Um artigo publicado pelo veículo midiático Peoples Dispatch na quarta-feira (11/09), um dia após o segundo debate presidencial dos Estados Unidos, afirmou ser “significativo” que “até mesmo os conservadores” como o empresário Elon Musk, declarado apoiador do candidato republicano Donald Trump, tenham reconhecido uma melhor performance da democrata Kamala Harris.
No entanto, em assuntos como imigração, custos de vida e política externa, incluindo em relação à Rússia e à China, ambos os candidatos “tentaram se posicionar como os mais conservadores”, destaca o texto de Natalia Marques, intitulado Harris and Trump fight over who is the most conservative candidate (“Harris e Trump brigam para ver quem é o candidato mais conservador”).
O artigo relata que, em relação às políticas destinadas aos operários norte-americanos, o ex-presidente falhou em atacar sua adversária num “ponto extremamente básico”, ou seja, sobre as condições “terríveis” de trabalho conduzidas pela gestão do atual mandatário Joe Biden.
O texto cita a Pesquisa de Pulso Domiciliar do Censo dos Estados Unidos, que indica que a grande maioria dos trabalhadores norte-americanos tem dificuldade em pagar necessidades básicas, como as despesas domésticas.
“Os preços de mantimentos básicos, como ovos, dispararam sob a administração de Biden. Dezenas de milhões de pessoas, incluindo quase cinco milhões de crianças, foram retiradas dos benefícios públicos de saúde à medida que os serviços públicos adicionais prestados como resultado da emergência COVID-19 foram revertidos”, informa o veículo.
O artigo, no entanto, também critica o programa político de Trump no assunto, uma vez que o republicano, durante sua gestão presidencial, conduziu a transferência de US$ 2 trilhões da classe trabalhadora para os ultra-ricos.
“O governo Trump também supervisionou a dramática má gestão da crise do COVID, que resultou nos EUA com o maior número de mortes registradas pela doença em todo o mundo […] Sem um plano claro sobre como melhorar a vida das pessoas, os conservadores, como Trump, recorrem ao medo sobre imigração e crime para vender sua plataforma política”, destaca o artigo.
O Peoples Dispatch também diz que o debate foi marcado por “comentários extremamente racistas e xenófobos contra os migrantes”, ao revelar que no dia anterior ao confronto, Trump e seu companheiro de chapa, JD Vance, espalharam “informações”, que logo foram desmentidas, referentes a migrantes haitianos comendo animais de estimação de pessoas em Springfield, Ohio.
“Apesar de evitar as alegações racialmente carregadas e infundadas por Trump contra os migrantes, Harris parecia estar tentando superar seu conservadorismo em vez de apresentar um programa que defenda os direitos humanos dos migrantes”, acrescentou o texto.
De acordo com o veículo, os candidatos omitiram o fato de que muitos ingressam nos EUA em decorrência da desestabilização econômica, social e política de seus países de origem impulsionada pelo próprio governo norte-americano, como é o caso das sanções contra a Venezuela, e as políticas de ocupação e exploração no Haiti.
“Os primeiros pontos oficiais de Harris sobre a imigração foram se gabar de que ela é de fato mais dura com os migrantes do que Trump, afirmando: ‘eu sou a única pessoa neste palco que processou organizações criminosas transnacionais pelo tráfico de armas, drogas e seres humanos’”, destacou o artigo.
Sobre a política externa, o Peoples Dispatch considerou que a disputa entre os dois candidatos foi “praticamente a mesma”, ou seja, “uma batalha por quem é mais conservador”. Trump acusou Kamala de “odiar” Israel, acrescentando que “ela nem se encontraria com Netanyahu quando ele fosse ao Congresso para fazer um discurso muito importante”.
Sem levar em consideração os 11 meses de genocídio israelense contra os palestinos na Faixa de Gaza, incluindo a cumplicidade de Washington com as autoridades de Tel Aviv, a vice-presidente garantiu que protegerá o “direito de Israel de se defender”.
O artigo pontua que a mesma postura dos candidatos foi tomada quando levantada a relação envolvendo Rússia e China.
“Qualquer um dos candidatos alegou que o outro era ‘fraco’ em relação aos adversários dos EUA. Trump afirmou que a guerra na Ucrânia nunca teria acontecido se ele fosse presidente, enquanto Harris afirmou que Trump disse a Putin que ‘ele pode fazer o que quiser e entrar na Ucrânia’”.
O Peoples Dispatch acrescenta que o debate eleitoral não contou com nenhum plano político para acabar com as mudanças climáticas.
“A campanha de Harris provavelmente receberá um impulso significativo com este debate, mas é improvável que a impeça de ceder cada vez mais à retórica mais direitista da política, enquanto continua fazendo pouco para lidar com as principais crises enfrentadas pelos trabalhadores enquanto atua como vice-presidente”, indica o veículo.