Um dia após a tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump durante comício na Pensilvânia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu aos americanos neste domingo (14/07) que rejeitem a violência política. Em um raro discurso feito em seu gabinete na Casa Branca, Biden disse que é hora de baixar a temperatura da política hostil dos Estados Unidos.
“Todos nós agora enfrentamos um tempo de teste à medida que a eleição se aproxima,” disse Biden. “Não há lugar nos EUA para esse tipo de violência, para qualquer violência. Nunca. Ponto final. Sem exceção. Não podemos permitir que essa violência seja normalizada.”
Biden falou por seis minutos em seu terceiro discurso à nação desde o ataque de sábado à noite, quando um atirador deixou Trump ferido, matou um participante do comício e feriu gravemente dois outros. O apelo pelo fim da violência veio horas depois de o vice-diretor do FBI, Paul Abbate, dizer que houve um crescimento de agressões on-line desde o ataque contra Trump.
“Aqui na América, precisamos sair de nossos silos, onde ouvimos apenas aqueles com quem concordamos, onde a desinformação é desenfreada, onde atores estrangeiros inflamam nossas divisões para moldar os resultados de acordo com seus interesses, não os nossos,” disse Biden.
“Por mais fortes que sejam as nossas convicções, nunca devemos permitir que elas resultem em violência. É hora de nos acalmarmos”, afirmou o presidente, que centrou seu pronunciamento na unidade nacional e na rejeição da violência.
Biden lembrou ainda episódios recentes de violência política, como a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e o ataque contra o marido da ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi. Ele falou ainda sobre a polarização em curso no país e destacou que as diferenças devem ser resolvidas em debates e nas urnas.
“Nós debatemos e discordamos, comparamos e contrastamos candidatos. Mas na América, nós resolvemos nossas diferenças nas urnas, não com balas”, ressaltou.
Investigação em curso
Biden não deu detalhes sobre a investigação do ataque. Antes do pronunciamento, ele havia anunciado que ordenou uma revisão independente dos procedimentos de segurança do FBI e prometeu uma apuração “completa e rápida” sobre o atentado.
O atirador de 20 anos foi morto por agentes do Serviço Secreto em meio a cenas de caos. As autoridades dizem que o motivo ainda não está claro, mas investigam o ataque como possível ato de terrorismo doméstico.
A coordenadora do Serviço Secreto para a Convenção Nacional Republicana que acontece nesta segunda-feira, Audrey Gibson-Cicchino, disse que o atentado não justifica nenhuma mudança no plano de segurança e que os funcionários “estão totalmente preparados”.
Biden avalia rota da campanha após atentado
O atentado do fim de semana foi apenas a mais recente reviravolta em uma campanha que tem sido extraordinariamente instável nas últimas semanas.
Desde o tiroteio, o presidente tem tentado calibrar o caminho político mais assertivo. No pronunciamento, Biden ligou o atentado de sábado a outros incidentes de violência política, desde a morte em 2017 de um contra-manifestante em um comício de supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia, até a insurreição no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores de Trump que buscavam impedir a certificação da contagem do Colégio Eleitoral.
Apesar da disputa eleitoral, tanto Biden quanto Trump pediram calma após o mais grave ataque a um presidente ou ex-presidente dos EUA em mais de quatro décadas.
O presidente disse que teve uma “conversa curta, mas boa” com Trump nas horas após os tiroteios e que estava “sinceramente grato” que o ex-presidente está se recuperando. Já Trump afirmou que é “mais importante do que nunca que estejamos unidos” e acrescentou que os americanos não devem permitir que “o mal vença”.
Biden congelou “todas as comunicações externas” de sua campanha eleitoral e retirou anúncios de televisão após o atentado. Por outro lado, o Comitê Nacional Democrata afirmou que pretende “continuar destacando o contraste” com Trump. Biden indicou que planeja intensificar sua agenda de campanha e disse não ter “nenhuma dúvida” de que os republicanos farão o mesmo quando abrirem a convenção do partido.
Por enquanto, contudo, o presidente adiou uma viagem planejada ao Texas na segunda-feira, onde ele iria falar no 60º aniversário da Lei dos Direitos Civis na biblioteca presidencial de Lyndon B. Johnson. Enquanto isso, Trump chegou na noite de domingo a Milwaukee para a convenção republicana, onde a crítica a Biden e aos democratas certamente será severa.