O ex-candidato da oposição Edmundo González Urrutia, da coalizão de extrema direita Plataforma Unitária, publicou uma carta nesta segunda-feira (05/08) através da qual proclamou a si mesmo como “presidente eleito” da Venezuela.
A declaração contraria o fato de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), principal autoridade eleitoral da Venezuela, declarou o atual presidente do país, Nicolás Maduro, como presidente reeleito, com 51,93%, equivalentes a 6,4 milhões de votos emitidos nas eleições de 28 de julho, e com uma diferença de mais de sete pontos sobre González Urrutia, que ficou com 43,18%, cerca de 5,3 milhões. O resultado considerado válido pelo CNE demonstra um cenário com 96,87% dos votos apurados.
Mesmo antes da publicação dessas estatísticas, a coalizão opositora já defendia a postura de rechaçar a contagem da autoridade eleitoral local, e apresentou um estudo interno no qual alega que González teria obtido 67% dos votos, enquanto Maduro ficou com apenas 30%.
Baseado nesse estudo, González iniciou sua carta dizendo que, segundo ele, “essa é a expressão da vontade popular”, e que “agora cabe a todos nós respeitar a voz do povo. A proclamação de Edmundo González como presidente eleito da República procede imediatamente”.
Venezolanos, ciudadanos militares y funcionarios policiales:
Nuestro mensaje en esta hora decisiva para el futuro de la República. pic.twitter.com/Z7GWTH7rKM
— Edmundo González (@EdmundoGU) August 5, 2024
Em seguida, o ex-diplomata faz um apelo que parece uma tentativa de convencer policiais e militares a iniciar uma insurgência para derrubar o presidente Nicolás Maduro.
“Fazemos um apelo à consciência de militares e policiais, para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com esta massiva violação dos direitos humanos, o alto mando se alia a Maduro e seus interesses vis”, diz o comunicado, que está assinado por González Urrutia e pela líder opositora de extrema direita María Corina Machado.
Não é a primeira vez que um setor da oposição venezuelana usa a estratégia de tentar impor um presidente autoproclamado. Em fevereiro de 2019, o então deputado Juan Guaidó se autoproclamou presidente interino do país e manteve a narrativa por quase dois anos, até que sua não reeleição no pleito legislativo de dezembro de 2020 esvaziou esse discurso.
Outro que utilizou essa estratégia, até mais parecida com a de González Urrutia, foi Henrique Capriles, que perdeu as eleições de abril de 2013 contra Nicolás Maduro, mas também alegou ter sido o verdadeiro vencedor daquela disputa. Na ocasião, o CNE terminou fazendo uma auditoria em 100% das urnas, e não encontrou indício da fraude alegada pelo político de extrema direita.
‘Consequências terríveis’
Minutos antes da difusão da carta, em uma entrevista que María Corina deu à Rede Globo, é possível ouvir a ex-deputada dizer que que se González Urrutia não for reconhecido como presidente eleito, a Venezuela pode sofrer “consequências terríveis”.
“O que está por vir é um processo de desestabilização com enormes e terríveis consequências, não só em vidas, mas também em destruição interna, e um processo migratório massivo que afeta e desestabiliza a região”, afirmou a porta-voz da Plataforma Unitária.
‘Vendendo fumaça’
Em resposta tanto a María Corina quanto a González Urrutia, o vice-presidente do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, disse que o plano da oposição é “aumentar o ódio e as ameaças contra o país, no âmbito de um plano de golpe de Estado contra Maduro”.
No entanto, Cabello também diz acreditar que essa estratégia não terá sucesso. “Eles não assumem responsabilidade pelo que fazem, vivem vendendo fumaça para seu próprio povo”, concluiu.