“Joe Biden é um bom homem e um bom presidente. Ele deve se retirar da corrida” foi o título do texto opinativo de Thomas Friedman, colunista do jornal norte-americano The New York Times e amigo pessoal do presidente dos Estados Unidos, sobre o primeiro debate, realizado na noite da última quinta-feira (27/06), entre o candidato democrata e seu oponente Donald Trump na corrida eleitoral pela Casa Branca.
O desempenho de Biden no debate promovido pela CNN, com voz fraca e rouca, gaguejando com mais frequência que o habitual, frases confusas ou repetidas mecanicamente e olhar perdido, causou preocupação no Partido Democrata e dúvidas em seus próprios aliados, como no caso de Friedman.
O jornalista admitiu que o debate o fez chorar, revelando que “Biden não deve concorrer à reeleição” e que, anteriormente, havia considerado que o atual presidente estava “à altura da tarefa, mas claramente não está mais”.
“A família Biden e a equipe política devem se reunir rapidamente e ter a mais difícil das conversas com o presidente, uma conversa de amor, clareza e determinação. O presidente tem que se apresentar e declarar que não concorrerá à reeleição. Se essa é a melhor performance que eles conseguiram extrair dele, é hora de Joe manter a dignidade que ele merece e deixar o palco no final deste mandato”, escreveu o colunista.
Em sua análise, a substituição de Biden como candidato democrata às eleições presidenciais de 2024 deveria inclusive ser uma exigência do Partido Republicano, caso “seus líderes tivessem um pingo de integridade”.
Saber que essa demanda não será pautada pelo partido de Trump “torna ainda mais importante que os democratas coloquem os interesses do país em primeiro lugar e anunciem que um processo público começará para diferentes candidatos democratas competirem pela nomeação”.
Friedman não ignora a convenção democrata, evento que lança de forma oficial o candidato que representará o partido nas eleições e que acontece a partir de 19 de agosto em Chicago, e aponta que isso pode ser “caótico e confuso”. Assim, sugere que os delegados “se reúnam rapidamente e nomeiem um candidato de consenso”.
“Se a vice-presidente Kamala Harris quiser competir, ela deveria. Mas os eleitores merecem um processo aberto em busca de um candidato presidencial democrata que possa unir não apenas o partido, mas o país, oferecendo algo que nenhum dos dois homens fez naquele palco de Atlanta na noite de quinta-feira”, afirma.
O colunista do NYT apela pela substituição de Biden por um novo líder para os Estados Unidos diante das “maiores perturbações tecnológicas e climáticas da história humana”. “Um Joe Biden mais jovem poderia ter sido esse líder, mas o tempo finalmente o alcançou. E isso foi dolorosa e inescapavelmente óbvio na quinta-feira”.
Friedman não deixa sua amizade e aprovação do mandato de Biden fora do texto, lembrando que são próximos desde quando viajaram para o Afeganistão e Paquistão após o 11 de setembro de 2011, quando ocorreu o ataque contra o World Trade Center, em Nova Iorque.
“Se ele coroar sua Presidência agora, reconhecendo que, devido à idade, não está preparado para um segundo mandato, seu primeiro e único mandato será lembrado como uma das melhores presidências da nossa história”, opinou ainda.
Para ele, a administração de Biden “salvou” os Estados Unidos de um segundo mandato de Trump, além de “promulgar uma legislação importante e crucial para enfrentar as revoluções climáticas e tecnológicas”.
No entanto, para ele, a retirada de Biden do processo eleitoral daria aos Estados Unidos “a maior chance possível de dissuadir a ameaça de Trump em novembro”.
Outras críticas democratas
O mau desempenho do presidente norte-americano em seu primeiro debate foi reconhecido inclusive pela vice-presidente Harris, que em entrevista à CNN e à MSNBC, após o evento, falou sobre “não ter dúvidas do começo lento”. Ela tentou suavizar a performance de Biden ao declarar que o debate “teve um final forte”.
Já Maria Shriver, jornalista e ex-primeira-dama da Califórnia, escreveu em suas redes sociais que “esse não foi o melhor desempenho de Biden”, mas ainda pretende votar nele.
“Eu amo Joe Biden. Eu sei que ele é um bom homem. Eu sei que o coração dele é bom. Sei que ele é dedicado ao nosso país e está rodeado de gente boa. Esta noite foi de partir o coração em muitos aspectos. Este é um grande momento político. Há pânico no Partido Democrata. Vai ser uma longa noite”, afirmou ainda
Nicholas Kristof, outro colunista do jornal New York Times, expressou opinião semelhante à de Friedman sobre a substituição de Biden pelo Partido Democrata.
Divulgando seu artigo de opinião sobre o debate, Kristof afirma que Biden “deveria coroar sua longa carreira no serviço público com mais um passo para o bem da nação: retirar-se da corrida presidencial e lançar a escolha do candidato democrata na convenção”.
Em entrevista à MSNBC, a ex-senadora do Missouri Claire McCaskill também disse que Biden precisava “tranquilizar os Estados Unidos de que estava à altura do cargo na sua idade, e falhou”.
(*) Com Ansa