O presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, negou nesta sexta-feira (16/08) que a Venezuela, governada por seu homólogo Nicolás Maduro, esteja vivendo um regime ditatorial. Pelo contrário, ressaltou que o país caribenho é “interessante para o Brasil”, destacando os benefícios da parceria comercial e política entre as nações.
“É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas nesse mundo. Acho que a Venezuela é interessante para o Brasil. É um país que tem quilômetros de fronteira com o Brasil, um país com o qual o Brasil chegou a ter quase R$ 5 bilhões de superávit comercial. É um país que pode ser um grande parceiro na construção de uma força política”, pontuou o mandatário brasileiro durante uma entrevista à Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde cumpre agenda.
Lula criticou que o “mundo chamado democrático”, sob a hegemonia da União Europeia e dos Estados Unidos, não agiu “corretamente” com a Venezuela. O presidente chegou a mencionar que, no passado, as nações hegemônicas foram responsáveis pelo “absurdo” na nomeação de “um tal de Guaidó” à Presidência venezuelana.
“Eles elegeram um tal de Guaidó para ser presidente da Venezuela. Só para você ter ideia da dimensão do absurdo. A reserva de ouro que a Venezuela tinha na Inglaterra, de 31 toneladas, foi dada sob a guarda desse Guaidó. Ele não era presidente”, disse o mandatário, acrescentando que, no momento do julgamento político, os países ocidentais foram precipitados.
“Eu disse aos meus amigos na França, ao Macron, eu disse ao Olaf Scholz, na Alemanha: vocês não poderiam de pronto condenar o cara [Maduro]. Vamos abrir um diálogo, tentar conversar”, revelou.
Durante a entrevista, o chefe de Estado brasileiro enfatizou que as eleições que reelegeram Maduro, em 28 de julho, correram bem, inclusive, sem nenhum impedimento da Polícia Rodoviária Federal, como foi o caso no Brasil. No entanto, voltou a expressar que apenas reconheceria o resultado eleitoral com a apresentação das atas.
“O que acontece é que a oposição logo diz ‘ganhei’. E o Maduro logo diz ‘ganhei’. Mas ninguém tem prova”, criticou.
No dia anterior, pela primeira vez em público, o presidente brasileiro sugeriu a realização de novas eleições na Venezuela como alternativa para superar a crise política instaurada no país pela oposição de extrema direita, liderada por María Corina Machado e o candidato Edmundo González Urrutia, que acusa Maduro por fraude eleitoral.
A ideia de um novo pleito havia sido levantada, a priori, pelo assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, e já estava sendo sondada nos bastidores do Planalto, conforme a apuração de Opera Mundi.
“Eu fico torcendo para que a Venezuela tenha um processo de reconhecimento internacional. E depende única e exclusivamente do comportamento da Venezuela. A oposição sabe disso. A oposição não gostou da ideia que eu falei [de novas eleições], Maduro também não gostou”, afirmou.
Na quinta-feira (15/08), horas depois do posicionamento brasileiro, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, com o qual Lula, junto com Andrés Manuel López Obrador, do México, compõe a tríade de nações latino-americanas que media a crise venezuelana, também concordou que uma segunda disputa eleitoral seria uma saída para o país caribenho.