A organização estadunidense Socialistas Democráticos da América (em inglês: Democratic Socialists of America, DSA) cobrou nesta quinta-feira (12/09) um posicionamento da candidata democrata à presidência, Kamala Harris, sobre sua política de imigração caso vença as eleições de novembro.
Enquanto a campanha de seu adversário republicano, o ex-presidente Donald Trump, é clara em um posicionamento anti-migrantes – a ponto de difundir no debate presidencial a fake news de que imigrantes haitianos estariam se alimentando de animais de estimação – o posicionamento democrata sobre a questão não está explícito.
“Uma das críticas à [Kamala] Harris é que será muito difícil saber quais serão as políticas nesse sentido. Teve muito tempo para apresentar uma plataforma, mas que não ficou muito clara”, aponta Luisa Martínez, que integra o comitê político nacional do DSA.
“Em política é importante entender a diferença entre aquilo que se diz e aquilo que se faz. Não está tão claro se teremos políticas mais amigáveis para os imigrantes no governo de Harris, porque não foi tão utilizada como um ponto de estratégia política, como fez Trump.”
O DSA, que integra a Internacional Progressista, é a maior organização socialista nos Estados Unidos, com mais de 92 mil membros e presença em todo o país. Não se trata de um partido formal, mas sim de uma entidade política com teor ativista, que luta por reformas que empoderem os trabalhadores.
Integrantes do DSA participaram nesta quinta (12/09) de uma conferência virtual organizada pela Fundação Perseu Abramo e o Foro de São Paulo para discutir as eleições presidenciais nos EUA.
Martínez aponta que a pauta da imigração tem sido explorada pela direita norte-americana devido aos postos de trabalho gerados pele Departamento de Segurança das Fronteiras, criado em 2003 por George W. Bush e a quantidade de recursos públicos investida nesse setor desde então, com destaque para a gestão democrata de Barack Obama.
“Bush começou com isso, mas Obama levou ao extremo, deportou 4 milhões de pessoas nos EUA, então há muito dinheiro ao redor dos imigrantes e também é uma ferramenta de propaganda para culpar os estrangeiros pelos problemas que os EUA enfrenta, como a falta de moradia.”
A principal faceta dessa economia da segurança são os centros de detenção, prisões privadas para onde são levados os imigrantes considerados ilegais. Ashik Siddique, co-presidente nacional do DSA aponta que esses centros, que recebem grandes aportes de investimento do governo, são um dos maiores geradores de postos de trabalho em estados fronteiriços.
“Em muitas comunidades esses centros são onde há grande quantidade de postos de trabalho oferecidos pelo complexo militar, que cuida das fronteiras, e isso tem sido parte dessa mudança à direita com o tema da imigração, principalmente nos estados que fazem fronteiras, onde temos muitos latinos e muitas dessas pessoas são empregadas nesses centros de detenção e nenhum outro tipo de investimento nessas comunidades.”
Siddique aposta na mobilização da esquerda e de sindicatos progressistas por investimentos nessas regiões, com foco na economia verdade e na diversidade de investimentos. “Os trabalhadores da indústria automobilística têm defendido uma transição para a economia verde, deixando esse complexo industrial militar. O problema não é que os imigrantes tomem o seu trabalho, mas que existam mais capitalistas explorando os trabalhadores.”