O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse nesta sexta-feira (09/08) que mantém uma comunicação permanente com Brasil, Colômbia e México. A posição do mandatário vem um dia após os três países publicarem uma segunda nota conjunta sobre a crise que foi desencadeada após as eleições presidenciais venezuelanas.
“Mantenho uma comunicação permanente com Brasil, Colômbia e México. Vocês nunca vão me ver comentar sobre assuntos de outros países. Temos uma grande responsabilidade nas negociações de paz da Colômbia e nunca comentamos sobre isso, praticamos o respeito a outras nações e a autodeterminação dos povos”, afirmou o chavista, reeleito para um novo mandato.
Os governos de Brasil, Colômbia e México emitiram uma nota nesta quinta-feira (08/08) pedindo que os resultados eleitorais da Venezuela não sejam divulgados pela Justiça do país, mas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O comunicado vem logo depois da judicialização do processo eleitoral do país. O CNE denunciou que um ataque hacker teria atrasado a contabilização dos votos e a divulgação dos resultados detalhados por mesa eleitoral. A Justiça então passou a investigar a situação.
O presidente também falou sobre uma ligação que estava agendada para acontecer com os presidentes dos outros três países nessa semana. Segundo Maduro, ele estava esperando a ligação, mas que foi cancelada pela agenda dos outros líderes. “Estou 24 horas disponível para conversar”, disse, prometendo que essa conversa ainda vai acontecer.
A relação com os Estados Unidos também foi assunto da declaração de Maduro. Ele pediu que os Estados Unidos respeitem a Venezuela e disse que hoje há um “vazio de poder” no país, o que dificultaria essa diplomacia.
“A relação com os Estados Unidos não é fácil porque há um vazio de poder. O presidente Joe Biden, por questões de saúde, deu um passo histórico. Me parece um passo valente de Biden, eu respeito o presidente Biden, o conheço. A Kamala eu não conheço. Agora, não é fácil falar com alguém dos Estados Unidos. Nós recebemos três chamadas diárias de diferentes órgãos dos Estados Unidos mas nenhuma delas aparece com um pedido oficial. Deste lado não tem problema. Se me pergunta o que quero? Falar, dialogar”, disse.
Ele pediu também que os diálogos retomados em julho continuem respeitando o acordo assinado no Catar no final de 2023. O acordo feito entre os dois países em Doha determinou que Washington liberasse o empresário Alex Saab e, em troca, Caracas anunciou a libertação de 10 norte-americanos presos no país. As conversas foram mediadas pelo governo catari. As duas partes também falaram sobre a derrubada das sanções e questões migratórias.
Justiça e eleições
As declarações do presidente se deram depois do depoimento de Maduro no Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). A Justiça venezuelana convocou todos os candidatos para prestar depoimento sobre o processo eleitoral do país. A investigação partiu da denúncia de ataques ao sistema eleitoral venezuelano feitas pelo próprio presidente. O CNE denunciou uma interferência no sistema eletrônico durante a apuração dos votos que teria impedido a transmissão dos resultados para a sistematização. O órgão afirmou que isso está atrasando a divulgação dos resultados e das atas eleitorais e apresentou as provas à Justiça.
O único que não compareceu para depor foi o candidato de oposição Edmundo González Urrutia. Os resultados das eleições foram questionados pela oposição de extrema direita da Venezuela. O grupo liderado por María Corina Machado diz ter acesso a 80% das atas eleitorais – documentos produzidos por cada uma das cerca de 30 mil seções de votação – que comprovariam a vitória de Edmundo González.
Os opositores de Maduro divulgaram em dois sites uma suposta lista das atas eleitorais. Em um deles, o usuário digitava o seu documento de identidade e aparecia supostamente a ata eleitoral da mesa que aquele usuário votou. No outro, havia um compilado com os dados de todas as atas que a oposição afirmava ter.
Mas eles se recusaram a apresentar a relação completa das atas na Justiça venezuelana e nem entraram com processo pedindo a revisão ou a impugnação dos resultados eleitorais. Corina disse que seu candidato, Edmundo González, ganhou o pleito por larga margem, 70% a 30% de Maduro.
O mandatário voltou a comentar a postura da oposição nesta sexta. Ele criticou a ausência de Edmundo na Justiça e reforçou que o que a oposição quer é “promover violência”. Ele enfatizou também que deixou seu foro privilegiado para prestar depoimento. “Aceitei a convocação e me desfiz das minhas imunidades enquanto presidente. Estou aqui como cidadão”, afirmou.
Ele também disse que seu partido, o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), entregou à Justiça todas as cópias das atas que foram recolhidas. Segundo ele, a análise será feita pelos órgãos responsáveis. Ele terminou dizendo que agora é um momento de unificação. “Se um grupo não quiser a mim, tudo bem. Faz parte. Mas queiram a Venezuela, não destruam o país”, disse.