Dez candidatos estão na disputa das eleições presidenciais da Venezuela, que ocorrem neste domingo (28/07). No entanto, o pleito está centrado em dois candidatos que antagonizam os debates.
De um lado, a continuidade do processo conhecido como Revolução Bolivariana, representado pelo presidente Nicolás Maduro. Do outro, um giro à direita que mudaria o curso político do país, na figura do ex-diplomata Edmundo González Urrutia.
Correndo por fora, outros oito opositores – entre nomes desconhecidos e perfis com fama nacional – terminam de compor o cardápio eleitoral que mais de 21 milhões de venezuelanos aptos a votar poderão escolher nas urnas neste domingo.
Nicolás Maduro
O atual presidente é do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Em janeiro, ele apresentou o que seria o seu programa de governo para uma próxima gestão. Chamado de “7 Transformações”, o documento propõe o desenvolvimento em sete áreas. Os eixos estão divididos em economia, social, política, meio ambiente e relações internacionais, além de dois tópicos mais conceituais: expandir a doutrina bolivariana e aperfeiçoar a convivência cidadã.
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De acordo com o presidente, as transformações são necessárias para o país “se transformar em uma potência definitiva”. Outra proposta é ampliar a extração de petróleo. Depois de um período de oito anos de sanções impostas pelos Estados Unidos contra a indústria petroleira, a Venezuela voltou a ampliar a produção do produto e, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), chegou a 922 mil barris por dia em junho. A meta do governo é chegar a 2 milhões já em 2025.
Maduro também propõe aumentar os programas sociais do governo chamados de Grandes Missões, projeto de políticas públicas desenvolvido ainda nos governos de seu antecessor, o ex-presidente Hugo Chávez, que prestam assistência social em distintos níveis como alimentar, escolar e de moradia.
Ex-motorista de ônibus e servidor público, o presidente venezuelano começou a sua carreira política como deputado constituinte em 1999. Depois se tornou deputado federal e foi eleito presidente do Parlamento em 2005. Em 2006, foi escolhido como ministro das Relações Exteriores de Chávez e ocupou o cargo até 2012.
Neste ano, concorreu como vice-presidente na chapa de Chávez e os dois venceram a disputa. Com a morte do ex-presidente em 2013 e a convocação de novas eleições, Maduro foi eleito presidente em 2013 e reeleito em 2018, em um contexto de crise econômica agravada pelo bloqueio dos Estados Unidos.
Edmundo González Urrutia
Já o principal opositor da disputa tem carreira diplomática. Trabalhou no Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e foi embaixador do país na Argélia e Argentina. Ele apresentou poucas propostas concretas durante a campanha. Nos comícios e entrevistas, Urrutia foca no enfrentamento ao chavismo e na possibilidade de uma transição de governo.
A única área que Edmundo trata com mais objetividade é justamente aquela em que fez carreira. Nas relações exteriores, o ex-embaixador promete se aproximar dos Estados Unidos e deixar de lado os países que a Venezuela fez convênios nos últimos anos. Rússia e Irã são alguns dos laços que ele pretende romper se chegar à Presidência.
No começo da campanha, Urrutia se recusou a participar de comícios e quem era a responsável por tentar popularizar o nome do ex-embaixador era María Corina Machado. Acompanhada de uma foto do candidato, ela organizou passeatas em diferentes cidades para apresentá-lo aos eleitores.
Inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana, ela é o nome forte da oposição e se manteve na disputa até o fim do registro eleitoral. Como não podia se candidatar, tentou emplacar Carina Yoris, uma desconhecida professora universitária, em seu lugar, mas não recebeu apoio de outros grupos da oposição. O governador de Zulia e então candidato do Un Nuevo Tiempo, Manuel Rosales, passou a ser o adversário de uma queda de braço da direita que acabou sendo vencida por Machado.
Foi então que a ultraliberal decidiu apresentar Urrutia como “seu” candidato presidencial, em uma campanha marcada pela forte presença de Maria Corina em comícios, entrevistas e materiais de campanha, enquanto o postulante oficial aparece de maneira coadjuvante.
Oposição impedida de concorrer na Venezuela?
Se Maduro e Urrutia ocupam o centro das atenções neste momento, outros oito candidatos correm por fora na disputa e, segundo pesquisas, dificilmente darão a volta por cima.
O candidato Antonio Ecarri hoje é o terceiro nome na corrida eleitoral. Fundador do partido Aliança Lápiz, diz ser um “candidato de centro”, que não está alinhado nem ao governo, nem à extrema direita. Afirma ser um candidato que oferece “tranquilidade” e um “caminho seguro” para o país. Apesar de não ter apresentado um plano de governo, prometeu criar restaurantes populares em todo o país, aumentar os salários a partir da ajuda de organismos multilaterais e acabar com o Imposto sobre Grandes Transações Financeiras.
