Neste domingo (28/07) milhões de venezuelanos vão às urnas para decidir quem ocupará a Presidência do país pelos próximos cinco anos. Com 10 candidatos disputando o pleito, o atual mandatário do país, Nicolás Maduro, do PSUV, e o ex-diplomata Edmundo González, da coalizão oposicionista Plataforma Unitária Democrática (PUD), são os favoritos.
A maioria das pesquisas preveem a vitória de González, mas o sistema político venezuelano dificulta presságios assertivos. Tomando em conta somente 12 pesquisas realizadas entre junho e julho deste ano, a vantagem do candidato da PUD sobre Maduro varia de 13% a 59,8%. Considerando três pesquisas, todas realizadas em julho (entre os dia 4 e 13), González poderia ter 71,9% dos votos ou 59,1% – uma diferença de 12,8%. Em outras perguntas feitas pelos pesquisadores, a variação também é enorme: na pesquisa Delphos, realizada entre 5 e 11 de julho, 12,8% dizem que tentarão deixar o país se Maduro for reeleito; na Meganálisis de maio, o número mais que triplica: são 41,4%.
Se tomarmos como parâmetro a média das três últimas pesquisas realizadas em eleições anteriores, veremos a repetição dessa dificuldade de previsão no país: em 2018, a diferença entre o que apontavam as pesquisas e o que se apurou foi de -12,2% para Henri Falcón e +42,5% para Maduro; em 2013, as pesquisas apontavam 5,8% votos a menos para Capriles do que o que o candidato recebeu, e 12% menos no caso de Maduro; em 2012, Hugo Chávez teve 9,4% mais votos do que o previsto nas pesquisas, e Capriles 7,1 menos; em 2006, Chávez recebeu 4,9% mais votos que o previsto, e Rosales 8,4% mais.
Além de eventuais interesses de um ou outro lado influindo sobre os institutos de pesquisa, elementos como o abstencionismo (o voto é facultativo na Venezuela), o fracionamento eleitoral, imigração, tamanho das coalizões e as estratégias divergentes no interior da oposição explicam a imprevisibilidade dos pleitos. E estes fatores serão mais uma vez chave na eleição deste domingo.
Com 21 milhões de cidadãos aptos a votar, a Venezuela tem atualmente 7,7 milhões de cidadãos fora do país. No entanto, somente 69 mil se registraram para votar nestas eleições, de acordo com um levantamento da Votoscopio. Segundo uma matéria do El País, se estima em 25% o número de eleitores que não votarão por estarem em países estrangeiros, ao passo que as pesquisas consideram em seus cálculos uma participação média de 70% do eleitorado.
O abstencionismo na Venezuela é, no entanto, um fenômeno muito mais antigo do que a crise migratória: ele explodiu a partir das eleições presidenciais de 1993, nas quais o número de eleitores aptos que não foram votar foi de 39,8%. Nas últimas eleições, já sob efeito da crise migratória iniciada em 2015, o número de abstenções foi de 53,9% do eleitorado.
Levando em consideração o histórico das eleições desde 1998, quando Chávez foi eleito presidente pela primeira vez, o abstencionismo tende a favorecer o chavismo. As eleições mais apertadas para o campo (2012, 2013) coincidiram com um número menor de abstenções: 19,8% e 20,35%, respectivamente. Ao mesmo tempo, nas eleições em que o chavismo venceu por larga margem (1998, 2000, 2006, 2018), o percentual de abstenções foi maior: 36,54%, 43,6%, 25,31% e 53,93%, respectivamente.
Há alguns fatores que podem explicar essa tendência: primeiro, o chavismo é a principal força política organizada do país. Na pesquisa Delphos de julho, 30,6% dos participantes se identificavam como chavistas (16,3% contentes com Maduro e 14,3% descontentes) e outros 39,9% se identificavam com as várias correntes de oposição. Já na Meganálisis de maio, se projetava que 10,5% dos eleitores (2,2 milhões) são militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), enquanto cinco partidos de oposição tinham, conjuntamente, 8,4% dos militantes (1,7 milhões).
Enquanto isso, 80,5% dos eleitores não são militantes de nenhuma organização (17,2 milhões). Já que os números sugerem que o PSUV tem uma base de apoio “duro” maior do que qualquer força de oposição, a abstenção dos eleitores, que tendencialmente vem dos não-militantes, o ajudaria nos pleitos. Além disso, há o fato das eleições venezuelanas serem decididas por maioria simples. Assim, a dispersão dos votos em diversas candidaturas de oposição é uma das forças que ajuda o chavismo, embora todas as eleições desde 1998 tenham sido vencidas com uma porcentagem superior a 50% dos votos.
No caso das abstenções neste domingo serem tão amplas quanto as das eleições de 2018 (53,93%), é provável que Maduro se sagre vencedor mais uma vez. Há, no entanto, uma importante diferença em relação a 2018: embora haja 10 candidatos, nestas eleições Edmundo González disputa sob um amplo pacto de unidade oposicionista, cuja formação favorável a González contou inclusive com a renúncia de dois candidatos: Manuel Rosales e Simón Calzadilla.