O jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, avaliou nesta terça-feira (30/07) que o Brasil não pode demorar para reconhecer vitória de Nicolás Maduro na Venezuela.
A fala foi durante a exposição no 20 MINUTOS ANÁLISE, quando Altman comentava sobre o pleito venezuelano do último domingo (28/07) que reelegeu Maduro como presidente. Para ele, a postura do governo Lula é “baseada na prudência”, levando em consideração seu papel de mediador internacional.
Contudo, Altman avalia que seria essencial uma posição “mais rápida e firme” do Brasil para neutralizar a extrema direita venezuelana.
“Se o Brasil adotasse mais rapidamente a posição de reconhecimento da vitória de Nicolás Maduro, ajudaria muito a debilitar a ofensiva golpista em curso na Venezuela”, declarou o jornalista, que acompanhou in loco o pleito presidencial.
Isso por que, apesar do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela oficializar na última segunda-feira (29/07) a vitória de Maduro com 51,2% dos votos, equivalente a 5,1 milhões, o Brasil ainda não reconheceu.
A oposição Plataforma Unitária, na figura de Edmundo González Urrutia e María Corina Machado, denunciou sem apresentar provas que o processo foi fraudado. A acusação infundada da extrema direita levou à realização de uma operação para desestabilização da situação política na Venezuela e tentativa de golpe, segundo Altman.
“Grupos de opositores montaram mais de 60 pontos de bloqueio, chamados guarimba, fechando ruas, inclusive o acesso ao aeroporto. Queimam pneus, impedem a passagem de carros, atacam instituições, edifícios públicos, símbolos e dirigentes chavistas”, relatou Altman, comparando a violência ao ataque à Praça dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023 e ao ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.
Para o jornalista, o reconhecimento da vitória de Maduro pelo Brasil, México e Colômbia faria os EUA recuar, “de forma que não apostaria na extrema direita como fizeram no passado com Juan Guaidó [que se autodeclarou presidente em 2019], neutralizando os próprios extremistas da Venezuela”.
O governo brasileiro chegou a emitir uma nota pelo Ministério das Relações Exteriores elogiando o “caráter pacífico” do pleito, mas dizendo aguardar os “dados desagregados por mesa de votação” do CNE para reconhecer a candidatura vitoriosa.
Altman caracteriza o comunicado do Itamaraty como “muito ruim”, mas pode ser explicado diante do papel internacional que exerce como mediador, em especial na América Latina, e da coalizão de forças na política interna brasileira.
“O Brasil sempre tenta se apresentar no mundo como um mediador. Assim, em vez de tomar uma posição unilateral como fizeram praticamente todos os países do BRICS, preferiram aguardar o desfecho da apuração e as atas. É uma posição mais prudente, mantendo uma possibilidade maior de moderação. Outro aspecto para essa demora são assuntos internos da política brasileira. O governo Lula sabe que a defesa da legalidade do governo Maduro pode ter efeitos internos ruins para a frente ampla, que compõem seu governo e é abertamente antichavista”, pontua.
Veja o 20 MINUTOS ANÁLISE sobre a eleição venezuelana: