Após a vitória de Donald Trump, do Partido Republicano, na eleição presidencial dos Estados Unidos da última terça-feira (05/11), grupos de resistência no Oriente Médio classificados como terroristas pelo país norte-americano e combatidos por Israel, um dos maiores parceiros militares de Washington, se pronunciaram.
O Hezbollah declarou acreditar que o líder de extrema direita terá mais autoridade do que a candidata democrata Kamala Harris para frear a guerra de Israel no Líbano.
“Sabemos que a política norte-americana no Oriente Médio de apoio a Israel não mudará entre republicanos e democratas, mas acreditamos que Trump terá mais força que Biden ou Harris para frear o criminoso Netanyahu”, disse a fonte à agência italiana ANSA por um dirigente do grupo que preferiu se manter no anonimato.
Israel conduz há cerca de um mês e meio uma ofensiva contra o Hezbollah no Líbano que já matou aproximadamente duas mil pessoas e eliminou líderes do grupo, incluindo o líder Hassan Nasrallah, vítima de um bombardeio em Beirute e substituído recentemente por Naim Qassem.
Já o Hamas, alvo da guerra de Israel na Faixa de Gaza há mais de um ano, exortou Trump a “aprender com os erros” do atual presidente Joe Biden, amplamente criticado pela política de apoio a Tel Aviv durante seu mandato, segundo uma declaração citada pela agência Reuters.
Além disso, Basem Naim, membro do gabinete político do grupo palestino, disse à AFP que o “apoio cego dos EUA” a Israel “deve acabar”, uma vez que se dá “em detrimento do futuro do nosso povo e da segurança e estabilidade da região”.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), oficialmente responsável pelo governo de Gaza – apesar da falta de estabelecimento de um Estado palestino – parabenizou Trump pela vitória nesta quarta-feira (06/11).
Ao desejar “sucesso” ao republicano, o líder palestino expressou sua aspiração de trabalhar com Trump pela paz e segurança na região, enfatizando o comprometimento do povo palestino com a busca pela liberdade, autodeterminação e condição de Estado, de acordo com o direito internacional.
“Permaneceremos firmes em nosso compromisso com a paz e estamos confiantes de que os Estados Unidos apoiarão, sob sua liderança, as aspirações legítimas do povo palestino”, declarou Abbas.
Apesar das expectativas do representante da ANP, durante sua Presidência entre 2017 e 2021, Trump desenvolveu proximidade com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de forma que transferiu a embaixada norte-americana do país de Tel Aviv para Jerusalém, derrubando décadas da política diplomática sobre os conflitos étnicos-religiosos na região.
Durante seu mandato, o ex-presidente também reconheceu o controle de Israel sobre as Colinas de Golã ocupadas na Síria e retirou-se do acordo nuclear com o Irã, todas exigências da agenda israelense, segundo a emissora Al Jazeera.
Desde o início do mais recente conflito no enclave palestino, o líder de extrema direita norte-americano realizou afirmações controversas, tanto em apoio à ofensiva contra o povo palestino, quanto em críticas ao governo Netanyahu.
Contudo, mais recentemente gabou-se da proximidade com o premiê de Tel Aviv. Desde a campanha eleitoral, analistas preveem que Netanyahu estaria adiando as oportunidades de cessar-fogo em Gaza à espera da vitória de Trump, que poderia criar um cenário mais favorável a Israel no acordo.
Por sua vez, o secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina, Mustafa Barghouti, admitiu em entrevista à Al Jazeera que a vitória republicana “traz muitos desafios”, mas que Netanyahu pode enfrentar “um presidente mais forte” do que Biden.
“Taticamente, Netanyahu pode enfrentar um presidente mais forte, e talvez isso o torne menos capaz de manobrar. Porque quando Trump disser para ele parar a guerra, ele terá que pará-la. Ele não poderá brincar com ele”, declarou à emissora.
Contudo, Barghouti apontou dois riscos para a região palestina com a volta do republicano à Casa Branca. “Há muita pressão do lado de Trump para apoiar o terrível plano de Netanyahu de anexar a Cisjordânia, o que significaria o assassinato total de qualquer possibilidade de paz ou da chamada solução de dois Estados”, disse ele.
“O segundo risco é permitir a limpeza étnica de Gaza e permitir a continuação deste terrível genocídio em Gaza e no Líbano”, afirmou.
(*) Com Ansa, Wafa, e informações da Al Jazeera