Luis Eduardo Martínez é o candidato da Ação Democrática (AD). Ele é deputado e reitor da Universidade Tecnológica do Centro. Disse que vai “transformar a Venezuela” e prometeu acabar com a reeleição indefinida. Ele tem como foco o combate à corrupção e prometeu aumentar o salário mínimo para US$ 200. Em entrevistas, disse também ser contra as sanções impostas pelos Estados Unidos e afirmou que vai fazer uma reforma constitucional.
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O deputado José Brito se candidatou como representante dos partidos Primeiro Venezuela, Min-Unidade e Unidade Visão Venezuela. Entre seus objetivos estão a “estabilidade política e o desenvolvimento econômico”. Tem a ideia de criar um Fundo Soberano que receberá o excedente da produção de petróleo e gás no país. O fundo será usado para investir no mercado financeiro internacional e sustentar a economia nos momentos de queda do preço do barril de petróleo. Disse que vai centrar a economia em um eixo petroquímico.
O ex-prefeito Daniel Ceballos é candidato do partido Arepa. Ele chegou a ser preso em 2014 por apoiar as guarimbas – protestos violentos organizados por setores da oposição em 2014 e 2017. Disse que vai priorizar o “resgate econômico e a liberdade dos presos políticos”. Prometeu também acabar com a possibilidade de reeleição ilimitada. Também foi deputado no Estado de Táchira e disse que será uma “alternativa” para reconstruir o país.
Javier Bertucci é pastor evangélico e deputado pelo partido El Cambio. Em campanha nas ruas da cidade de Palo Negro, no Estado de Aragua, disse que seu governo se guiará por três eixos: recuperação econômica, restauração do sistema de saúde e recuperação da educação para que a Venezuela seja um “país de primeiro mundo”. Também fundou o movimento Evangelho Transforma. Foi candidato nas últimas eleições presidenciais, em 2018, recebendo 10,82% dos votos. Disse que vai buscar a “reunificação e a tolerância no país”.
O comediante Benjamín Rausseo é candidato da Confederação Nacional Democrática (Conde). Ele é empresário e humorista e chegou a se inscrever para as eleições de 2006, mas não participou. Em entrevista ao jornalista Luis Olavarrieta, disse que vai propor a venda de 49% das ações da estatal petroleira PDVSA para “capitalizar recursos”. Segundo ele, se eleito, será feito um estudo para implementar um salário mínimo de US$ 300 ou US$ 400.
Claudio Fermín é ex-prefeito do município de Libertador e candidato pelo partido Soluções pela Venezuela. Promete colocar professores e industriais para comandar órgãos do Estado. Durante a pré-campanha, disse que o “mais importante” é criar um governo de “unidade e entendimento”. Além de prefeito, já foi deputado federal e disputou as eleições presidenciais de 1993, perdendo para Rafael Caldera com 23% dos votos. Segundo ele, a Venezuela está imersa no conflito e na hostilidade e disse que vai buscar “entendimentos entre os diferentes lados”.
Enrique Márquez é candidato do partido Centrados, foi deputado e vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Apresentou quatro eixos para o seu governo: transição democrática, acabar com a reeleição, reinserir a economia no mercado internacional e um debate amplo entre todos os candidatos. Disse que buscará o voto de “cada venezuelano sem se considerar dono da verdade” e que o país não precisa mais de “dirigentes políticos que perderam a sensibilidade”.
Outros três candidatos se inscreveram, mas desistiram de participar: Manuel Rosales, Juan Carlos Alvarado e Luis Ratti. Com isso, as eleições de 2024 terão o 3º maior número de concorrentes em uma disputa para presidente dos últimos 31 anos. Isso porque, desde 1993, só dois pleitos tiveram mais participantes do que o deste ano: o que foi realizado em 1998, com 11 candidatos, e o de 2006, que contou com 14 candidatos.
Como funciona o sistema eleitoral na Venezuela?
A eleição para presidente na Venezuela tem apenas um turno. Ganha quem tiver o maior número de votos. O mandato para o presidente é de seis anos. No país, não há limite de reeleição para presidente. O atual chefe do Executivo é Nicolás Maduro, que concorre à reeleição para o 3º mandato. Antes dele, Hugo Chávez também foi eleito três vezes, mas morreu logo no início de sua 3ª gestão, em 2013.
Para votar, é preciso ter ao menos 18 anos e o voto não é obrigatório no país. Assim como o Brasil, a Venezuela também usa a urna eletrônica, mas a diferença é que no sistema venezuelano o voto é também é impresso. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano contratou uma empresa em 2004 que desenvolveu e implementou mais de 500 mil máquinas e treinou 380 mil profissionais para operara-las.
O procedimento é simples. Os centros de votação são em escolas públicas. O eleitor entra na sala de votação, valida sua biometria e registra o voto na urna eletrônica. Ele recebe o comprovante impresso do voto, confere se está correto e o deposita em uma outra urna, onde ficam armazenados os votos em papel. Quando a votação é encerrada, o chefe da seção imprime o boletim de urna e faz a contagem dos votos impressos para conferir se estão de acordo.