontos estratégicos do sistema elétrico para provocar um apagão.
Na noite de segunda, o governo registrou mais de 100 ataques, sendo alvos as instituições, pontos de bloqueios, contra estátuas e políticos chavistas.
“Em grande parte, são grupos criminosos com ordens precisas de onde atacar. Estão tentando aproveitar este ponto para iniciar uma escalada de guarimba e não vamos permitir isso”, frisou Maduro.
(*) Com Ansa e Telesur