Atualização às 15h20
O governo da Venezuela revogou, neste sábado (07/09), o consentimento para que o Brasil represente os interesses diplomáticos da Argentina em Caracas.
A decisão inclui a custódia brasileira da Embaixada de Buenos Aires em Caracas, “incluindo seus bens e arquivos”, informou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela.
“A Venezuela vê-se obrigada a tomar esta decisão devido aos indícios de utilização das instalações da referida missão diplomática para o planejamento de atividades terroristas e tentativas de assassinato contra o presidente constitucional da República, Nicolás Maduro Morales, e contra a vice-presidente executiva
Delcy Rodríguez Gómez,”, justificou o país.
A pasta ainda informou que os tais planos terroristas e contra a vida de Maduro e Rodríguez foram planejados “por fugitivos da justiça venezuelana que permanecem no interior da Embaixada”, referindo-se aos seis asilados venezuelanos opositores ao governo Maduro e membros da coalizão Plataforma Unitária, de extrema direita, que alegam serem alvos de perseguição e estão sob proteção do governo de Javier Milei, presidente da Argentina.
Por sua vez, o governo brasileiro ainda não emitiu resposta oficial sobre a revogação. Anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que havia recebido “com surpresa” o comunicado do governo da Venezuela sobre sua intenção de revogar o consentimento para que o país represente os interesses diplomáticos da Argentina em Caracas.
O Itamaraty afirmou em nota que “permanecerá com a custódia e a defesa dos interesses argentinos até que o governo argentino indique outro Estado aceitável para o governo venezuelano para exercer as referidas funções”, de acordo com o que estabelecem as Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e sobre Relações Consulares.
O documento ainda ressaltou “a inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina” na capital venezuelana.
Crise em torno da embaixada
O comunicado venezuelano veio em meio ao impasse político após as eleições presidenciais de 28 de julho, vencidas por Nicolás Maduro com 51,2% dos votos segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após auditoria das atas eleitorais, mas contestadas pela oposição de extrema direita, liderada por María Corina Machado e o ex-candidato da Plataforma Unitária à Presidência, Edmundo González Urrutia.
Por meio das redes sociais, os opositores refugiados na sede diplomática argentina informaram que forças de segurança venezuelanas cercaram a embaixada na noite da última sexta-feira (06/09) e descreveram a situação como um suposto “cerco” de Maduro.
“Cortaram o serviço de eletricidade da embaixada argentina em Caracas, que atualmente está sitiada por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) e outras forças de segurança do Estado”, informou o ex-deputado Omar González.
Já segundo Pedro Urruchurtu, coordenador internacional de Corina Machado e também em asilo na embaixada, haviam agentes encapuzados e armados no local que teriam permanecido até a manhã deste sábado.
A gestão da sede diplomática argentina estava com o Brasil desde o fim de julho, quando o governo venezuelano emitiu uma ordem de retirada dos representantes argentinos no país porque Milei e seus representantes não reconheceram a reeleição de Maduro no pleito de 28 de julho.
Em agosto, a bandeira brasileira foi hasteada na embaixada, após o governo Lula ter manifestado sua disposição de assumir a representação diplomática e consular da Argentina em Caracas.
(*) Com Ansa