A eleição presidencial na Venezuela ocorre neste domingo (28/07) e cerca de 21 milhões de eleitores, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), estão aptos a votar e decidir o futuro do país: de um lado, a continuidade do processo bolivariano representado por Nicolás Maduro; do outro, a oposição com vários candidatos, dentre os quais se destaca a figura de Edmundo González Urrutia, o “candidato tampão” de Maria Corina Machado.
Nome do chavismo, Maduro busca garantir o terceiro mandato consecutivo, o que é permitido pelas leis do país. A Constituição venezuelana não impõe um limite de reeleições ao cargo de Chefe de Estado.
O atual mandatário realizou um campanha de 21 dias marcando sua diferença para com seu principal adversário. Segundo ele, a eleição deste domingo é fundamental para decidir o futuro da Venezuela para os próximos anos e a permanência do chavismo no poder é a fundamental para manter o país em paz: “Paz ou guerra? Fascismo ou democracia popular? Ou haverá paz, ou intranquilidade. Vamos dar uma surra para que eles não se levantem mais”.
Apesar das críticas duras à oposição, Maduro encerrou sua campanha prometendo iniciar uma nova era de diálogos no país “sem interferência estrangeira”, em diversas áreas, como econômica, social, cultural e política, e envolvendo toda a sociedade.
“Não é um diálogo de elites. É um diálogo político para desenvolver a democracia, a Constituição, com os cidadãos comuns, com as forças do povo […] para aprofundar a democracia popular protagonista e a democracia direta com o povo”, disse.
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As inúmeras pesquisas eleitorais divergem sobre o cenário do pleito, o que para Gilberto Maringoni é um indicativo de que a eleição está “muito disputada”.
A Opera Mundi, o professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC) disse que a diferença de resultado pode ser pequena, destacando que isso pode influenciar o perdedor a declarar fraude, o que já estaria sendo sinalizado pela oposição.
“Existe uma tensão política, que é essa tensão própria desse clima pré-eleitoral. O presidente Maduro denunciou as sabotagens que a direita pode fazer, caso vença, quando ele denuncia a possibilidade de haver um banho de sangue na Venezuela, que é uma denúncia que ele está alertando a população para o que pode acontecer, caso a direita vença, se a direita tome essa iniciativa”, disse.
O também coordenador do Observatório de Política Externa (OPEB) apontou que a fala de Maduro amplamente divulgada na imprensa brasileira sobre os riscos de um “banho de sangue” caso a direita chegue ao poder foi interpretada erroneamente. Maringoni explica que Maduro não estava fazendo uma ameaça, mas sim denunciando os riscos que a Venezuela corre com um governo de extrema direita: “ele denuncia uma situação muito grave que pode acontecer na Venezuela. Então, não tem uma tensão provocada pelo chavismo”.
Ainda assim, Maringoni enxerga alguns desafios para Maduro. Um desses é a “legitimidade do seu mandato”, mas não diante das forças internas, mas também das externas. De acordo com o especialista, a direita venezuelana está “articulada com a extrema direita mundial”.
“Não é uma extrema direita qualquer, mas também é uma extrema direita umbilicalmente ligada a Washington”, explica Maringoni. “Maria Corina Machado tem ligações muito fortes externamente, isso vai se potencializar e vai aumentar também conforme o resultado das eleições nos Estados Unidos. Em caso de vitória da extrema direita, nós vamos ter uma tragédia. Vai mudar a correlação de forças no continente”, afirmou.
O cientista político argentino Matías Capeluto, a questão econômica ainda é um tema desafiador ao governo Maduro. Mesmo com a recuperação recente da economia venezuelana, ele afirmou a Opera Mundi que a Venezuela precisa ampliar seu fluxo comercial. Na sua opinião, uma adesão do país aos BRICS seria “boa alternativa para contornar as sanções dos Estados Unidos e, assim, fortalecer seu posicionamento regional e global”.
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Quem é o candidato mais forte da oposição?
Ao todo, 10 candidatos estão disputando a corrida eleitoral venezuelana de 2024. Mas, além de Maduro, é Edmundo Gonzáles Urrutia que está no centro das atenções.
Indicado a priori como um “candidato tampão”, Urrutia se recusou no começo da campanha a participar de comícios, ficando a cargo de Maria Corina Machado o papel de tentar popularizar o nome do representante da Plataforma Unitária.
A própria Corina Machado não foi indicada a disputar o cargo, já que está inabilitada por 15 anos pela Justiça da Venezuela. Ela ainda tentou emplacar Corina Yoris no lugar, sem sucesso, já que sua aliada não angariou apoio de demais grupos da direita.
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Urrutia tem uma carreira diplomática pouco conhecida no país. Exerceu funções na chancelaria venezuelana e foi embaixador do país na Argélia e Argentina.
Ao encerrar a campanha, citou Javier Milei, presidente argentino, negativamente, para dizer que não será “privatizador”. Porém, defendeu “maior participação do setor privado” na economia do país.
“Nosso plano é muito claro, pegamos elementos do plano de governo de María Corina, mas também do Plano Nacional de 2019 e de outros projetos programáticos anteriores, para criar uma proposta equilibrada, que não renega a importância das empresas estatais”, disse candidato opositor.
Como funciona o processo eleitoral
A Venezuela é um regime presidencialista, ou seja, o presidente tem função de chefe de Estado e também de governo. O mandatário do país é eleito através de um pleito direto e de turno único, ganha quem tiver o maior número de votos. Não há segundo turno.
Para votar, é preciso ter ao menos 18 anos. O voto não é obrigatório. Assim como o Brasil, o país também utiliza urnas eletrônicas, mas lá o voto é também impresso.
Após o eleitor realizar seu voto e validar sua biometria também, o registro na urna eletrônica é impresso e pode ser conferido pelo votante. Conferido, o comprovante do voto é depositado em outra urna, local que ficam armazenados os recibos.
Quando encerrada a votação, ambas as urnas podem ser checadas.